sábado, 29 de janeiro de 2011

BBC: depois dela teremos também o efeito "spill over"?

A BBC vai encerrar os seus serviços em Português para África. Esta notícia deixou-me de boca aberta até hoje! A considerada referência das rádios internacionais tomar uma atitude destas? Prefiro pensar, acreditar ou sonhar que o governo británico vai voltar atrás na decisão e que em vez de eliminar o serviço, que vai fazer reduções de vária ordem para que os ouvintes que tanto apreciam este canal continuem a ter a BBC como referência pelo serviço prestado.
Mas tenho outras preocupações, para além das que citei acima. Será que as outras estações internacionais poderão tomar decisões semelhantes? Todos estão a fazer reduções, os tempos são de vacas magrissímas e a crise financeira ainda arrasa. A decisão de uma grande estação encorajaria as outras a seguir pelo mesmo caminho? Afinal estamos em épocas de contágios...


Saiba mais sobre a extinção do serviço em Português da BBC selecionando a emissão da noite da DW, do dia 26 de Janeiro: 
http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html

Crise no Magrebe: O Mar Vermelho é o limite?

O chamado "efeito contágio" da crise do Magrebe já arrasou a região. Entendidos dizem que todo este caos foi originado pela crise económica, dai até se falar inicialmente em crise social. Mas estas crises sociais acabaram por terminar em crises políticas devido também a regimes políticos com características próprias que até aqui estiveram adormecidos nos países contaminados. Por exemplo, o presidente da Tunísia, Ben Aly, esteve durante vinte e três anos no poder, o presidente do Egipto, Osni Mubarak, está a quase trinta anos a dirigir os destinos do país. Não há alternância de poder. Outro ponto, no caso do Egipto, é a manutenção de sistemas monarquicos legitimados pela democracia. Diz-se que o presidente egípcio estaria a preparar o seu filho para a "sucessão democrática", com esta manifestação Mubarak está com as mãos atadas no que se refere a esta pretensão. Depois deste efeito "spill over" pode-se falar em revolução governativa naquela região?

Só a água separa dois lados
Entretanto, bem ao lado do último contagiado pela "doença do Magrebe" está a Jordânia e a Arabia Saudita. De certo que ai não haverá nenhuma crise económica a despoletar a crise política. O contagio poderá ser só da fase avançada, a da crise política? há esse risco?
Do lado de lá da água chegam mensagens de apoio a Mubarak, de acordo com a LUSA  "O presidente Mahmud Abbas, da Autoridade Palestiniana, telefonou ao presidente egípcio e afirmou a sua solidariedade para com o Egipto e o seu compromisso com a segurança e a estabilidade" e "o rei Abdallah, da Arábia Saudita, telefonou a Mubarak para lhe exprimir a sua solidariedade e denunciar "os atentados à segurança e à estabilidade" do Egipto.
Na chamada África branca a consciência dos jovens desempenha o papel fundamental nesta revolução. Do outro lado do Mar Vermelho também existem jovens, que provavelmente tem consciência.

quarta-feira, 26 de janeiro de 2011

Amor trancado


Autor: Ismael Miquidade
Titulo: Poesia no Reno

Na cidade de Colónia, na Alemanha, existe uma ponte sobre o rio Reno onde os casais de namorados "trancam" os seus amores para sempre com um cadeado e atiram as chaves para o rio. Pobre rio, não sei se se faz assoreamento de rio, mas se assim for que trabalhão! Além de que esse gesto deve ser bem prejudicial ao ambiente, mas (in) felizmente os ambientalistas nem se lembram disso, que se lixe o Öko e viva o amor!
Este simbolismo em África, de trancar o amor, é manifestado de outras maneiras. Por exemplo, em Moçambique ouve-se muito a frase: "ela meteu o marido na garrafa". Para mim isto não é muito diferente dos cadeados dos alemães... mas o "engarrafamento" é mal visto em Moçambique porque muitos tem vergonha de assumir que são ligados ao mundo dos curandeiros ou feiticeiros, isto também em parte por causa da colonização que reprimiu muito as tadições e costumes locais, e a influência do ocidente ainda nos dias de hoje, que quase sempre vê estas crenças com muito preconceito.
Mas voltando ao amor aprisionado, me pergunto: porque o cadeado? Ele simboliza coisas más ou insegurança: prisão, confinamento, defesa, protecção contra o mal... Ó grande liberdade onde estás tu?

Quando a alma gémea se torna carcereiro
Este simbolismo do cadeado, que eu vejo, as vezes é transportado para o casamento. Este por sua vez costuma ser o resultado de uma história de amor, e noutras não passa de uma convenção social. Mesmo sendo a segunda hipótese cheia de reticências, ela tem muitas vantagens, uma delas, e talvez a mais importante, é legitimar os filhos, a instituição família ainda é vital em muitos lugares. Há outras vantagens que os manuais de antropologia apontam e o Homem também conhece muito bem. Entretanto o casamento que começa por amor também pode ser reduzido a apenas uma construção social. E o simbolo cadeado algumas vezes tem culpa no cartório nesta mutação, porque ele sufoca as liberdades individuais. Assim, as almas gémeas acabam por se transformar entre si carcereiro um do outro.

quinta-feira, 20 de janeiro de 2011

A crise do Magrebe, uma brecha bem-vinda para quem?

O caos na Tunísia começou em meados de Dezembro último. A crise social, originada pelo altos índices de  desemprego, foi apenas o rastilho para que o país, até então um barril de polvora, explodisse. A crise hoje é política, porque as manifestações que começaram nessa altura touxeram a ribalta as fraquezas do governo. O presidente Ben Aly, que dirigiu os país por vinte e três anos, saiu de lá quase que na condição de fugitivo. Entretanto, esta crise contaminou outros países do Magrebe, como a Argélia e mais recentemente a Mauritânia, no chamado efeito "spill over". Na Argélia manifestantes, maioritariamente jovens, entraram em confrontos com a polícia nos principios deste mês, pelos mesmos motivos: descontentamento sobre as condições de vida; subida dos preços dos produtos de primeira necessidade e taxa de desemprego que chega aos 20%. Os argelinos não se conformam com facto de não sentirem nas suas vidas os retornos das inúmeras riquezas do seu país rico, também em petróleo. O governo, entretanto, tomou medidas para resolver a questão. Hoje as notícias chegam da Mauritânia, milhares de pessoas manifestam-se contra a subida do custo de vida, os produtos alimentares subiram em 30%. O presidente Abdel Mohamed também já ordenou a redução dos preços. Estão todos com receio de um contagio de crise vinda da Tunisia.
E esta região para além de ser rica é fundamentalmente muçulama, o que para muitos países do ocidente significa um potencial para a instalação de bastiões do terrorismo, aquele que eles designam de islámico.
Sem esquecer que em países desses não existe democracia, pelo menos não a padronizada por eles. Os Estados Unidos da América já se ofereceram para ajudar a democratizar a Tunísia.
Portanto, com todas as fragilidades que o Magrebe vive hoje, que fendas estão criadas para que os interesses externos vinguem lá? Será esta a  chance?

terça-feira, 18 de janeiro de 2011

Olhando de longe e fazendo muitas perguntas...

 Foto: Sérgio Manjate

Por acaso no dia em que chegou a Maputo o corpo de Malangatana conversei com um colega. Ele reclamava que estava cansado e eu perguntei porque, ele explicou-me que era por causa mesmo das cerimónias funebres do artista plástico. Não estando lá e tendo acesso as informações apenas por internet, limitei-me a fazer muitas perguntas para saber como a media local estava afazer a cobertura...
Colega: chegou o corpo de Malangatana hoje e estamos a fazer um directo
Eu: Ai é? Ele morreu???
Colega: Sim, não sabias???
Eu: Claro que sabia... mas achas que a chegada do corpo merece um directo?
Colega: Todos os canais estão fazer...
Eu: É só porque os outros fazem que o vosso canal também faz?
Colega: Até em Portugal fizeram...
Eu: ...
Colega: Estiveram no aeroporto muitos dirigentes
Eu: E o que vocês estão a fazer com os dirigentes lá?
Colega: Fazemos entrevistas sobre o Malangatana...
Eu: Vocês já fizeram uma reportagem  ou um documentário desde que ele morreu com depoimentos de pessoas próximas a ele, momentos marcantes da vida dele, entrevistas com ele, etc?
Colega: Temos estado a falar sobre ele sempre, trazemos convidados para o estudio, etc

 E falamos mais um pouco e a conversa acabou. Por outro motivo tive de falar com outro colega e não perdi a oportunidade de continuar a fazer perguntas sobre o assunto. Resumo a conversa com o colega dois também:

Eu: O que achas dos directos que estão a fazer por causa da chegada do corpo de Malangatana?
Colega dois: Estão a ser bons, desde cedo que os canais estão a transmitir e muita gente está a acompanhar.
Eu: Não achas que um documentário sobre o trabalho dele e o seu legado e momentos da vida dele seria o mais indicado neste momento?
Colega dois: Nádia... cada canal está a dar o seu contributo...

A conversa terminou pouco depois. Vejo as notícias nos sites moçambicanos. As fotos no aeroporto são de dirigentes alinhados e todos direitinhos e militares a carregarem o caixão. Um dia depois vejo na galeria de fotos de grandes acontecimentos de um jornal electrónico o velório de Malangatana no Munícipio de Maputo, as figuras da política moçambicana em peso estavam na maioria das fotos, lá de quando em vez aperecia um artista ou algum familiar ou ainda anónimos. A última foto que vi, numa notícia,  foi a do presidente Guebuza e a sua esposa próximos do caixão.
Não questiono, nunca, a figura de Malangatana. Ele é uma referência incontornável das artes plásticas moçambicanas, e também da  história do país. Concordo e aprecio a homenagem e o espaço de antena concedida a esta figura. Agora só me pergunto se tudo isso não poderia ter sido feito no sentido mais correcto, ou seja, explorando principalmente a figura dele. O que percebo, é verdade que estou longe, são fundamentalmente duas coisas: que altas figuras políticas do partido no poder promovem, em excesso, as suas imagens, com a ajuda intencional ou não da media..., e a media local por sua vez se bate para poder dizer que transmitiu em primeira mão um grande acontecimento. E porque não páro de fazer perguntas, fica aqui a última: e o grande objectivo, que é o artista e o seu legado, onde fica? A tentar sobressair no meio de políticos e da media alucinada?

quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

Marcolino Moco: um ex-dirigente angolano que questiona a democracia do seu país


Marcolino Moco: é uma avaliação positiva em certa medida, devo dizer que em Angola temos problemas muito sérios de regresso ao passado de partido único que só não chegou a todo o seu alcançe porque ainda  podem se denvolver actividades como esta que estamos a participara promovida pela igreja, embora fique sem uma difusão nacional porque há mecanismos restritivos muito sérios no sistema de informação aqui em Angola, portanto digamos que estamos num sistema de democratização que não é o desejável,  já esteve muito melhor, mas se calhar estamos em pior situação que  outras do nosso continente.

NI: O que acha da participação dos diversos sectores da sociedade angolana na construção do país e principalmente da democracia?
MM:  O regime não fechou a possibilidade de participação, mas há uma especie de fechamento da comunicação a nível nacional, por exemplo este evento que está a ser promovido pela igreja é divulgado só a nível de Luanda porque a Rádio Eclésia não pode transmitir para todo o território nacional e isso na base de subterfugios de carácter jurídico que o regime está a levantar. Entretanto isso é um problema muito sério, mas as dicussões aqui em Luanda fazem-se. E há um outro aspecto relativo a Constituição, podemos falar de uma Constituição formal e outra real. Esta última está muito longe da formal, o que costumo dizer também é que  isso acontece em todo o lado. Mas a distância aqui em Angola é muito grande, por exemplo a Constituição proclama o direito a opinião, mas pessoas de Cabinda já foram para as cadeias de uma forma não transparente, manifestações que  não foram autorizadas quando a Constituição diz que sim, entretanto há associações que podem fazer manifestações porque estão próximas do regime.

NI: Da distância entre a Constituição formal a real  é capaz de apontar algumas coisas mais fortes?
MM:  Como se pode meter na cadeia uma pessoa num país democrático por delito de opinião como aconteceu com padres inclusive em Cabinda? Como é que a comunicação pública pode estar completamente sequestrada pelas autoridades, inclusive admnistrada por parentes de dignitários do Estado, onde todas as criticas ao Estado são omitidas  ou deturpadas. E ultimamente temos o escandalo da compra dos poucos meios de imprensa que eram livres, foram comprados pelos grupos ligados aos dignitários do regime. Isso sem falar de aspectos que acabaram por ser formalizados que violam qualquer Constituição de um regime democrático. O facto de termos um presidente da República que até hoje, oito anos depois do alcance da paz, não foi eleito e a Constituição aprovada apressadamente consagrar este facto, o facto de um presidente com tantos poderes  não ter uma eleição a parte, mas, face a expressão, aproveitando a boleia da vitória do seu partido que ele própria domesticou completamente?

NI: Com este retrocesso da democracia como desenha o futuro de Angola?
MM: Penso que se continuarem com actos como estes, por exemplo como este que a igreja está a promover, e se se conseguir passar do falatório para actos concretos, por exemplo, judiciarizando algumas dessas violações, denunciando-as e sobretudo se os partidos políticos, infelizmente foram reduzidos a ínfima potência, a própria Unita que é o maior partido da oposição, se encontrarem mecanismos realistas de acção concreta de paralisar esta caminhada em direcção ao passado, podemos augurar bons dias, porém se continuarmos nesta situação que não se passa das formalidades para actos condenatórios e activos, mas quando falo em acção não me refiro a subversões contra o Estado, muito longe de pensar num retorno a guerra, isso nunca mais. Porque essa conquista de paz que temos hoje é algo que não tem preço, mas de forma inteligente, usando métodos pacíficos tem que ser ser um pouco mais concretos no sentido de  obrigar este regime a pensar que a democracia, o direito do povo angolano não pode ser sequestrado.

NI: Como vê o papel da comunidade internacional na construção da democracia em Angola?
MM: Hoje com a crise financeira internacional não podemos contar com muito acção positiva nesse sentido, hoje há ainda o chapéu da soberania por isso os angolanos devem assumir, se não digo a 100%, pelo menos a 90%, esta acção para paralisar o retrocesso. Porque a comunidade internacional funciona sobretudo com a acção das poteências, mas hoje estas últimas estão assoberbadas com a crise enconómica. Portugal por exemplo, não é uma super-potência mas a sua democracia tem uma grande influência sobre Angola, mas hoje infelizmente é de Portugal de onde saem as vozes mais acalentadoras para aqueles que querem retroceder o nosso processo, há professores prestigiados que sem estudar querem falar sobre o que se passa em Angola tecem laudos por exemplo a uma Constituição que consagra um super presidente em Angola, que ainda por cima pode dissolver a própria Assembléia Nacional para além de ser o dono e senhor  do partido que ele  dirige. Há professores catedráticos de Portugal e políticos também de quem não se podia esperar que vem cá, ou mesmo a partir de Portugal do regime diferente do regime modelo ou típico negativo africano, que consiste em  ter consagrado a democracia avançada a partir dos anos noventa mas que começa de há dez anos para cá a regredir  para as monarquias  que nem constitucinais são, são monarquias pessoais  partidárias.


Pode ouvir uma parte desta entrevista em: 
http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html
Selecione a emissão da manhã do dia 13 de Janeiro de 2011

quarta-feira, 12 de janeiro de 2011

Dom Jaime Gonçalves

Em Moçambique a Igreja Católica diz que há violação dos direitos das populações que vivem nas proximidades dos grandes projectos no país. O arcebispo da Beira, Dom Jaime Gonçalves, acrescenta que os os tais projectos em vez de trazerem beneficio para elas, só prejudicam. Este pronunciamento surge na sequência da publicação de um estudo do CIP, Centro de Integridade Pública, sobre  os mega projectos na área de mineração, cujo titulo é: "Questões à volta da mineração em Moçambique"

Dom Jaime Gonçalves: a questão não é só em Moçambique, é em muitos países de África. Fazem-se projectos de diversa natureza mas que não respeita os direitos das populações, temos dado exemplos da desflorestação das nossas terras, o corte de madeira  que parte para o estrangeiro. O corte da madeira muda o clima da zona e as populações enfrentam por isso as consequências negativas da desflorestação da sua região. Portanto, ai está o valor económico da desflorestação, da exportação da madeira e o prejuizo para as populações. Elas vem a madeira a sair e não reverte directamente para elas que cuidaram da floresta ficam sem proveito do projecto. Também fazem-se projectos que exigem recolha da água  para no futuro atingir objectivos previstos e a população fica sem água para ela e para o seu gado. Por conseguinte vantagens económicas de tais projectos prejudicam os direitos das populações. Estamos a dizer que os interesses dos diversos projectps devem respeitar a dignidade da pessoa humana, a sua vida, a pessoa huaman, o clima porque aqui vivemos.

NI: Então pode-se dizer com isso que há uma violação dos direitos humanos?
DJG: se me tiram a água para beber como vou viver?

NI: Considera que o governo está a desempenhar cabalmente o seu papel de protector, na medida em que deve velar pelos direitos das populações?
DJG: Os mega projectos, como tal, não são maus , e há até minimos projectos que podem ofender os direitos das pessoas, e nesse caso dizemos que a prioridade é a pessoa humana. Não se sacrifica a pessoa humana para se ter vantagens económicas. Nós queremos estabelecer uma hierarquia, as vantagens económicas não devem ser o sacrificio da pessoa humana.

Oiça a peça em:
http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html
Selecione a emissão da manhã do dia 11 de Janeiro de 2011

O cão

Foto: Ismael Miquidade
Titulo: Köln
Poucas vezes vejo os alemães conversarem no transporte público. Cada um se esconde atrás de um livro, jornal ou então entope os ouvidos com aqueles auscultadores dolorosos do celular, I Pod e sei lá mais o que, para ouvir música. Também não tem a obrigação de o fazer na medida que não se conhecem. E como perfeitos alemães que são tem de rentabilizar melhor o tempo.
Mas há excepções a regra, e a excepção neste caso chama-se cão. Esta semana vi um senhor conversar calorosamente com a dona de um cão no metro, ao mesmo tempo que acariciava incansavelmente o animal. E ninguém olhou para eles com cara feia porque não se calavam e ainda por cima falavam em tom um pouco mais alto do que o "normal".
Mas também esta esta semana vi uma senhora no machimbombo olhar várias vezes com cara feia para um bebe que tentava alegremente falar. Vi várias vezes muitos adultos ficarem irritados e admirados por verem bebes chorarem, talvez por cansaço, doença, sono, por qualquer coisa que fosse. Poucas vezes vejo um alemão se dirigir a outro alemão para comentar algo sobre o filho ou algo relacionado com ele. Não há aproximação, algumas vezes os mais simpáticos são repelidos violentamente, um olhar gelado já diz tudo, e por isso desistem de qualquer contacto. Os cães hoje são bebes e os bebes são cães... Será que está haver uma inversão das funções? Bem que um colega já tinha dito isso várias vezes e eu pensei que fosse exagero...

segunda-feira, 10 de janeiro de 2011

Malangatana se foi mas os seus "xipocos" continuam entre nós

Foto: Ismael Miquidade
Titulo:Jesus no reino dos xipocos

"Ishi... esses xipocos do Malangatana..." Era isso que frequentemente ouvia de algumas pessoas próximas quando viam os trabalhos do artista plástico moçambicano Malangatana. Cresci a ouvir isso, mas as pessoas diziam com admiração, isso do lado de lá. Enquanto do lado de cá a media e o mundo, que também o admirava, nunca fizeram menção a estes "xipocos", pelo menos não da mesma forma. Os meus conhecidos, a meu ver, não pretendiam com isso dizer que as obras de Malangatana eram uma coisa do mal, mas sim algo diferente e que afrontava, e o xipoco também afronta... Mas nem sempre quem afronta é mau.

Era com um espanto que só a minha gente sabe demonstrar... Para mim é esta forma como a maioria via, e continua a  ver, o trabalho desta referência moçambicana das artes plásticas.
As galerias, exposições, arte, eram uma realidade que não cabia no mundo deles, pelo menos com estes rotulos. Apenas a ele tinham acesso através de media. Mas foram sempre privilegiados com os murais pintados e esculpidos por ele nas avenidas da grande Maputo e outros lugares. Esta visão dos meus conhecidos era uma maneira mais simples de ver o trabalho do artista plástico, uma simplicidade que a meu ver carecterizava o próprio Malangatana e a sua as sua arte, ou artes.

sexta-feira, 7 de janeiro de 2011

Das Wörterbuch

Na Alemanha é bom que um estrangeiro ande sempre com um dicionário na mão. Só que um dicionário nunca publicado, não pense que o vai encontrar na livraria, nunca!  Mas as palvaras que lá estão fazem perte do dia-a-dia de muitos alemães e é importante que se tenha o domínio delas. Vou de agora em diante construir o meu dicionário de alemão-portugues...

Halloooooo: se um alemão se dirigir a si nestes moldes, não pense que é excesso de simpatia. Essa palavra quer dizer que você é um atrasado mental.

 ..................: esse buraco, quer dizer silêncio. Isso acontece algumas vezes quando se é atropelado por um alemão. É o equivalente ao nosso "com licença". Se o atropelador for educado vai lhe dizer "Achtung", ou seja, cuidado. Já alguém me disse que não existe o "com licença" em alemão, não sei se é verdade.

quinta-feira, 6 de janeiro de 2011

G 19 continuará a apertar o cinto a Moçambique em 2011?

Há possibilidade do G19 reduzir a juda ao Orçamento de Estado de Moçambique este ano. A relação entre o G-19, grupo de doadores, e o governo de Moçambique tem sido tensa nos últimos tempos porque os primeiros perdem a confiança no segundo devido a sua actuação no campo político e económico. Por exemplo, o G-19 fala de falta de transparência em processos eleitorais, questiona a boa governação, democracia e megaprojectos não rentáveis. Nadia Issufo, atraves da DW, entrevistou o economista Nuno Castel-Branco, do IESE, Instituto de Estudos Sociais e Económicos, e começou por perguntar sobre as implicações de uma redução e ele apontou algumas...




Nuno Castel-Branco:  Uma das implicações é obrigar o governo moçambicano a encontrar alternativas de financiamento, e isso pode ser feito de várias maneiras e uma dela pode ser que o governo procure arrecadar mais receitas fiscais. E outra alternativa seria renegociar os contratos com grandes projectos de investimento estrangeiro em Moçambique de modo a que eles comecem a pagar imposto em vez da situação actual em que eles beneficiam de enormes benefícios fiscais, e outro lado pode ser aquilo que parece ser  a tendência do governo moçambicano neste momento que é a duplicação?? da dívida pública em forma de financiamento, quer através dos créditos comerciais que está a obter através de economias emergentes, como é caso da China e do Brasil, quer através das parcerias público-privadas, principalmente com as multinacionais na construção de infra-estruturas. E isto tem uma grande implicação em termos, por um lado do custo do financiamento público, com o custo a divida a aumentar significativamente, e por outro lado o que isso significa em termos de orientação política do governo, porque se o governo financiar o seu orçamento com uma grande componente de divida comercial a sua estratégia  de despesas vai reflectir isso e vai se concentrar em áreas de retorno rápido em vez de áreas de impacto social  maior.

Nadia Issufo: Ao nível interno quais seriam as possibilidades de preencher os buracos do Orçamento de Estado, para além da colecta de impostos que citou a pouco?
CB: A nível interno a questão central é ir buscar efectivamente receitas fiscais aos grandes projectos, que por um lado é mais fácil identificar, é mais barato em termos de custo de transação, o espaço fiscal é enorme porque são trezentos milhões de dólares adicionais que o governo pode ir buscar aos megaprojectos sem implicações significativas da continuação dos investimentos estrangeiros de grande vulto, e por outro lado pode ser uma das medidas de menor custo político. A outra alternativa a nível doméstico é começar a entrar em outras áreas como a questão de impostos sobre propriedade, em especial sobre as grandes parcelas de terra e exploração comercial de terra que tem taxas extremamente baixas que deviam ser revistas para dar rendas ao governo substancialmente maiores do que as que obtém neste momento, particularmente porque a terra está a ser comercializada ilegalmente no mercado paralelo a preços muito mais altos do que as tarifas que o governo cobra pelo uso da terra.

NI: De alguma maneira esta redução da ajuda obriga Moçambique a ser mais auto-suficiente, ou menos dependente da ajuda externa?
CB: Quer dizer, a redução da ajuda vai obrigar a encontrar alternativas, podem ser ao nível de receitas, portanto outras formas de financiar o Estado,  quer ao nível de despesas que é, ou cortar a despesa em termos agregados, ou alocar a despesa mais para a condução de actividades produtivas. Portanto, essas são as questões sem duvida que as pressões ao nível da ajuda externa obrigam o governo moçambicano a tomar decisões. Agora quais são as decisões a tomar vai depender muito de quais são os interesses  mais influentes que agem sobre o governo. Por exemplo, neste momento os interesses de grande capital são dominantes na relação com o governo e este tem dificuldade de aceitar a necessidade de negociar com pequenos grandes de investimento estrangeiroos beneficios fiscais que está a dar, embora tanto o FM como o Banco Mundial, doadores e analistas estão constantemente a dizer ao governo que isso tem de ser feito. O governo parece mais inclinado a financiar a despesa pública com recurso a divida em parte porque dessa maneira escapa do problema político de enfrentar as grandes multinacionais e em parte porque isso cria oportunidades de negócios quer para as grandes multinacionais  quer para os interesses domésticos de capitais nacionais que estão ligados a essas multinacionais. Por exemplo, se as multinacionais vão investir em grande infra-estrutura, isso vai aumnetar os seus retornos e reduzir o contributo liquido que essas multinacionais podem fazer pela economia e passam o custo da despesa pública para o grande público por causa da redução da quantidade e qualidade dos produtos disponiveis. Então, isto é uma questão política e não técnica que o governo vai tomar em termos de financiamento público. As opções são várias, mas cada uma delas tem implicações e cria oportunidades diferentes. Na minha opinião a questão onde o governo devia avançar rapidamente com o apoio das organizações internacionais multilaterais e bilateriais, era avançar com as negociações de grandes projectos de investimento estrangeiro para recuperar os recursos fiscais que estão ociosos  por causa dos benefícios. Isto ia dar ao governo significativamente mais recursos a curto prazo e ia tornar o investimento estrangeiro e a exploração de recursos naturais de Moçambique muito mais proveitosos para a economia nacional.

NI: Até que ponto as manifestações de Setembro último contribuiram para diminuir a confiança dos doadores no governo de Moçambique?
CB: O ponto é que a relação entre governo e doadores está a deteriorar-se há algum tempo, não foi só a manifestação, em especial por causa de problemas de natureza política, por causa da democracia, transperência política, sobre o controlo crescente do partido no poder não só no Parlamento, mas na ajuda diária dos cidadãos e da economia, os doadores tem muitas duvidas sobre o futuro político de Moçambique. Agora, há dois eventos recentes que foram eaproveitados para exacerbar  o conflito, um deles foram os dados publicados pelo Instituto Nacionald e Estatística que mostram que nos últimos seis anos, a pobreza em Moçambique medida pela percentagem de população que vive a baixo da linha da pobreza absoluta não diminuiu apesar da economia ter crescido cerca de 50% ou 55% no mesmo período. Os mesmos dados apontam que a produção aliementar per capita em Moçambique baixou 9% nesse período de seis anos. Então, a questão que está a surgir é porque a economia de Moçambique cresce e não se manifesta numa redução da pobreza, inclusive a populaçõa a baixo da linha da pobreza aumentou em dois milhões e a percentagem não reduziu. Este é um problema que já vem sendo colocado há bastante tempo por analistas nacionais e os doadores recordaram  esse facto agora uma vez que os dados mostram claramente que há um grande insucesso nas políticas nacionais de desenvolvimento no que respeita a redução da pobreza. Segunda  coisa, é que as manifestações de um e dois de Setembro mostram clararmente um grande problema: que por um lado a economia cresce e  as classes média e alta beneficiam de serviços de melhor qualidade, mas a grande maioria da população não está a beneficiar do desenvolvimento. E a todos os níveis da sociedade é assim, vamos as zonas rurais e vemos que as camadas médias e altas do campesinato estão a fazer algum progresso, mas a grande maioria dos camponeses está a empobrecer mais. E as estatísticas mostram isto claramente e estão a ser consideradas seriamente pelos doadores. Finalmente os doadores estão  a colocar a pergunta, se o padrão de crescimento em Moçambique é o que deve  ser, se tomarmos em conta a necessidade de reduzir rapidamente os níveis de pobreza e melhorar as condições de vida da maioria da população, e não apenas alguns  grupos sociais de elite. Isto é uma questão que tem sido colocada por moçambicanos há muito tempo, no meu próprio trabalho académico há 10 anos que levanto esta questão. Portanto não é um assunto novo, mas neste momento ficou bastante importante, ficou clara para toda a gente ver  e no contexto do agravemento político nas relações entre  doadores e governo, que já se fazem sentir nos últimos dois ou três anos,  isto é uma oportunidade para os doadores fazerem pressão ao governo

  
Oiça a entrevista, selecionando a emissão da manhã do dia 6 de Janeiro, em:
http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html

terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Moçambique: contenção e regalias são as duas faces da mesma moeda



Em Moçambique o governo atribuiu doze novas viaturas aos vogais da Comissão Nacional de eleições, depois de o ter feito recentemente, na vespera das eleições de 2009. E em breve os próximos beneficiários serão os deputados da Assembleia da República. Enquanto isso o governo local diz que está a implementar medidas de austeridade para contornar a crise económica que afecta o país. E para refrescar a memória, em Setembro último Moçambique viveu a mais violenta manifestação desde a independência por causa do insuportável custo de vida. A DW conversou com o deputado do MDM, o Movimento Democrático de Moçambique, Ismael Mussa, que apresenta o seu ponto de vista sobre o assunto... 

Nádia Issufo:  Como avalia esta atribuição de viaturas tomando em conta a crise económica que o país vive?
Ismael Mussa: A luz da legislação moçambicana a determinadas funções no Estado são atribuidas viaturas de afetação, de serviço. As pessoas tem o direito de fazer o uso da viatura durante os cinco anos e tem a opção de alienação. Acontece, entretanto, que a Comissão Nacional de Eleições, CNE,  actual está em funções temporariamente, porque estamos ao nível da Assembleia da República a rever a lei eleitoral e na sequência desta revisão teremos a breve trecho uma nova CNE. O que seria correcto, tendo em conta a crise económica, e todo o discurso de contenção de despesas públicas, seria que os actuais membros, uma vez que eles se mantém interinamente nas funções, eles deveriam manter as viaturas que receberam há alguns anos atrás e não deveriam receber as novas viaturas, essa seria a postura correcta, e acredito que deveria ser adoptada pelo governo.

NI: Ao que tudo indica os deputados da Assembleia da República serão os próximos beneficiários...
IM: Os dirigentes superiores do Estado tem direito a viaturas de afectação e de alienação, é um direito consagrado a qualquer titular de cargo superior de Estado em Moçambique. O que deveriamos fazer daqui para a frente, tendo em conta que o país produz muito pouco, era revermos até que ponto isto é viável ou não. Agora que é um direito que está em exercício, é uma verdade. Mas o que acontece é que normalmente só se fala de deputados, mas nunca se fala a nível nacional de quantas viaturas o parque oficial tem, ele deve ter cerca de seis mil viaturas e se o país está ou não capaz de arcar com este parque de viaturas. E no âmbito das medidas de contenção fazermos uma redifinição das prioridades do país e revermos todas as leis em vigor. Esta seria a cautela mais correcta.

NI: Entretanto o povo que escolheu os seus representantes fez uma histórica manifestação  contra a subida galopante do custo de vida em Setembro último. Para si isto também constitui um paradoxo?
IM: Constitui por isso é que estou a dizer que é altura de fazer um are-avaliação, porque não adianta estarmos a falar dos deputados que pagam pelas suas viaturas quando o Estado compra milharwes de viaturas que ninguém cita. A mim o que me preocupa como representante do povo no Parlamento é que façamos uma re-avaliação global dos gastos por parte do Estado, e isso ninguém está a fazer...

NI: O senhor como deputado e os seus colegas que tem a noção de que é preciso fazer uma revisão, tomando em conta também a ctual situação económica do país...
IM: Nós fizemos essa proposta quando o governo veio com propostas e nós falavamos de contenção de gastos, quando solicitamos que reduzisse o número de ministros, por exemplo, que reduzisse o número de escoltas oficiais, que são bastante despendiosas, mas o primeiro ministro deixou bem claro na Assembleia que o governo não estava preocupado com esse tipo de gastos...

NI: E vocês como deputados seriam capazes de renunciar a estas regalias?
IM: Eu não poderia responder em nome colectivo, porque um direito é um direito e não é por ai que nós resolvemos. É mais ou menos aquilo que se diz, se alguém ganha dez mil dólares eu não devo lutar para baixar o salário para mil dólares, eu devo lutar para que todos ganhem mais. Portanto, eu acho um espirito bastante negativista se lutarmos pelo rebaixamento, não é isso que temos que fazer. O carro dos deputados, eles descontam para isso, enquanto que para os restantes titulares, os milhares de carros a que me refiro, ninguém paga um tostão por eles.

Oiça a entrevista em:
http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html
Selecione a emissão da noite do dia 4 de Janeiro

Acordo de Parceria Económica: Cada um por si...

O Acordo de Parceria Económica entre a União Europeia e África Caraibas e Pacifico pode levar muito tempo a ser alcançado, pelo andar das negociações. O objectivo principal deste acordo, que deveriam ser as relações comerciais entre a UE os blocos económicos da ACP, quebrou-se, sem antes começar, e alguns países em África já fazem o comércio com a União Europeia individualmente. A Deutsche Welle entrevistou a pesquisadora da Universidade Livre de Berlim, na Alemanha, Ulrike Lorenz, sobre o estágio das negociações. Segue-se um resumo da entrevista:

Nádia Issufo: De que forma as negociações directas entre os países africanos e a União Europeia, no âmbito da APE, podem ser prejudiciais para Africa?
Ulrike Lorenz: Este é de facto o contencioso nas negociações do Acordo de Parceria Económica. Do ponto de vista da União Europeia o novo acordo iria trazer melhores condições de comércio e investimento  para a ACP, África Caraibas e Pacifico, uma vez que o Acordo não irá apenas levar uma abertura total e completa dos mercados da União Europeia,  mas pode aumentar o comércio entre os países e regiões e consolidar os mercados.  Em África a situação, no geral, o Acordo de Parceria Económica é criticado por forçar países africanos a aderir a  acordos de livre comércio entre partes desiguais.  A União Europeia é acusada de quebrar a integração regional em África.

NI: África continua a ser fonte de matérias primas para  e Europa, e a Europa é forte na exportação de produtos acabados. É possivel falar-se de acordo de parceria económica equilibrado?
UL: Se olharmos para os últimos anos das trocas comerciais entre a União Europeia e a África Caraibas, e Pacifico veremos que as exportações da ACP ocorreram em condições preferênciais. Mas este acesso preferencial  e a importação da União Europeia dos ACP desceu de 7%  para menos 3%  das importações europeias. Mas nos últimos 8 ou 10  anos África melhorou a sua performance, mas nas mesa das negociações a  União Europeia tem sido o jogador mais forte. Mas este acordo tem sido muito contestado. E a  questão neste Acordo é quem tras o que a mesa das negociações.

NI: Moçambique é um dos países que decidiu assinar individualmente o APE com a União Europeia. Qual é a posição do país neste contexto?
UL: Moçambique tem um papel muito especial nas negociações porque na SADC é o único pais que é apenas membro da SADC e não pertence a mais nenhum bloco económico regional, diferentemente de outros membros da SADC, que também pertencem a outros grupos. Agora Moçambique decidiu manter por si relações comerciais, como parte da SADC, na negociação do Acordo de Parceria Económica. Penso que o sinal que o governo de Moçambique quer passar é de que eles estão dispostos a negociar com a União Europeia, estão dispostos a providenciar uma plataforma para que a negociação do comércio aconteça, que estão preparados para o comércio internacional.

NI: O que se pode esperar das negociações do APE entre África e União Europeia em 2011?
UL: No caso da negociação do Acordo de Parceria Económica com a SADC, por exemplo, há varias fontes que indicam que há possibilidades que se conclua a negociação com a Comissão Europeia e as negociações devem continuar ainda este ano."

Mais sobre o assunto para ouvir em: 
http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html selecione as emissões da noite de 28 de Dezembro e da
manhã do dia 4 de Janeiro.

domingo, 2 de janeiro de 2011

Andar de chapa na Alemanha



Não funcionam todos os dias, só em dias festivos como final de ano, carnaval, etc. Nessas ocasiões vale tudo, uma mão na bunda alheia, apertando-a para que as portas finalmente se fechem, corpos colados pior que na hora do amor, são centenas que se num corpo só, é a fusão do amor, para que mais um corpo entre para a orgia, enfim, nessa hora todos os estranhos são intimos!
Entretanto, ninguém se incomoda, pelo contrário! Quase todos estão com um sorriso na cara, a saida de um é motivo de comemoração em voz alta, sentir um penis na bunda, um seio nas costas, um hálito mais azedo ou um fedorzinho a tabaco não aborrece a ninguém. Nesses dias "diferentes" os chapas ficam abarrotados de tal modo que as pessoas chegam a ser expelidas para fora! Pode-se ver também mulheres atiradas ao chão nas mais sugestivas posições... Quando a porta se abre para um passageiro sair ninguém se quer retirar para dar passagem, o máximo que fazem é por um pé fora e manter o outro dentro do chapa como forma de garantir o lugar, mas sempre com um sorriso. Alias, andar de chapa na Alemanha é até assunto durante e depois da farra! E lembrar que ver sorrisos na Alemanha é coisa rara...
É a diversão que não tem todos os dias...
Já na minha terra andar de chapa é coisa do dia a dia, é problema, é sofrimento. Por isso sentir uma mão estranha na bunda é motivo de confusão, a saída de um significa alivio mesmo, porque aqui vale a frase "primeiro eu, segundo eu e terceiro eu..." porque a luta é permanente. Os bens materiais são escondidos nos mais recondidos orificios do ser humano, e então as mãos estranhas são obrigadas a não se contentar com apalpões, elas tem de sair com algum recheio, é preciso prencher a barriga...
E nas datas festivas as esperas nas paragens são longas, nem há possibilidade de sofrer, de ser assaltado, de receber um insulto gratuito do cobrador, de sentir estranhos odores... e mesmo assim as pessoas desesperam...
São os estranhos contrastes do mundo...  Como o drama diário de muitos pode ser a alegria e excitação de poucos... mas só porque é de quando e vez, é de brincadeirinha...