terça-feira, 18 de agosto de 2009

Do caixão à cova algumas verdinhas brilham mais nas bandeiras brasileira e moçambicana

Dos cerca de 20 milhões de habitantes de Moçambique 16% são seropositivos. Taxas assustadoras semelhantes apresentam os países da região, com uma tendência a subir drasticamente. Razões para esta situação são muitas e discutíveis, mas não agora.
Na tentativa de melhorar a condição dos doentes de SIDA, uma fábrica de antiretrovirais está a ser erguida no país. Acto que merece um grande aplauso, se não uma festa! Já que nós africanos temos o bom hábito de festejar tudo, e este é no momento uma conquista que pede uma comemoração.

O Brasil é o grande financiador deste acto humano: disponibilizou oito milhões de dólares para a construção da fábrica. Afinal também este é um negócio que se poderá mostrar no mínimo lucrativo. Motivos para esta conclusão primária apresentei logo no primeiro parágrafo e mais ainda: números que engordam a olhos vistos, mais que os comedores de fast food, podem ser encontrados nos milhares de estudos e balanços sobre o HIV-SIDA em Moçambique e noutros países da SADC.

Prevê-se que a unidade produtiva comece a “aliviar” a situação do acesso aos antiretrovirais já a partir de Dezembro deste ano quando começar a produzir o medicamento.
Entretanto, alguns sites já disseram que de relacionados com os antiretrovirais Moçambique só vai produzir, nesta primeira fase, as embalagens, o real conteúdo virá do Brasil. É questionável a justificativa de que Moçambique quer reduzir a dependência relativamente a produtores internacionais. Não muito, mas um pouco questionável, devo ser menos radical. Mas o Brasil ainda é internacional, apesar da crescente “intimidade” dos últimos tempos com Moçambique. Facto que merece também ser festejado...

Porque não matar dois coelhos numa cajadada só? Até um cego veria na situação a possibilidade de ganhar algum!
Garantias de exportação para África do Sul, Zimbábue, Zâmbia, etc... estão lá , subidas galopantes das taxas de infecção estão lá, dificuldade escancarada de alguns órgãos do Governo de executar campanhas de prevenção e sensibilização com resultados, (mais sorte tem as organizações não governamentais que trabalham no terreno com menos recursos) estão lá, ganhos com a exportação de conteúdos quando a Moçambique faz caixas estão lá, investimentos na formação de quadros no Brasil estão lá...

Tanto o Brasil como Moçambique tem a certeza de que o dinheiro investido nesta viagem adiada para baixo dos nosso pés dos 16% de moçambicanos hoje e dos não sei quantos por cento amanhã terá volta. Mesmo que a venda do medicamento venha a ter comparticipação do Estado moçambicano é um bom negócio!

A frase “Negócio da China” hoje pode e deve ser mudada! No caso passa a ser "o negócio do Brasil" ou de Moçambique... “Mudam-se os tempos, mudam-se as frase ditas”, já adulterando o que Camões criou...

Na verdade humano, mesmo, é ver os 24% dos 16% que não tem acesso ao tratamento inclusos neste “negócio”, expressão brasileira que muito gosto, o mais cedo possível. Mais do que as cores “verdes” que cada país quer ver constantemente renovada na permanente defesa dos interesses nacionais!