quarta-feira, 15 de dezembro de 2010

Wikileaks Angola: China preocupa EUA

Os Estados Unidos relatam nas suas correspondências diplomáticas secretas, divulgadas pelo Wikileaks, aspectos pouco claros sobre as relações comerciais entre Angola e a China. Por exemplo, empréstimos de biliões de dolares cujos valores exactos não são publicados, o facto da China não comprar o petróleo angolano em mercados abertos, mas sim directamente de empresas exploradoras no terreno. A cerca deste tema a DW conversou com Orlando Castro, analista e jornalista angolano, que entre outras coisas, fala sobre a actuação dos Estados Unidos da América na sequência das relações comerciais com Angola...

 Nádia Issufo: Estarão os EUA demasiado preocupados com as boas relações que a Angola mantém com a  China?
Orlando Castro: Estão obviamente preocupados com a preponderância da China em Angola e em todo o continente africano, mas não deixam de ter alguma razão com essa preocupação. Desde logo porque todos nós sabemos os regimes politícos dos dois países, a China é uma ditadura e Angola não se pode dizer que é uma democracia. Angola aparece nos rankins internacionais como dos países mais corruptos do mundo e portanto estão criadas as condições para que os negócios e empréstimos não obedeçam aos  critérios seguidos no ocidente.

NI: Os documentos publicados pelo Wikileaks sobre os empréstimos chineses a Angola  indicam que não há uma especificação dos montantes,  embora falem em biliões de dolares. Sob o ponto de vista da transparência como interpreta este facto?    
OC: É obvio que não existe transparência porque Angola não é de facto uma democracia e não sendo uma democracia é facil negociar com ditaduras porque são regimes políticos onde a transparência não é considerado um valor importante para a vida em sociedade. Repare que no caso de Angola o clã José Eduardo dos Santos e mais meia duzia de amigos tem em seu poder quase 100% do produto interno de Angola  e portanto todos esses negócios, há uma parte considerada legal e que pode eventualmente, o que não acontece, ser escrutinada por alguém, mas há muito dinheiro que circula debaixo da mesa como é habitual dizer-se. E Angola presta-se a esse serviço exactamente porque são dois regimes muito semelhantes e que não olham a meios para atingirem fins, portanto não há transparência das contas públicas e de muitas outras coisas.

NI: É possível relacionar esta falta de transparência, estes dinheiros que se desconhecem os destinos, a esta decisão que o governo norte-americano tomou recentemente de fechar as contas dos serviços das embaixada angolana nos EUA?  
OC: É evidente que os EUA ao vedarem as contas de algumas embaixadas estão a dar um alerta a Angola de que o sistema político e o sistema de transparência deve ser feito de outra forma. E Angola, estava habituada durante muito tempo a ter luz verde para fazer tudo quanto bem entendia. É evidente que os EUA estão a reagir como uma forma de pressão porque estão a perder terreno. As empresas norte-americanas nos negócios que mantém com Angola, e veja-se o caso de exploração de petróleo em Cabinda, não seguem também modelos transparentes. Portanto os EUA estão a ter um mau perder, porque estão a ver o terreno a  fugir, mas também não são exemplo de exigência de transparência porque se o fossem há muito mais tempo que teriam pressionado Angola a ter um sistema de causa pública muito mais transparente.
Se quiser oiça a entrevista em:
http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html
selecione a emissão da manhã do dia 14 de Dezembro

2 comentários:

  1. Viva,

    E quanto à questão de Cabinda? Será aproveitada?

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  2. Alo,

    Sim, será aproveitada. A DW está só a espera de outras entrevistas para fechar a peça.

    Abraço

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