quarta-feira, 2 de abril de 2014

As dissiminações do Contraditório

Em África a Bíblia, a cultura e os comportamentos super-machistas são as armas mais usadas para legitimar o combate aos homossexuais. Embora no continente africano algumas vozes se vão erguendo exigindo respeito a estes, as vozes mais altas e o incentivo a proteção chegam da Europa. Mas pergunto só, por exemplo, quem levou a Bíblia para África? Portanto, não fico nada comovida com os esforços dos europeus para contradizer o livro sagrado. Ele parou no tempo? Está desatualizado? Precisa de um "refresh"? Óptimo, prossigam o trabalho, ou seja, desacreditem a Bíblia, o que hoje vos pode custar sangue, tal como custou aos africanos durante a "envangelização"

Não há concentração no alvo
Mas o absurdo deste processo de esclarecimento sobre as liberdades sexuais é ver que em jeito de defesa alguns defensores estão mais preocupados em comprovar que a homossexualidade não foi levada para África pelos europeus, mas que isso já existia, embora camuflada, em várias sociedades. Ou seja, é uma energia gasta no sentido errado, afinal não é o esclarecimento sobre as liberdades sexuais dos indoviduos que está em causa? E se os bodes espiatórios são chamados ao campo de batalha porque preferem não "ver" a Bíblia?

Porque caminhar ao mesmo passo? 
Mas outra questão surge, será que mais uma "lavagem cerebral" é justa e legítima? Obrigar o mundo a andar ao mesmo ritimo e querer derrubar a essência enraizada na cultura dos indivíduos a uma golpada só, é muita prepotência. O Ocidente defende cada vez mais o respeito pelas liberadades. Será que com base nesse príncipio a cultura alheia, crenças e hábitos estão excluídos? Porque não respeitar a forma de ser da maioria dos africanos? Isso mostra que a mentalidade do "outro" ainda é algo a combater.

Legislação, o ponto chave 
Criar uma legislação que defenda os homessexuais de qualquer tipo de agressão é mais do que humano e urgente. Por isso sensibilizar também é urgente, mas não é válida a frase "faz o que eu digo e não o que eu faço." Como um país como os Estados Unidos da América, que permanentemente dá lições de liberadade e democracia ao mundo, tem nalguns Estados políticas de governação que excluem homossexuais? Sob o ponto de vista do conservadorismo religioso, que limita as liberdades sexuais, onde está ele concentrado? Onde tem ele um poder político e decisório muito grande? Não é de certeza em África.

Existem "Khossas" em São Tomé e Príncipe?

Todos os meus conhecidos de São Tomé e Príncipe tem nome de branco, para ser mais clara de branco português: Edlena Barros, Ramusel Graça, João Carlos, e por ai fora. Antes de os conhecer, fisicamente, quando ouvi os seus nomes pela primeira vez pensei, bem, devem ter algum vestígio de brancos ou até serem. Vá lá, não digam que não fazem esse tipo de associações preconceituosas e erradas. Pelo menos eu já confessei... Para o meu espanto, e punição de raciocínio, apenas um tem sangue português. E ao longo de quase 6 anos de observação perguntei a um deles porque os são-tomenses só tem nome de brancos, mas não obtive resposta. Fui insistindo com alguns, mas nada. Será que a falta de resposta está na colocação da pergunta? Melhor é perguntar se existem nomes originalmente são-tomenses...
Até que "um mais velho" do país confirmou a minha constatação e explicou-me a origem da situação. Em jeito de brincadeira, mas falando a verdade, disse-me: "fomos achados, é isso." Na explicação dele os portugueses foram atribuindo nomes aos autóctones a seu bel prazer. O mais velho conta que os colonos punham nomes aos seus futuros trabalhadores nas roças de cacau e café, as criança eram baptizadas segundo determinação do patrão. 
Por outro lado, os são-tomenses queriam sentir-se portugueses, na opinião do mais velho eles eram aculturados, tanto é que proibiam as suas crianças de falarem as línguas locais. 

Identidade aniquilada?
Em África o nome muitas vezes está associado a identidade, a origem, a linhagem. Por exemplo, em Moçambique os Matolas pertencem a linhagem ou clã com o mesmo nome provenientes da região da Matola, os Pfumos, ou Fumos, (na versão "aportuguesada") são de Maputo, os khossas de Gaza, etc. Esta realidade é que aumentou a minha curiosidade em relação aos são-tomenses, será que não existiram clãs ou grupos étnicos em STP? A resposta do mais velho não foi conclusiva, mas disse-me que existem os angolares, de origem Bantu, e os Forros, mas que todos se deixaram "perder". 

A relação colonos-são-tomenses é muito semelhante a relação colonos-moçambicanos, mas em Moçambique encontramos António Mondlane, o primeiro nome português e o segundo moçambicano, Maria Pachinuapa, o primeiro português e o segundo moçambicano, e por ai a fora. Tal como encontramos Alfinete Sabonete ou Máquina Sabão, e diz-se também que a culpa é dos portugueses....

Foi o facto de pertencer a uma lugar onde a miscigenação de nomes predomina que me deixa com dúvidas. Talvez possamos acabar com o assunto e considerar João, António, Edlena e Ramusel também como nomes moçambicanos e são-tomenses, tal como o Português também já é nossa língua. Mas não era isso que pretendia questionar. 

Cabo Verde, os filhos...
Uma amiga moçambicana que estudou em Portugal dizia-me em jeito de desabafo e de piada: "Dos PALOP o único filho de Portugal é Cabo Verde, o resto são enteados." Riamo-nos, mas entendo a "preferência". Há uma lenda, ou história, que justifica isso, segundo a minha professora de Literaturas Africanas Comparadas, Deus fez o mundo e quando terminou sacudiu os dedos e o barro salpicou formando as 10 Ilhas que compõem o Arquipélago, e assim surgiu Cabo Verde, país desabitado. Já os factos reais mostram que os portugueses completaram o trabalho de Deus levando para lá judeus indesejados na Europa, depois que fizeram das ilhas um entreposto de escravos trazidos do costa africana, principalmente do Senegal. Com a colonização então a "mistura" registou um boom. Por isso também se diz que em termos de identidade africana dos PALOP Cabo Verde é o que menos a tem. Por isso nunca me espantei com os seus nomes. Mas são Tomé e Príncipe? Bem, acho que um estudo aprofundado poderá fazer-me mudar de ideias, até lá fica aqui a minha observação e escasso conhecimento.