terça-feira, 29 de novembro de 2011

Vocês que podem que se entendam...

 Foto: Ismael Miquidade
Quando a situação começou a ficar demasiado "grega" na União Europeia, começou também a "saltar" o verniz aos seus dirigentes; começaram as trocas de acusações, a colocação de "etiquetas" no elo mais fraco, e houve até quem cogitou "saltar fora", no parlamento do Reino Unido uma petição para um referendo sobre a permanência do país fracassou em Outubro passado. Pensava alguns integrantes do governo que podiam sobreviver "pendurando-se" ao apoio dos Estados Unidos da América. Os ingleses agora são mudos, e mais ainda, invisiveis!

A Grécia, coitada, se viu entre a espada e a parede. Depois de ter se ter comprometido com a União Europeia em tomar mais medidas de austeridade e outras reformas para sair da banca rota, decidiu ser "democrática" e realizar um referendo para que os gregos escolhessem sozinhos a sua solução. Mas os 27 não gostaram desta democracia. Uma contradição, não?

Por um lado a zona euro, liderada pela dupla Merkel e Sarkozy, não deu sossego ao governo de George Papandreau que tentava deitar água a fogueira em casa. A União Europeia no príncipio falava na falta de credibilidade, hoje já não tem adjectivos para o qualificar. Entretanto a crise política agudizou-se, houve mudança de governo e está agora tudo sob controlo...

E como em tudo hoje, há o efeito contágio. A Itália de Silvio Berlusconi esteve depois na berlinda, também fez promessas a dupla Merkel e Sarkozy, mas esteve sempre na mira deles. O ministro dos negócios estrangeiros da França, Alain Juppé, disse que a Itália tem um "problema de credibilidade" e, por isso, defende a necessidade de se fiscalizar o país para garantir que cumpra os compromissos assumidos.
Nos dois casos, a crise económica desencadeou crise política, claro. A oposição sabe tirar devido proveito disso, e como a manifestação é a palavra de ordem... Berlusconi caiu.

Enquanto isso elo mais forte, Alemanha e França, ditam as regras do jogo e vem-se a nora para gerir tanta confusão. As economias mais desenvolvidas do mundo chegaram a pensar em meter a mão ao dinheiro almeão. Os líderes políticos germánicos e os meios de comunicação social ficaram"preocupados" com a possibilidade do país recorrer às suas reservas de ouro para financiar o Fundo Europeu de Estabilidade Financeira (FEEF).  O governo por seu lado, negou que esta possibilidade tenha sido discutida  na reunião do G-20, em Cannes na última semana, embora assuma que alguns dos participantes questionaram a Alemanha  sobre os direitos de tiragem especial para aumentar a eficácia do FEEF, o que foi rejeitado pelo lado alemão, segundo o governo.
Em suma: estão se a morder! Um espetáculo raríssimo para as as massas, não?
(texto escrito há mais de um mês...)

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

amor amor, edredons a parte!

Já se imaginou a não partilhar o cebertor com o seu marido apesar de dormirem na mesma cama? Refiro-me mesmo a um hábito e não a práticas "isoladas" que caracterizam os dias de brigas, ou de intenso calor.
Pois é, entre alguns alemães é frequente que cada um tenha a sua coberta "individual", mas a cama seja "colectiva". Apanhei um susto quando soube disso. Dizem que um casal é um só? Está teoria não é completamente cheia, alias, acho que a reivindicação que sai com mais frequência da boca dos casais de hoje "preciso do meu espaço" deve ter tido origem neste comportamento...
Ou então os casais alemães não devem brigar... Imaginam como deve ser em dias de zanga? Deve ser muito difícil "fazer" as pazes, sair do seu "espaço" para o "espaço" do outro, é uma distância e pêras!
Calor humano, o que é isso? Em terras geladíssimas como a Alemanha supostamente os casais deveriam desejar colar os corpos, pelo menos por uma questão de sobrevivência...
Entretanto, acho que este sistema alemão seria bastante apreciado em terras quentes, cada um com seu lençol nos picos do verão... nós é que não sabemos das coisas!
Duas metades de uma laranja que não são cobertas pela mesma casca... porra pá!!

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Carlos Cardoso, um exemplo difícil de ser seguido

A 22 de Novembro do ano 2000 foi assassinado Carlos Cardoso. Ele era considerado pedra rara no jornalismo moçambicano, pela busca da verdade, imparcialidade e também pelo seu caracter investigativo. E foi isso também que originou o seu assassinato, Cardoso investigava a maior fraude bancária da história de Moçambique, que envolvia grandes figuras da cena empresarial e política do país. Quais são as características da media moçambicana 11anos depois da morte deste jornalista?A Deutsche Welle conversou com Paul Fauvet, ex-colega de Carlos Cardoso e co-autor de uma obra sobre a sua vida, e começamos com a seguinte pergunta: Será que este jornalista é um exemplo que está a ser seguido no país?

Paul Fauvet: Essa pergunta é difícil, Carlos Cardoso era uma pessoa muito rara, singular. É difícl encontrar uma pessoa que faça o mesmo com entusiasmo. Cardoso era um jornalista político, com grande cultura geral, como ele não há muitos. Existem alguns jornalista que continuam a fazer jornalismo investigativo em Moçambique, mas não são muitos. A morte de Carlos Cardoso é uma perda irreparável para o jornalismo moçambicano.

NI: Será que a morte de Carlos Cardoso limitou, através da intimidação, a coragem e o profissionalismo dos jornalistas moçambicanos?
PF: Eu acho que não é isso, acho que há incidentes de intimadação, há pessoas que tem medo, mas isso existia também antes da morte de Carlos Cardoso. É preciso desenvolver dentro do jornalismo moçambicano uma cultura de trabalho, de investigação. O jornalismo não é coisa fácil e ninguém fica rico por fazer esse tipo de jornalismo.

NI: Como avalia o actual jornalismo feito em Moçambique?
PF: Há pessoas que tentam o seu melhor em vários órgãos de informação, no sector público e no privado, mas também há jornalismo barato, jornalismo de esgoto, ou sensacionalismo simplesmente para vender, Moçambique não diferente dos outros países nesse aspecto, como em qualquer lugar do mundo existe o bom e o mau jornalismo.

NI: Carlos Cardoso sempre pautou por um jornalismo que denunciava a corrupção, a falta de transparência, etc. Com são tratados hoje esses temas pela media?
PF: Há jornalistas que continuam nesse caminho, devo dizer que os mass media tiveram um papel importante em casos de corrupção que chegaram aos tribunais, acho que sem a cobertura dos medias esses casos não teria chegado as barras dos tribunais.

NI: Para si, a forma como foi concluído o processo no caso do julgamento de Carlos Cardoso foi satisfatório?
PF: Não inteiramente. Como se diz há fragilidades, é um escandalo que o senhor Anibalzinho, o chefe da quadrilha contratada para assassinar Cardoso, conseguiu fugir da prisão três vezes! Mas felizmente foi capturado, é verdade que os presos tem uma facilidade extraordinária dentro das cadeias. O senhor Nini Satar, um dos homens de neócios que contratou os assassinos, conseguiu ter uma página do Facebook dentro da cadeia!

sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Mais justo, menos humano

Esta semana tocou-me a campainha um funcionário da Cruz Vermelha alemã, ele angaria fundos para a sua organziação. Com muita lábia e simpatia "quase" vendeu o seu peixe, para além de ter tomado o meu tempo que já era "inesticável." Enquanto ele tentava convencer-me a dar dez euros, seis euros ou dois euros, ia baixando o montante devido ao meu inalterado semblante, a minha cabeça andava mil a hora: como boa moçambicana que sou primeiro fui assaltada pela desconfiança, depois lembrei-me que estou na Alemanha, então fiz uma inspeção ao homem: "crachá, casaco com identificação, etc. Segundo me perguntei: porque tenho eu de dar dinheiro a Cruz Vermelha alemã? Eu já pago um balúrdio em impostos! E além de que imaginava que parte desse absurdo também ia para a Cruz Vermelha alemã. E continuei na minha viagem enquanto tentava avaliar  melhor o "peixe" que o homem me estava a tentar fazer engolir, numa língua que não domino. Pensei, possa, para dar qualquer centavo, porque não dar a quem mais precisa? Eu sei que na Alemanha também existe gente carenciada. Mas pensei no meu país, e em muitos outros, na extrema pobreza que lá se vive, e disse para mim mesma: "Não é justo! Este gajo não leva nem o cheiro do meu dinheiro!" E fiquei mais irritada quando perecebi que ele queria que a doação fosse mensal e queria o meu número de conta bancária! Ora bolas, que intimidade é essa? Se é você quem quer, dê-me então o SEU número de conta! E eu darei se puder. Mas antes de perceber tudo, já tinha eu preenchido metade do formulário bancário...
 Mas ao mesmo tempo deixei-me levar pelo meu lado humano e me perguntei: "Eu só ajudo os meus, ou ajudo a quem precisa?"
O meu EU era confrontado com uma grande questão: o que tem mais peso na balança da vida? a justiça ou o lado humano? E mais ainda, essas duas palavras tem gradações? Ou seja, existe desumano, pouco humano, e humano?
Lá se foi embora o homem a muito custo,  mas deixou-me os seus contactos e da sua organziação para qualquer esclarecimento. Eu cheia de dúvidas fui fazer consultas aos nativos e fiquei a saber, sim, que o Estado ajuda ONGs através dos nossos impostos. E fiquei a saber também que os alemães que ajudam ONGs locais, depois podem recuperar parte do dinheiro dos impostos, ou seja, não se "perde" de todo...
E o mais interessante, é que essas ONGs que recebem dinheiro do Estado só o podem usar na Alemanha, ou seja, o dinheiro "gira" aqui dentro, igual aos indianos, não? Já se entende porque a Alemanha é uma das maiores economias do mundo.
Essas duvidas furaram, mais uma vez, as minhas construções de palavras "perfeitas": honestidade, justiça, sinceridade, verdade, humano, etc, elas são meias verdades, para além de que as vezes elas, entre si, nem sequer se complementam.
Acorda Nádia...

quinta-feira, 17 de novembro de 2011

Entrevista: Angola, uma futura potência?



"Angola: Potência regional em emergência" é o titulo do livro de Eugénio Costa Almeida lançado esta terça-feira em Lisboa. A obra baseia-se na tese de doutoramento do autor. Ele defende que Angola consolida-se como potência na região central da SADC, uma posição que pode gerar conflitos com a potência África do Sul, embora lhe falte o desenvolvimento tecnológico. Eu, através da DW, conversei com Eugénio Costa Andrade sobre o tema:


Nádia Issufo: Que factores, para si, colocam Angola numa posição de potências em Angola?
Eugénio Costa Almeida: São essencialmente factores de ordem económica, social e política, embora não sejam, naturalmente os únicos factores que definam uma potência regional.

NI: Hoje na SADC  a potência é a África do Sul. Há alguma possibilidade do chamado país do arco íris ser "suplantado" por Angola?
ECA: Eu como angolano gostaria, mas vamos ser honestos; é evidente que não. A África do Sul é uma potência que já existe há muito tempo e se vem afirmando não só a nível regional austral, mas em todo o continente. Há cerca de 30 anos é claramente a potência africana, portanto não será nos próximos anos que Angola poderá se igualar a força potencial da África do Sul.

NI: Esta emergência de Angola cria algum tipo de divergência com a Africa do Sul?
ECA: Pode e criará de certeza, mas caberá aos líderes dos dois países saberem dirimir essas divergências de modo a que elas não se conflituam, ou seja, quando alguém já está colocado num determinado patamar por regra não gosta de ser desalojado dele, e quando esse patamar é um pouco apertado, duas no mesmo sitio e ao mesmo tempo torna-se problemático. Até porque a África do Sul considera que Angola faz parte da sua zona de influência, e há países que fazem parte da actual zona de infuência de Angola que fazem parte da zona de influência da África do Sul. Eu não estou a ver que um ou outro prescindam desse factor, é certo que Angola está mais virado para a zona central, mas não esquecendo aqueles países que por outra razão mais próximo se encontram da sua órbita, refiro-me ao Zimbabue, Zâmbia e de alguma forma a e um pouco difusa a própria Namíbia.

NI: Na sua óptica falta a Angola o desenvolvimneto tecnológico para se afirmar como potência. Onde coloca as outras coisas que também faltam ao país como o fraco quadro profissional e académico e a situação política criticada internamente e externamente?
ECA: Esses factores não condicionam a partida a formação de um Estado como potência. Atenção! Não é bem assim, porque o desenvolvimento académico e intelectual está de certa forma interligado ao desenvolvimento tecnológico. Mas a questão de estabilidade política não me parece que seja condição sine qua non para que o Estado se afirme. É evidente que se pudermos juntar uma estabilidade política, uma harmonia em todos os interesses políticos que estão em Angola, mais agradável seria, e talvez mais rapidamente Angola pudesse se afirmar ainda mais no contexto das nações africanas.

NI: Até que ponto a situação ionterna angolana influencia o papel e a imagem de Angola no continente?
ECA: Não está a influenciar, talvez se nós enquanto cidadãos desejassemos que pudessem permitir um maior desenvolvimento político, uma menor autocrácia, menor afirmação política de determinados grupos, nós sabemos que é a imagem do seu actual presidente José Eduardo dos Santos que tem permitido que Angola se afirme no contexto das nações africanas transmitindo uma imagem de estabilidade que a partida verificamos que não é tão linear assim.

quarta-feira, 9 de novembro de 2011

"Doing Business" cota bem São Tomé e Príncipe e Cabo Verde

O Relatório "Doing Business" 2012 do Banco Mundial diz que Cabo Verde e São Tomé e Príncipe estão entre os 12 países da África sub-sahariana que  melhoraram o seu ambiente de negócios. Já Angola e Moçambique registaram retrocessos neste ponto. O "Doing Business", que visa a transparência nos negócios, avalia várias áreas, entre elas a abertura de empresas e a resolução de insolvência. O país africano que lidera a tabela de classificação, em 23º lugar, são as ilhas Maurícias, pela quarta vez consecutiva. Relativamente a situação de São Tomé e Príncipe, ouvi, através da DW, o economista no local, Acácio Bonfim.


Nádia Issufo: Estando no terreno, partilha desta conclusão?
Acácio Bonfim: Naturalmente que concordo porque os indicadores utilizados para a analise da evolução das medidas tomadas pelos país para facilitar o negócio, mostram que medidas foram tomadas nos ultimos tempos.

NI: Entretanto, o Banco Mundial ainda em Janeiro deste ano disse que STP tinha baixado o nível em termos de ambiente de negócios. Apenas nove meses depois esta instituição diz que o país melhorou. O que acha disso?
AB: Depois da declaração de Janeiro o país consciente da necessidade de melhorar o ambiente de negócios tomou uma série de medidas, nomeadamente o negócio entre fronteiras, já se cobram os direitos aduaneiros nos serviços de fronteira, através de um serviço bancário instalado para esse fim, e assim as pessoas não precisam de se movimentar para a cidade para esse fim. Outro aspecto tem a ver com a abertura e funcionamento das empresas, não havia o guiche único, ele já foi criado, o que permitiu reduzir o tempo da tramitação do processo das empresas e reduzir custos. Tambérm há electricidade, sabemos que há probelmas no que toca ao seu abastecimento, mas o acesso a ela é muito mais rápido e fácil do que era há nove meses atrás, entre outras melhorias. Portanto, não é por acaso que o banco mundial reconhece isso.

NI: O "Doing Business" toma em conta vários factores para as suas analises. Entre eles a transparência, no caso de STP, que mecanismos o próprio país tem para supervisionar isso?
AB: Quando se vai eliminando as barreiras no exércicio da actividade comercial, surge a necessidade do governo ir supervisionando essa liberdade que se dá aos operadores económicos. Por exemplo, já existia uma supervisão das actividades económicas e ela foi restruturada, modernizada e apetrechada com meios humanos e materiais, para além da formação, e ela serve para ajudar na fiscalização. Isso sem falar de outras de outras entidades vocacionadas para a fiscalização da actividade económica. É verdade que nem todas as condições estão criadas, mas as evoluções que se notam são irreversiveis, e com o andar do tempo as coisas vão melhorando.

NI: Segundo o Jornal electrónico santomense "Tela Non" o governo assinou as escondidas um acordo para a produção de petróleo no Bloco 3 da zona económica exclusiva com a empresa nigeriana Orantum Petroleum ainda este mês. Isto não pode ser visto como uma contradição em relação ao relatório "Doing Business"?
AB: Essa é uma afirmação do jornal, o "Tela Non" caracterizou o processo como um acto nas escondidas. Naturalemente isto não é, senão, da inteira responsabilidade do jornal. Tive informação de fonte fidedigna de que houve dificuldade em que a negociação fosse feita aos olhos da comunicação social, mas logo de seguida foi emitida uma nota de imprensa a comunicar o mundo o que se passou. Não sei exactamente porque razão o assunto não foi apresentado, mas eu acredito que os factores que foram usados para avaliar a evolução do processo de transparência no mundo de negócios, foram analisados. Naturalmente que o facto de não ter sido anunciando a comunicação social numa determinada fase de negociação, não pode de maneira nenhuma ser o bastante para manchar o que vem fazendo até agora. Ainda que tenha sido uma falha, penso que não é o suficiente para se por em causa a avaliação positiva que o relatório do Banco Mundial fez sobre STP.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Comportamentos curiosos...

1. Porque muitas vezes cada elemento de um casal tem o hábito de publicar APENAS a sua foto e dos seus filhos nas redes sociais ou no telemóvel?
2. Porque muitos casais com filhos quase nunca mantém conversas amenas de interesse mutuo quando saem, e limitam-se a dirigir-se ao objecto comum que é o filho?
3. Qual é o sentimento, para além do amor, claro, que faz os pais babarem pelos seus filhos?
4. Os país amam os filhos de igual modo. Mas porque eles babam mais por um do que por outro?

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Uma viragem do Direito Internacional para a música internacional

 Foto: Ismael Miquidade

Certa manhã de Outubro de 2008 vi por acaso o músico moçambicano Moreira Chonguiça num dos hoteis de Maputo. E nesse momento o vendedor de uma discoteca, que por acaso conheci naquele dia, muito simpático, actualizava-me sobre as produções dos nossos músicos, e disse-me nesse instante: "O Moreira lançou o último album ontem!" Fui ter com ele rapidamente e claro, cravei-lhe uma entrevista! Pedi que me fossem buscar o gravador a casa rapidamente, e lá estive eu numa descontraida conversa de mais de 20 minutos, com alguém que já se sentou ao meu lado nos bancos da escola.  Hoje depois de três anos publico aqui a conversa...

Nádia Issufo: Moreira Projecto II é o nome do teu mais recente trabalho. Como foi faze-lo?
Moreira Chonguiça: O Moreira Projecto-Citzen of the world é a continuação do Moreira Project- The Journey. Acho que cresci como músico, e em termos de colaborações e influências acho que expandi um pouco. Neste album tenho a participação de Manu Gibango, Nadji, do Simba, Jaco e outros músicos de Cape Town e de Moçambique que trabalham comigo e tive a chance de fazer a masterização em Paris, então acho que cresci como ser humano e automaticamente isso me influenciou como artista.

NI: Qual o significado da participação desses grandes nomes no teu album, olhando para trás?
MC: Não há palavras que descrevam, mas posso dizer que me sinto muito honrado e abençoado e sinto que é possível, que tenho de continuar com seriedade e o resto vai acontecer.

NI: Qual é mensagem que tu passas nos teus dois volumes?
MC: No primeiro album é que estamos a viver  momentos interessantes nos últimos dez anos, a guerra do petróleo, os fenómenos naturais, a instabilidade financeira na Europa e Estados Unidos, que afectam os africanos, as diferenças sociais, as instabilidades políticas e religiosas. E eu antes de ser músico sou um ser humano e sou influenciado por essas coisas. E é em momentos de tensão que os seres humanos tem de se juntar e se proteger, por isso chamo o album de "Cidadão do Mundo". No fim do dia somos todos cidadãos do mundo, e acredito que apesar de ser moçambicano e residir na África do Sul faço música para o mundo, e inspiro-me nesses factores todos.

NI: Sei que o teu no album foi lançado no último domigo, dia 19 de Outubro (2008). Como foi recebido?
MC: Foi uma honra tocar em Moçambique para este público maravilhoso que vem acompanhando a minha carreira, acho que tu também, desde que estava na escola, e hoje já estamos na casa dos trinta, e há pessoas que se sentem orgulhosas pelo que faço, por levantar a bandeira de Moçambique além fronteiras. É difícil tocar em casa, conheço 90% da plateia, e ela não se queria ir embora. Eu adoro esta interactividade com o público moçambicano.


 Foto: Ismael Miquidade

NI: O teu nome cresce a cada dia. Fala-me da tua carreira desde o início...
MC: A grande influência na minha carreira são os meus país, em particular o meu pai e o meu tio. Eu cresci numa casa em que se ouvia boa música, graças a Deus. Mas quando tinha sete anos, por inciativa do meu tio o meu pai matriculou-me na escola de música e só estive lá  três anos. No terceiro ano pagava, mas não ia a escola, eu detestava música. Então a escola ligou para o meu pai a contar, e ele perguntou-me se não queria ir a escola de música e eu disse que não, que queria jogar futebol. Mas lembro-me que quando tinha 14 ou 15 anos fui registar-me na escola de música novamente. E a partir dai o resto é história, foi a partir dai que começamos as estudar juntos na Maxaquene e Josina Machel, mas também estava a estudar música e inglês e comecei a tocar com as maiores bandas de Moçambique, desde o Stewart, Ghorowane, Salimo, Kapa Dech, Clube Jazz de Maputo, etc. E no final do ensino secundário eu sonhava fazer o curso de Direito Internacional, mas olha para mim hoje, sou músico estudei isso na Universidade de Cidade do Cabo tenho dois diplomas, um em Jazz e outro em etnomusicologia, hoje resido lá onde tenho a minha editora, o meu primeiro disco foi bem recebido na África do Sul, fui nomeado para três Grammys para a melhor música instrumental de Jazz, para melhor Album contemporâneo de Jazz, e para melhor produtor. E ganhei o prémio de melhor produtor o ano passado, eu não posso reclamar, no final do dia eu sigo o meu coração, a minha paixão e respeito os meus ancestrais.

NI: E como tens usado o legado que os teus ancestrais te deixaram em termos de música?
MC: Priemiro é respeito ao próximo, eu digo aos mais jovens que somos seres humanos primeiro, não se fiem na fama e no estrelismo, são partes do precesso, mas temos de respeitar o próximo, e isso os nossos ancestrais ensinaram-nos, e se não perdemos isso o resto corre muito bem.