Bom dia Sister!
Na década de noventa visitei um famoso parque sul-africano. Todos os trabalhadores pretos que me viam cumprimentavam-me e sorriam-me muito simpaticamente e eu respondia. Era frequentemente chamada de sister, mas só eu preta era a privilegiada, os outros eram invisíveis. Um fenómeno para mim! Na minha terra ninguém cumprimenta o outro só porque é de determinada "coloração", cumprimenta-se sim por boa educação, por simpatia, ou outros motivos.
De lá até hoje o fenómeno continua. Sempre que passo pelo aeroporto Oliver Tambo quase todos os pretos que lá trabalham cumprimentam-me! Outros até na sua língua materna que eles "sabem" que eu falo...
Colega, a vida está dura...
Mas nem tudo é um mar de rosas na terra do Arco Iris. No serviço de migração do aeroporto Oliver Tambo eu não existo. Pelo menos para os funcionários dos serviços de migração, eles são cegos, surdos e mudos. Eu juro! Quando eu digo bom dia eles não ouvem, quando sorrio e olho para as sua caras e seus olhos, como eu gosto de fazer, eles não me vem, e da boca deles não sai a frase "de nada" quando digo obrigada. Juro que não estou a espera do "boa viagem" ou "Adeus". Nesse momento do serviço de migração só existem o meu passaporte e os seus colegas, para quem eles tem ouvidos, olhos e boca. Talvez a lamentarem-se sobre os baixos salários e outras dificuldades...
O país vive a paz, mas os corpos continuam armados
Tenho na mente as imagens das manifestações contra o Apartheid na África do Sul na década de oitenta. Era uma fedelha, mas as imagens e a situação do país marcaram-me profundamente. Aliás, o meu país também foi vítima directa deste regime de minoria branca. E a causa sul-africana era portanto naturalmente nossa. A postura física dos manifestantes foi o que ficou gravado na minha memória. É uma postura de guerra, como as danças guerreiras sul-africanas e moçambicanas também, mesmo sendo manifestações de paz. Também isso não mudou até hoje, as manifestações deste ano pela exigência do aumento de salários são semelhantes. O movimento dos ombros, um de cada vez, e o movimento das pernas enquanto caminham lembram-me a guerra.
São dados a um incesto
Não é o que está a pensar, não me refiro ao assédio no verdadeiro sentido da "carne", mas sim da palavra. Na hora da revista no aeroporto, alguns "controladores de bombas" assediam as suas "sisters" com aqueles piropos "padrão" africanos. Nada de anormal, pelo contrário, provocam aquela gargalhada interior e alimentam egos femininos, pelo menos o meu... Embora a cara amarre na hora! Isto é só para mostrar que existem lá também coisas "normais"!
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