quinta-feira, 4 de outubro de 2012

E aperto de mao entre Marcelina Chissano e Afonso Dhlakama é para quando?

Não tenho muito a dizer sobre a celebração dos 20 anos de paz, afinal a imprensa já o fez com artigos e entrevistas que trazem revelacoes quentes sobre os meandros das negociacoes de paz. O assunto já foi revirado do avesso, com analises do ponto de vista económico, político, social, olhando para o passado para o presente e futuro na esteira do abencoado acordo, enfim, quase esgotado.

Mas subitamente lembrei-me de um facto que marcou a era pós acordo. Lembram-se que a ex-primeira dama, Marcelina Chissano, recusou-se a apertar a mão a Afonso Dhlakama, presidente da Renamo? Lembro-me do constrangimento que isso causou, deixando até muitos moçambicanos envergonhados, embora não tivessem nada a ver com o facto. O que revela que os moçambicanos, tem educação, e acima de tudo capacidade de perdoar e vontade de viver em harmonia.

A atitude da senhora Marcelina Chissano, embora tenha sido pessoal, acredito, que criou embaraços para o presidente Joaquim Chissano. Afinal abriu espaço para as pessoas duvidarem da intenção de um acordo de paz e reconciliação por parte da Frelimo. Se até dentro de casa nao havia vontade...
O caso foi pano para manga, manga de camisa de um gigante! Mas esse gigante não era afinal tão grande, porque 20 anos depois quase ninguém se lembra desse facto, que de certa forma passou uma mensagem...
Diz-se que o povo tem memoria curta, não é?

segunda-feira, 1 de outubro de 2012

Guiné-Bissau limita-se aos bastidores da ONU

O facto da Guiné-Bissau não ter discursado na 67ª Assembleia das Nações Unidas representa uma humilhação para o país e seu povo, considera o analista político guineense Fafali Kouodawo. Mas o analista reconhece a importância do diálogo lançado durante a Assembleia entre o presidente deposto, Raimundo Pereira, e o presidente de transição, Serifo Nhamadjo. Isso representa, a seu ver, uma base para negociações para o fim da crise política da Guiné-Bissau, onde principalmente os guineenses tem a responsabilidade de resolver os seus problemas. Numa entrevista a DW, conduzida por mim, Fafali Kouodawo começou por comentar a iniciativa de diálogo entre as partes:

Fafali Kouodawo: É uma iniciativa bem vinda, embora venha um pouco tarde. A solução na Guiné-Bissau passa por um directo diálogo entras as partes envolvidas.

Nádia Issufo: Pode se interpretar esse diálogo como a base para o lançamento de negociações directas?
FK: Com certeza, o diálogo é que poderia abrir o caminho para negociações que desemboquem numa solução viável. E neste momento em que as posições estão muito rígidas é necessário que haja um diálogo directo entre as partes. O país em causa é a Guiné-Bissau e as pessoas em causa são os guineenses, então é melhor que eles dialoguem a acertem as posições e de seguida que informem aos seus apoiantes para limarem as dificuldades. Penso que isso é melhor do que ter sempre intermediários que tem  as suas próprias estratégias e interesses a defender, e pode ser que esses interesses não sejam convergentes com os interesses guineenses.

NI: O braço de ferro entre a CEDEAO e a CPLP em que medida dificultam o alcance de uma solução para a Guiné-Bissau?
FK: Não há razão de ser este braço de ferro. Há uma tradição internacional segundo a qual uma organização regional tem a pro-eminência na resolução de um conflito. No caso vertente a CEDEAO, a Comunidade Económica dos Estados da África do Ocidental, é que está mais próxima do foco do conflito. A Guiné-Bissau é membro da CEDEAO, e esta organização recebeu o mandato da ONU de procurar soluções.

NI: Tanto Serifo Nhamadjo como Raimundo Pereira não discursaram na 67ª Assembleia-geral da ONU na semana passada embora tenham estado lá. Que leitura se pode fazer da posição da ONU?
FK: Normalmente as Nações Unidas não são parte de um conflito. A ONU deveria estar no meios das partes, mas a ONU tornou-se o palco em que as partes mostraram a luz do dia todas as dificuldades que o país tem neste momento para se reencontrar. É um acontecimento sem precedente na história da Guiné-Bissau independente, é um acontecimento que marca profundamente os guineenses, porque o país começou a falar na tribuna da ONU antes da independência, colocando Portugal numa dificuldade enorme no plano internacional. Hoje a Guiné-Bissau é que está numa posição difícil e humilhante nesse mesmo plano. Por isso teria sido melhor se tivesses concertado antes para que o palco em que a Guiné-Bissau obteve a sua maior glória não se torne o palco em que vai obter a sua maior vergonha.