segunda-feira, 28 de dezembro de 2009

Angola: Existirá ainda o ponto de retorno?



"As negociatas dos deputados Angolanos" é mais um artigo de denúncia do jornalista e defensor dos direitos humanos angolano Rafael Marques. O mesmo resulta de uma pesquisa por ele realizada sobre a transparência e incompatibilidade de funções no Parlamento angolano. Em mais um conversa com esta figura, ficamos a saber de situações irregulares concretas. Marques, como sempre, meteu lá o dedo e você pode saber como saiu de lá o indicador dele...


Nádia Issufo: Acredita num esforço do Parlamento, como apelou o presidente do Parlamento angolano, Fernando da Piedade Dias dos Santos, para fiscalizar o governo com vista a uma maior transparência em Angola?

Rafael Marques: Não por uma razão muito simples, e parte do estudo que estou a fazer sobre o Parlamanto indica isso. É que grande parte dos principais deputados, aqueles mais influentes, estão envolvidos em negócios privados com membros do governo, logo não há como o Parlamento ter capacidade de fiscalização do governo porque há uma promiscuidade muito grande em termos de negócios privados que envolvem o Estado entre membros do Parlamento e do governo.

NI: No seu artigo fala de seis casos de deputados cujas actividades comerciais pedem uma atenção especial. Quer apontar concretamente essas situações?

RM:
Sim, a primeira é do secretário-geral do MPLA, Julião Mateus Paulo Dino Matrosse, que também é deputado, do vice presidente da Assembléia Nacional, senhor João Lourenço, que também foi secretario-geral do MPLA, e estes dois deputados estabeleceram um contrato com o governo em Julho passado para a criação de uma fábrica de cerveja e outra de vidros, no valor de 160 milhões de euros, com o ministro da defesa, o general Nkundi Payama. A lei angolana não permite que deputados e membros do governo façam contratos privados com Estado para beneficio próprio. Então, é uma violação clara da legislação em vigor por parte desses deputados, assim como da parte do ministro da defesa.
Outro caso marcante é que quem assinou esses contratos por parte do Estado é o anterior vice-primeiro ministro, senhor Aguinaldo Jaime, que agora representa o instituto para o investimento estrangeiro, assinou em nome do governo. E ele é o dono de um hotel quatro estrelas inaugurado em Novembro em Luanda, orçado em 58 milhões de dólares. Ele para fazer o hotel teve de assinar com a agencia que ele próprio representa, caso proibido por lei.Outro caso que apresento e é o mais caricato, é do deputado Afonso Van Dunem Binda, do MPLA também, é presidente da Fundação Sagrada Esperança, esta fundação pertence ao MPLA e há dias inaugurou o centro de conferências de Belas, onde decorreu o sexto congresso do MPLA, e onde também o presidente falou sobre a corrupção.
Esta fundação recebe do Orçamento geral de Estado 25 milhões de dólares por ano, aprovados pela Assembléia Nacional têm um contrato de 10 anos. A legislação angolana não permite isso porque o deputado neste caso esta numa situação dúbia, por um lado a legislar e aprovar o orçamento do Estado, e por outra a ser um dos principais beneficiário do Orçamento geral do estado.
A fundação encaminha parte desses fundos para uma empresa também criada pelo MPLA para a concessão de pensões a antigos combatentes e outros num processo obscuro que só beneficia os militantes leais do MPLA.
Com que fundos a Fundação Sagrada Esperança está a desenvolver grandes projectos comerciais, incluindo a construção de um edifico demais de 20 andares no centro da cidade orçado em mais de 60 milhões de euros. Num anuncio feito pelo deputado referiu que recebeu o empréstimo do banco. Eu ao fazer a analise da sociedade também dei conta que 45% das acções do banco Sol pertencem ao MPLA através de uma empresa que criou. É uma teia muito complicada.
O quarto exemplo tem a ver com a segunda vice-presidente da Assembléia Nacional, Joana Lima, que é a presidente do Conselho de Administração da Fundação Luwini da primeira dama Ana Paula dos Santos. A questão que se coloca: como uma deputada com um cargo tão elevado na AN pode ser funcionaria da esposa do presidente da República? Que autonomia tem para fiscalizar os actos de presidente na sua qualidade de chefe de Estado e chefe do governo?
E mais, esta Fundação também tem negócios, é o segundo maior sócio do banco Sol. E na sua assembléia geral tem como membros a Chevron e outras companhias petroliferas e outras multinacionais. Então, é uma promiscuidade muito grande.
O quinto exemplo é o do presidente da comissão de economia e finanças da AN, o senhor Diógenes de Oliveira. Ele é administrador do Banco comercial angolano. A lei orgânica do estatuto dos deputados e a Constituição proíbem claramente os deputados de serem membros de conselhos de administração de empresas privadas. No entanto temos um caso claro e aberto que é do conhecimento de todos os cidadãos, de que o senhor Diógenes de Oliveira acumula a função de deputado com a de administrador de um banco. E eu estou a levantar esses casos precisamente num momento em que o presidente tem feito anúncios que tem corrido o mundo de que decretou a tolerância zero a corrupção para mostrar como a corrupção está institucionalizada em Angola e com o beneplácito dos próprios dirigentes e que os próprios dirigentes não conseguem dirigir o país sem esse ardil de corrupção.
O sexto exemplo tem a ver com o presidente da comissão constitucional. Hoje estamos a passar por um processo constituinte com muitas dificuldades e muitas cidadãos compreenderão qual mo papel do presidente da comissão constitucional, o senhor Bornito de Sousa, também chefe da bancada parlamentar do MPLA. Ele é sócio de da mundial seguros, uma empresa privada de seguros. Esta empresa tem como sócio maioritário o banco de poupança e crédito que é um banco de capitais públicos. Isto é proibido por lei. Como o deputado é sócio do Estado num consórcio privado? A lei claramente proíbe isso. Estou a falar de empresas criadas enquanto esses indivíduos estão em funções. Logo, não há como esperar do parlamento qualquer fiscalização dos actos do governo

NI: As instituições que tem de fazer valer a lei que papel tem desempenhado diante das irregularidades que nos aponta?

RM: Por isso é que comecei as minhas investigações como o procurador geral da República. O procurador também tem várias empresas, e duas delas, a Lídimo e Prestcom, também oferecem serviços de consultoria jurídica e acessoria legal o que é contra a lei. E mais, o procurador-geral, segundo a Constituição, não pode exercer qualquer função privada. No entanto o procurador geral senta-se nas assembléias gerais das suas empresas. É preciso... para que se debata o problema da corrupção, é necessário que os cidadãos tenham acesso a informação e sejam eles através de mecanismos cívicos de pressão, a demonstrar que o governo está incapaz de gerir o país para o bem comum. Porque de outra forma, confiar nas instituições do Estado, como no poder judicial, seria uma desilusão porque todos comem da mesma panela.


"O Contributo das empresas e governos estrangeiros no aumento da corrupção"

NI: Dado imbróglio que Angola vive nos campos da transparência, boa governacão e combate a corrupção, como considera que deve ser feita a luta contra esses males?

RM: Não há um esforço do governo para que haja transparência nos seus actos, é preciso esclarecer isso. Os discurso do presidente José Eduardo do Santos são desde 1980, quando assumiu o poder e já foram mais criticos. Ele transfere sempre as respossabilidades dos seus actos para os seus subordinados quando ele é o chefe do governo. O que é fundamental é que os cidadãos ganhem consciência de que a corrupção é um crime que está a lesar a pátria, que está a destruir o tecido social angolano, que está a destruir a função pública, e o sentido do que é o Estado. E quando os cidadãos compreenderem isso, e que devem viver do seu salário, e que "os esquemas", como nós aqui chamamos, de sobrevivência, não fazem se não alimentar este rol de destruição moral, civica e política do país, então as pessoas começarão a exigir um novo tipo de governação e novos governantes. Porque dizer que há um esfoço do governo para combater a corrupção, isso é mentira.
Porque o que se vê na realidade e o agravamento da situação porque alguns dirigentes pensam que a legalização dos actos de corrupção em principio abole a corrupção. Eu mencionei contratos assinados entre deputados, ministros e deputados para a legalização de negócios privados. Isto é contra a lei e mesmo que essas empresas passem pelo conselho de ministros e sejam aprovadas, o saque que os dirigentes fazem e reinvestem em projectos privados e por essa via se faz a lavagem desse dinheiros, tudo isso constitui uma ilegalidade perante a legislação angolana e os cidadãos devem criar mecanismos para divulgar cada vez mais a legislação contra a corrupção. A corrupção em Angola hoje tem um grande meio de suporte que são as empresas e governos estrangeiros que assinam contratos bilaterais com Angola para a protecção de investimentos que incluem também aquilo que é roubado erário público, e um exemplo é Portugal. Hoje a família presidencial está a investir milhões de dólares neste país, a filha do presidente que representa os seus negócios, praticamente a maior investidora privada em Portugal, que pode beneficiar deste acordo bilateral de protecção recíproca de investimentos com Portugal. Mas isso é dinheiro roubado de Angola e é isso que é preciso explicar as pessoas e encontrar mecanismos para levar a justiça aqueles que estão a transformar Angola num país onde só a corrupção vale, e impera e a corrupção domina o modo de governação neste país.

NI: Neste momento as organizações da sociedade tem condições de exigir transparência ao governo e aos parlamentares?

RM:
As organizações em si não têm condições, isto é uma questão de consciência. Porque aqui se trata mais uma vez da questão da libertação social e política dos cidadãos angolanos. Por exemplo, eu estou a animar este projecto anti-corrupção não tenho uma organização, não tenho sttaf, simplesmente tenho capacidade de recolher a informação. A internet hoje é um veiculo muito barato para a divulgação de informação e uma vez que esta informação seja bem estruturada e verídica acaba por criar repercussões. Então é isso que é fundamental, que os cidadãos se sintam como indivíduos com poder suficiente que a Constituição garante para fiscalizar os actos do governo, para falar em nome da sociedade, e para encontrar mecanismos que permitam uma sociedade mais transparente. Termos uma sociedade onde o governo sirva os interesses do povo e não dos dirigentes.


NI: 2009 se foi praticamente. Consegue ver algo de bom que tenha acontecido em Angola?

RM:
Sim, muitas coisas boas aconteceram em Angola. É uma sociedade onde os cidadãos diariamente procuram novas formas de actuação e alguns problemas estão a ser resolvidos e outros estão a ser criados. Mas e como qualquer sociedade, há avanços e recuos e isso é que fundamental reconhecer. Não é uma sociedade estática, é dinámica. Tem se notado progressos em varias áreas, retrocessos noutras. E é preciso que os cidadãos continuem a lutar pela melhoria da sociedade. E esta não é uma questão reservada apenas aos dirigentes, mas a todos os cidadãos. Eu penso que há cada vez maior consciência entre os angolanos sobre a necessidade de participara activamente na vida política e nas mudanças que o país precisa.

NI: O que gostava de ver realizado em 2010 para o seu povo?

RM:
Uma maior acção cívica por parte dos cidadãos, um maior empenho, uma maior batalha na luta contra a corrupção. Porque é o principal mal que trava o progresso, a afirmação dos angolanos. Porque hoje só é promovido aquele que tem condições de garantir a manutenção dos mecanismos de corrupção ou alimentar os mecanismos de corrupção. E quando se estancar a corrupção certamente teremos uma sociedade onde a competência será valorizada onde a honestidade e integridade farão parte das exigências na função pública e no sector privado, hoje é o contrario. O angolano que se afirma honesto e integro é chamado de burro, então é preciso inverter esse quadro.




Pode ouvir esta entrevista em duas partes através do: http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html selecionando a emissão da noite do dia 28 de Dezembro e emissão da manhã do dia 30 de Dezembro

Feminino no Feminino



28 de Dezembro de 2009
01:26 da manhã
Embarco
E no mesmo instante
Lindos lábios carnudos se me impõem
E se entreabrem...
Mostrando lindos dentes
Também entreabertos...
Perturbando o já velho hábito de mais de 33 anos
Eu conheço essa boca e esses dentes!!!
Vasculho a minha caixa a procura do proprietário e nada!
Coloco A e não bate
Retiro e meto B, mas também não encaixa
Tento C e nada!
Não há encaixe possível
Mas de uma coisa tenho a certeza: era uma boca Makhuwa...
Merda!
Era uma boca feminina!
Desembarco imediatamente!
Que atrevimento...
Relaxo e depois de duas horas embarco novamente
Tranquila como acontece quase sempre desde que dei o primeiro grito...

quarta-feira, 23 de dezembro de 2009

O verdadeiro Negócio da China...

Foto: Ismael Miquidade
Titulo: Motherland

Filho:
O negócio onde se investe sem esperar lucro
É só investimento, investimento, investimento...
Quanto mais melhor!
Sem perspectiva de retorno...
Sem contrapartidas...
Sem medo de danos...
Sem cobrança...
Só dar e dar...
Mais e mais...
Não há nenhuma crise financeira e económica que consiga abalar este negócio!
Não há nenhum FMI e companhia a ditar as regras do jogo!
Também não há empréstimos!!!
Ou será que há??
Mesmo assim vale a pena...

segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Guiné Conacry: Anciãos já não desempenham o seu papel?

As Nações Unidas publicaram nesta segunda-feira o seu Relatório sobre o massacre de 28 de Setembro na Guiné Conacry e chegaram a conclusão óbvia e já conhecida, que o mesmo foi um crime contra a humanidade...
A ONU tinha enviado uma equipa para o país para investigar o sucedido e os resultados foram dados a conhecer no seu Conselho de Segurança.
“A comissão considera que há provas suficientes para supor a responsabilidade criminal directa do presidente Moussa Dadis Camara”, diz o relatório. Segundo o diário francês "Le Monde", para além do capitão Camara, a comissão de inquérito considerou ainda responsáveis o seu antigo ajudante de campo Aboubacar "Toumba" Diakite e um outro seu aliado, ClaudePivi. " Lê-se no site da SIC: http://sic.sapo.pt/online/noticias/mundo/Massacre+de+28+de+Setembro+na+Guine+e+crime+contra+a+Humanidade.htm
"Segunda-feira Negra" é o titulo do Relatório da "Human Rights Watch" sobre o sucedido. Chocada com a dimensão da brutalidade foi como esta organização de defesa dos direitos do Homem, já habituada a lidar com violações, disse ter ficado.
Pode ouvir a peça sobre o pronunciamento da "HRW" em: http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html, selecionando a emissão da manhã do dia 22 de Dezembro.
Muito bem! A primeira fase, depois da desgraça, está concluida. Confirmações das barbaridades no terreno. E depois? Virá alguma acção concreta de algum lugar para evitar o descalabro, se é que ainda não está, deste país? Parece que sim...

Depois do leite derramado...
O primeiro passo a ONU já deu: a embaixadora deste organismo disse que o Tribunal Penal Internacional pode investigar os responsáveis pelo massacre. Susan Rice lembrou que a Guiné ratificou o Tratado de Roma que estabelece o primeiro tribunal permanente para julgar casos de genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade. E o Tratado dá ao tribunal autoridade para determinar quando iniciar as investigações.
Enquanto isso a mediação da crise deste país ao nível da região mostrou-se um fracasso depois que a Junta se baldou para ela.

A Guiné Conacry caiu no saco do esquecimento do mundo?
Não sei dizer... Mas que a situação deste país foi tratada de forma marginal me atrevo a dizer... E quem acompanha a situação do país irá concordar, pelo menos um pouco.
Conversando com um cidadão guineense colhi algumas opiniões. Uma delas é de que o continente nada faz para que o seu país saia deste marasmo. O cidadão apelou para "uma mão lava a outra e as duas lavam a cara" lembrando da ajuda que a Guiné Conacry deu a Moçambique, Angola e outros e esperando, por isso, por um retorno também. Respeito o desejo de ver materializada a frase sobejamente conhecida, "Uma mão lava a outra", afinal só assim o mundo segue. Mas, antes de ver as coisas como transações "comerciais", ou sendo menos dura, troca de favores, sou um ser humano e pequeno! Por isso considero e acredito que a situação tem de ser vista e resolvida primeiro considerando o ponto de vista humanitário, sem chamar as dividas a mesa! Senti neste individuo o desespero pelo sentimento de abandono.

O apelo do emocional colectivo
O nosso diálogo tinha emperrado na questão dos "pagamentos". Mas depois inteligentemente o cidadão veio com uma justificação no mínimo plausível: é preciso que os lideres africanos, considerados respeitados, intervenham com o apelo e a recuperação dos ideiais de grandes nomes da política africana, como é o caso do ex-presidente da Guiné Conacry, Ahmed Sékou Touré. O cidadão não espera ajuda financeira, envios militares, mas sim um elemento, senão histórico pelo menos de enquadramento, que catalize a coesão do colectivo guineense catapultando-os para dentro dos carris.
África é um continente que tem as suas sarnas para se coçar e acredito que por isso, também, os seus lideres estejam ocupados a cuidar das suas feridas e também dos seus umbigos. Mas isso não nos impede de olharmos para o vizinho. E eu que olhava para o meu continente com mais respeito e orgulho nos últimos dois anos por ver os nosso lideres mediarem com algum sucesso os casos mais cabeludos do continente sem precisarem de "intervenção" ocidental, fui obrigada a frear os travões...
Esta não é a primera vez este mês que oiço uma opinião do género. O Ruanda pediu aos seus irmaõs africanos que extraditem os supostos envolvidos no genocídio de 1994 e até bem pouco tempo, não teve resposta. O procurador geral deste país assim o disse e de uma forma bem contundente, dando até exemplos de paises europeus e dos EUA que se tem empenhado para que seja feita a justiça. Parece que só reagindo assim se consegue frutos, pois pelo menos Moçambique decidiu, depois de dois anos de apelos ruandeses, enviar a sua ministra da justiça com a mensagem de que vai colaborar com as autoridades do Ruanda e que vai assinar um acordo de extradição com o Ruanda. Vergonha na cara...

Génese ...
Quem sou, de onde venho, para onde vou e como quero fazer isso. E os que nos rodeiam tem um papel fundamental na construção deste percurso. Ignorar o próximo também é um contributo para a sua auto-destruição... mesmo que esse individuo tenha mais de 50 anos, como é o caso da Guiné Conacry...
Está na hora dos guineenses se reencontrarem primeiro e seguir depois, com ajuda claro, (re)construindo o seu destino.
Parece que a tradicional forma de resolução de conflictos da "família africana" deve ser resgatada...
Entendi sem muito esforço os argumentos de quem conhece o seu país e o seu povo. Não como jornalista e cidadã do mundo, mas como ser humano...

segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

A Tia Esperança morreu?

E soltaram mesmo o "peido da divisão" em Copenhaga! O tal gás quase está a matar a tia Esperança cansada de viajar de um lado para o outro. A viagem da "caixeira viajente" começou a sério em Kyoto em 1997 com várias paragens por ai. Espera-se (pelo menos os paises em desenvolvimento) que na capital dinamarquesa ela possa recarregar as baterias e continuar viagem. Mas os países industrializados querem uma substituta para a tia que carrega o pesado fardo assim que a outra se aposentar em 2012. Mas faltou o consenso entre as duas partes o que levou os primeiros a abandonarem a Conferência temporariamente.
E
ste primeiro grupo receia que, ao abandonar Kyoto, os países industrializados fujam dos compromissos já assumidos – como a redução de emissões de gases que provocam o efeito estufa em 5,2% em relação a 1990 até 2012 – e ao mesmo tempo queiram cobrar mais dos países emergentes. Já o segundo grupo, tem medo de assumir novos compromissos em cima do Protocolo de Kyoto, o que pode constituir um fardo nas suas economia, enquanto os Estados Unidos – que não ratificaram o protocolo vigente – escapariam mais uma vez.

E na sequência do nauseabundo "peido da divisão" os africanos tentaram manter viva a tia em estado vegetativo e soltaram as "manguinhas de fora" dizendo um basta aos paises mais industrializados.
"Passamos ao alerta vermelho" estas foram as palavras proferidas hoje pelo chefe da delegação nigeriana, Victor Ayodeji Fodeke, na Conferência do Clima em Copenhaga. "Estamos numa encruzilhada: enviamos uma mensagem de esperança para África ou o fim da esperança em 'Hopenhaga'", alterando o nome da capital dinamarquesa em referência à palavra inglesa "hope" ou seja, esperança.

E assim o primeiro grupo suspendeu a sua participação no encontro numa tentativa de pressionar para que os paises mais industrializados que assinaram o Protocolo de Quioto renovem os seus compromissos. Mas ainda no mesmo dia eles voltaram atrás e sentaram-se ao lado dos paises mais industrializados e continuaram as conversações. A esperança é mesmo a última que morre

Do Arroto da Vaca ao Peido da Divisão

Ouvi e aprendi numa radionovela educativa sobre mudanças climáticas que as vaquinhas também têm culpa no cartório quando se fala em alterações no ambiente. Até elas têm culpa!
“ As vacas, juntamente com mil milhões e meio de outras vacas em todo o mundo, são responsáveis por cinco por cento de todas as emissões de gases de efeito de estufa!”. E um dos personagens explicava que "o que faz mal ao ambiente é o ar que sai das suas bocas e não os gases.”

Não preciso dizer que fiquei boquiaberta com esta informação que o meu cérebro acabava de processar. Mas depois dei uma gargalhada daquelas que nos deixam com a sensação de alívio e bem estar. Talvez por saber que arranjei "alguém" para dividir as culpas por poluir tanto o ambiente...
Nada de desespero! Há sempre uma solução...

Soube ainda na mesma radionovela que "os cientistas no Reino Unido, acabaram de criar uma nova comida, uma mistura de palha e de feno que acalma o estômago da vaca e que pode reduzir as emissões de metano em vinte por cento." Isto é só nome do meio ambiente e da vida, não é adulterar o que a mãe natureza fez... Não vai alguém pensar que isto também é uma alteração...

Será que os arrotos das vacas são tema de agenda dos ilustres senhores que participam da Conferência do Clima em Copenhaga? Está bem, vá lá... sei que não. Mas nem nos intervalos só para servir de aquecimento para discussões mais sérias, como a poluição norte-americana, chinesa e russa? É só uma curiosidade...

E depois do arroto "viajei na mayonese", como diz uma amiga brasileira, para outros gases. Para o "peido da divisão" do Romance do grande Pepetela "Jaime Bunda e a morte do americano". Explico o que é o referido peido citando a obra "Não é aquele tipo de peido que se faz anunciar e denuncia imediatamente o seu dono... Mas o peido insidioso, embuçado, capaz de arrefecer os ânimos numa festa e pôr todos a desconfiarem uns dos outros..."

Será que é esse o clima que se vive na capital dinamarquesa? De divisão e principalmente de desconfiança em relação as intenções e compromissos que assumem? Reina o "peido da divisão" em Copenhaga? Talvez discutem também nos intervalos sobre quem tem mais vacas e como minimizar os custos com a tal alimentação que acalma o estômago da vaca... Talvez com a atribuição de um subsídio aos produtores... Eu sei lá!!!!

quinta-feira, 10 de dezembro de 2009

E das Cinzas Nasce Daviz Simango...



A figura política do momento em Moçambique esteve na Alemanha esta semana a convite da Fundação alemã Konrad Adenauer para participar da Conferência do Partido Popular Europeu. Tive a oportunidade de conversar com ele por cerca de vinte minutos. Daviz Simango, o presidente do partido que está a mostrar pretender ser uma oposição credível, falou a Deutsche Welle sobre algumas questões que ficaram suspensas durante as últimas eleições no país.


Nádia Issufo: Está satisfeito com os resultados das eleições em Moçambique?
Daviz Simango: Para ser sincero não, porque o processo eleitoral moçambicano foi tão injusto de modo que vivemos numa situação inadmissível em Estado democrático e de direito. Verificamos uma CNE que excluiu partidos políticos e muitas vezes as pessoas pensam que aquela decisão influenciou os resultados, mas para nós está claro que o MDM teria tido melhores resultados do que os que têm hoje. Portanto, é uma luta muito forte, é uma luta em que precisamos de repensar que tipo de CNE o país precisa, de certeza que não é esta CNE. Têm de ser inclusivos, solicitar o seu voto ao eleitorado e compete ao eleitorado fazer a tal exclusão. Por outro lado, sentimos que o Conselho Constitucional agiu de má fé, não teve a maturidade de transparência e de imparcialidade ao analisar os processos que submetemos a eles. Limitaram-se ao mapa-controlo que tinha defeitos e ficou provado com a situação do PDD em que afinal de contas a CNE reconhece ter havido alguns erros no mapa-controlo.

NI: Acredita numa partidarização da CNE e do CC?
DS: Isso é muito forte, muito forte. Se formos a olhar para o passado não nos restam dúvidas de que há uma partidarização muito forte, há uma grande influência política sobre esses dois órgãos. Infelizmente são órgãos que deviam pautar por uma transparência, por pôr em ordem o que é necessário para que os moçambicanos sintam um Estado de direito. Infelizmente é a realidade que vivemos, sentimos que o presidente da CNE é um teleguiado pelo partido no poder, sentimos também que o CC comunga com as mesmas idéias, o que é muito mau. Tivemos anteriormente um presidente do CC, o Doutor Rui Baltazar, que nos parecia um pouco mais transparente, mais honesto, mas infelizmente essa situação mudou drasticamente em Moçambique.

NI: Na sua opinião como devem ser constituídas estas instituições que arbitram os processos eleitorais?
DS: Notamos no processo da constituição dessa CNE que várias pessoas da sociedade civil foram simplesmente negadas, porque afinal de contas havia medo de que essas pessoas iriam optar pela transparência e justiça. Optou-se por escolher um grupo de amigos. Infelizmente os membros de alguma sociedade civil que estão lá dentro deixam muito a desejar, o que é mau.

NI: O MDM juntamente com outros partidos terão já delineado alguma estratégia com vista a ditar a mudança na forma da constituição de instituições como CC e CNE?
DS: Nós pensamos que é preciso que a sociedade civil por si e só se escolha. Os partidos políticos podem estar lá representados, mas não como arte de imposição e sim como componentes que de perto possam se comunicar. Mas por outro lado a liderança deve estar nas mãos da sociedade civil, mas esta não deve ser imposta.

NI: Reconhece algum tipo de falha da sua formação política que tenha contribuído, também, para a derrota do seu partido?
DS: Nós somos um partido que nasceu em Março e em Julho decidimos tomar a dianteira para concorrer as eleições a quatro meses da eleição de 28 de Outubro. O Partido mostrou capacidade organizacional, força de vontade e empenho de contribuir para um Moçambique para todos. Portanto, não notamos alguma falha. Eventualmente não era possível ter, por exemplo, delegados de lista ou fiscais a nível nacional porque isso envolvia custos e o MDM não tinha meios para tal. O MDM fez uma cobertura na ordem de 70%, o que é muito bom até o partido no poder não conseguiu fazer a cobertura em 100%. Portanto, o partido no poder tem duas vantagens: primeiro recorrem aos meios do STAE, são sete pessoas por mesa que na sua maioria exerce a função de olheiro do partido no poder e nós os outros temos que galgar com os nosso próprios. Também é preciso compreender um fenómeno que aconteceu, as pessoas ficaram desmotivadas e não foi fácil encontrar pessoas disponíveis dadas as distâncias.

NI: Acredita que o MDM tem a capacidade de colher os votos dos moçambicanos considerados realmente alfabetizados?
DS: Acho que sim, o problema chave agora é o que o MDM deve capitalizar do que conseguiu durante a campanha eleitoral. Constituímos um partido e logo entramos na corrida eleitoral, agora temos quatro anos para trabalhar no terreno. É preciso que o MDM trabalhe muito no meio rural onde a comunicação é deficiente e é ai onde precisamos de montar a nossa estrutura cada vez mais forte e sólida e que possa garantir que haja penetração massiva no seio das populações

NI: Vê o seu partido como uma esperança para os moçambicanos?
DS: O MDM é de certeza o governo do amanhã, disso não temos dúvidas.

NI: A sociedade, os políticos e a comunidade internacional dizem que há democracia no país. Entretanto, o partido no poder cada vez mais conquista o seu lugar e se consolida com base em pilares da democracia, através de instituições que arbitram o processo eleitoral, como CNE, CC, observadores locais, regionais e internacionais. Com vê isto, com bases nesta democracia legitimada que Moçambique retorne ao tempo do mono partidarismo?

DS:
Em Moçambique há dois factores interessantes: o primeiro é o discurso político dos membros do partido no poder. Há um discurso que diz “que nem com democracia nem com eleições sairiam do poder”, estou a citar o general Alberto Chipande. Há uma outra citação de Marcelino dos Santos que diz que “o país só vai andar e desenvolver e haverá uma verdadeira paz se existir um partido único”, portanto, são citações de pessoas dentro do regime. Estas situações mostram claramente que a democracia no país é de fachada, portanto, é preciso lutar para que haja uma democracia efectiva. A democracia só se faz sentir no tempo de eleições, não é essa a democracia que queremos. Queremos uma democracia que exista mesmo quando não há eleições, em que as instituições estejam fortes, em que haja uma separação nítida de poderes, entre o poder executivo, legislativo e judicial, em que o poder judicial não seja nominado pelo chefe de Estado. Queremos que um procurador geral seja indicado por concurso público, que os magistrados dentro da sua carreira sejam indicados, queremos que os reitores deixem de ser nomeados pelo chefe de Estado, poderão ser homologados, mas que dentro do Conselho universitário haja condições para tal. Enquanto esses pilares básicos não existirem dificilmente haverá democracia. O que está a acontecer e que o partido no poder se confunde com o Estado, notamos que os meios do Estado estão a ser usurpados pelo partido no poder.
Em relação a situação dos PCAs em que a legislação não está clara, não está claro quanto a punição da corrupção e isso tem que estar claro. E isso que os nossos deputados vão ter de fazer, terão de submeter propostas concretas sobre como agir contra a corrupção. Não uma legislação clara sobre conflitos de interesse. Portanto, a elite política do país continuar a dominar a economia do país e isso é perigoso. No nosso país ainda não há a democracia desejada, esperemos que com a alternância no poder os pilares básicos de uma democracia possam acontecer. É preciso compreender também que a função dos órgãos eleitorais não é de excluir partidos, eles devem trabalhar para inclusão dos partidos, monitoria e sensibilização dos partidos políticos sobre diversos procedimentos legais. Tem de se criar uma plataforma de simplificação de processos em que todos os moçambicanos possam concorrer.

NI: Consegue olhar para a RENAMO com um potencial rival?
DS: A RENAMO é um partido de oposição como nós. Temos a glória de estar em quatro meses em órgãos de decisão no país. Agora, compete a RENAMO dar o seu espaço e ao MDM também dar o seu espaço. um dia um de nós poderá estar no poder. Somos aliados de oposição, o importante é que façamos política neste momento.
Pode também ouvir os audios desta entrevista em três partes, atrevés do site: www.dw-world.de: http://www.dw-world.de/dw/article/0,,4996506,00.html, emissão da manhã do dia 9 de Dezembro. http://www.dw-world.de/dw/article/0,,5011332,00.html, emissão da manhã do dia 14 de Dezembro. http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html, emissão da noite do dia 18 de Dezembro.

Obama o Prémio Nobel da Paz

Se muitos não concordam com o facto do Presidente norte-americano ter sido nomeado Prémio Nobel da Paz por não ter feito o suficiente para merecê-lo, pode-se pensar que pelo menos o título serve para dar mais responsabilidade à Obama na condução dos assuntos importantes da humanidade. Se não é por merecimento, pelo menos ele vai ter de saber como lidar com as "batatas quentes" que têm na mão...
Golpe de mestre, eu acho. Não vai um líder importantíssimo queimar o seu nome ao frustrar o mundo que deposita toda a confiança nele. Nobel da Paz ou do Problema? He, he, he...

Dia Mundial dos Direitos Humanos

sexta-feira, 4 de dezembro de 2009

Bola de Neve e bauxita, ouro, diamante, e mais e mais...

Há quase um ano atrás, a 24 de Dezembro, o capitão Dadis Camara desfilava vitorioso pela cidade de Conacry num belicista cortejo, que integrava os seus militares de arma em punho e aplaudido por alguns por ter feito o que se chama de golpe de Estado branco. Ontem um desfile, embora que menos vistosos e mais individual, também aconteceu, mas desta vez levou-o ao hospital da cidade...
Um intervalo negro, entre um cortejo e outro, controverso e regado de muito sangue e lágrimas num país que está em queda livre.

Uma autêntica “salada russa” como se chama na minha terra a um conjunto de problemas, com ingredientes que uns consideram “chineses”, a mistura com outros ocidentais. Riquezas naturais que atiçam a cobiça de muitos, tanto dentro como fora do país, uma sociedade onde a questão étnica ainda é o motor que movimenta tudo, incluindo o que não deve: a política.
A agudizar tudo isto, o temperamento dos guineenses parece, se não de inconformados, no mínimo explosivo. E podemos ainda acrescentar mais, a Guiné Conacry é considerada a plataforma giratória da droga que vem da América Latina e que continua viagem até ao velho continente. E de fora não fica o facto dos militares terem um poder desmesurado neste país.

Afinal a quem interessa a instabilidade na Guiné Conacry?
No dia 15 de Outubro lia-se no site BBC Brasil “Fundo chinês está negociando exploração de minérios com governo militar da Guiné, que é acusado de abusos. A organização não-governamental Human Rights Watch afirmou que um possível acordo de US$ 7 bilhões de um fundo de investimento chinês com o governo da Guiné pode fortalecer o regime militar que assumiu o país há dez meses.”
Num país fragilizado, ou frágil, facilmente se consegue tudo desde que se tenha dinheiro ou o que dele advém. E ponto fraco chama-se ganância, aquela doença que atinge muitos lideres africanos e que conduz os países que dirigem a falência. Mas outros também assinaram acordos que lesam o desenvolvimento do país e da sua população.

Senso de Oportunidade ou Porquice?
Diz-se que o mundo dos negócios é cão e para se atingir fins não se olham os meios. Tal como supostamente os chineses os outros também o fazem. A minha questão é: como se empenham em fechar grandes negócios com um Governo que sob o ponto de vista democrático constitui uma aberração? Que é provisório? Quando se aproveita deste tipo de fraquezas, muito há por se dizer...

Democracia: sinónimo apenas de eleições?
Quando o capitão Dadis Camará tomou o poder de forma inconstitucional “os pais” da democracia e dos Direitos Humanos fizeram os habituais apelos e discursos. A União Européia, a União Africana, os Estados Unidos e a Federação Internacional das Ligas dos Direitos Humanos condenaram a tentativa de golpe de Estado na Guiné, e defenderam o respeito da Constituição para organizar eleições livres. A ONU, por sua vez, pediu "moderação" a todas as partes envolvidas. Foram feitas as pressões habituais para a realização das eleições e o retorno a legalidade. Mas nada interrempeu a intimidação, clima de terror, e quase ditadura que o país viveu. Esperaram para que a merda fedesse para que se instaurassem “comichões de inquérito”. Lê-se no site da Panapress:
“O presidente da Comissão de Inquérito das Nações Unidas sobre o massacre perpetrado na Guiné-Conakry, a 28 de Setembro passado, Mohamed Bedjaoui, começou sábado a ouvir várias testemunhas para apurar a verdade sobre estes trágicos eventos, soube a PANA junto dos inquiridos” Mais pode ser lido em: http://www.panapress.com/freenewspor.asp?code=por007957&dte=28/11/2009
Também o Tribunal Penal Internacional já está a pensar em bater o seu pesado martelo na mesa...

Mostrar trabalho?Enquanto o capitão liderou os destinos dos guineenses, os parentes do ex-Presidente Lansana Conté, considerados corruptos, foram presos, acusados de envolvimento no negócio da droga e outras coisas duvidosas. Também durante o regime do capitão, algumas redes de droga foram desmanteladas. Ou seja, tentou limpar a casa, ou mostrou que na sua casa a ordem devia ser reposta. A intenção era só de legitimar o seu cargo de Presidente?

O mau da fita?Difícil saber. Se não o era, então meteu os pés pelas mãos e está visto! Se era, também meteu os pés pelo mesmo sitio...

A Cobra morde a mão do tocador?
O capitão conseguiu ascender à presidência porque reuniu o apoio militar. O extremo que esta Junta conseguiu, pelo menos não se provou o contrário até ao momento, foi o massacre do dia 28 de Setembro que matou mais de 150 pessoas e a violação de dezenas de mulheres cujas as imagens chocantes podem ser vistas no youtube.
O capitão aceita que a “Comichão de Inquérito” funcione abertamente no país. Ainda na mesma notícia da Panapress lê-se: "O chefe da junta e o seu primeiro-ministro comprometeram-se por escrito a assegurar a independência da Comissão de Inquérito, criada pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, após os eventos trágicos que se seguiram a um comício popular liderado pela oposição para denunciar a candidatura do chefe da junta às eleições presidenciais de Janeiro próximo."

Alguém tem de assumir as culpas.
A Panapress noticia: "Segundo as fontes, tiros teriam sido disparados contra o cortejo do chefe da Junta guineense pelo seu ajudante de campo, Aboubacar "Toumba" Diakité, cujo nome teria sido dado pelas autoridades militares à comissão de inquérito das Nações Unidas sobre os massacres de manifestações a 28 de Setembro último como o principal mandantante das matanças ocorridas no maior estádio de Conakry. Várias testemunhas ouvidas pela comissão de inquérito da ONU, que termina a sua missão esta sexta-feira, teriam igualmente citado o nome de Aboubacar "Toumba" Diakité como sendo o ordenador dos disparos contra a multidão durante a manifestação da oposição para denunciar a candidatura do capitão Dadis Camara e dos outros membros da Junta às presidenciais de Janeiro próximo."
Procure mais em: http://www.panapress.com/freenewspor.asp?code=por008063&dte=04/12/2009

Ainda nao terminei, de verdade...

terça-feira, 1 de dezembro de 2009

O amor ao próximo da igreja católica...

Em Moçambique muitos lutam contra o HIV-Sida enquanto uns deitam água no trabalho desses muitos. A igreja católica insiste na fidelidade como o único meio para erradicar a doença no mundo. Se por esta via os resultados não são visiveis, aceitem o preservativo! Onde está "o amor ao próximo" que tanto falam nos vosso sermões? Recordo-me do Papa Bento XVI ter feito o mesmo durante a sua última visita ao continente africano. Se não ajudam, então fechem a boca em vez de contribuirem para o fim da espécie. Outra vergonha...

Alemanha: Enganando-nos ou se enganando?

Ivan Demjanjuk, que foi guarda do campo de extermínio em 1943, está ser julgado. Um sujeito que está na maca, com um pé na cova, a ser questionado por crimes nazis, que decadência... Desde quando um guarda tem poder de decisão? Porque esperar que o tal criminoso tenha tantos anos de vida para ir para cadeia? 89 anos de idade! O melhor da vida ele ja gozou. Desde quando cadeia substitui a cova? Resolvam os seus problemas de consciência de outra forma pá...
Volto já!

Pão-pão, queijo-queijo!!!

E kadafi não brinca... Então não querem os minaretes na Suiça??? Vão dentro seus suiços!!!!

SIDA: Afinal o banho não resolve tudo...

O Presidente sul-africano, Jacob Zuma, deverá falar à nação esta terça-feira a respeito dos novos planos do seu Governo para lutar contra a pandemia da sida. Esta intervenção faz parte das actividades que marcam o Dia Mundial da Sida, celebrado a 1 de Dezembro de cada ano. A África do Sul conta cerca de cinco milhões e 700 mil pessoas infectadas pelo VIH.

Recorde-se que Zuma, que esteve envolvido num escândalo sexual em Junho de 2005, afirmou que um banho resolvia as consequências de uma relação sexual de risco... Ainda bem que ele "ponderou bem" sobre o uso da águá e viu que são necessárias mais do que as propriedades do indispensável líquido... As "estratégias" também podem minimizar o número de infectados... ainda não acabei.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

Dia Internacional pela Eliminação da Violência Contra a Mulher



A primeira e maior violência que se comete contra a mulher, é ensina-la logo desde criança que é inferior ao sexo oposto (nada de "Condição Feminina"!!!!! he, he, he...). É a partir daí que se deve fazer a luta! Ensiná-las, e aos homens também, que eles são só diferentes, mas com iguais direitos e obrigações...
Portanto, tudo o resto é consequência!!! incluindo a violencia... De um bom ou mau aprendizado...
Porque não cortar, antes demais, o mal pela raiz como se costuma dizer?
Se perdemos um pouco de tempo e contabilizarmos as ONGs veremos que nao sua maioria querem resolver o problema na sua fase final... Quantas ONGs que se dizem defensoras das mulheres investem na desmistificação de preconceitos, consciencialização do valor feminino (tal como dos homens)?

Alemanha: o espiríto natalício em alta!!!!



Ou de pernas para o ar e sem cabeça… Como mostra a foto? Quem sabe para o ano os mesmos manequins não estarão debaixo de um comboio de brinquedo da DB na montra? Afinal esta é a maneira que os alemães mais gostam de usar para tirar as suas próprias vidas a esta altura do ano.

Também se fosse alemã com tendências suicidas poderia pensar em “marcar a diferença” neste inverno, com uma “nova tendência” sugerida por uma grande casa de moda… Que tal um suicídio colectivo? Neste caso a dois? “Romantischer Selbstmord in Bonn” Soaria muito bem! Além de que não espalharia muito sangue… Logo, não daria muito trabalho aos exemplares trabalhadores de limpeza alemães…
De acordo com dados de 2005 (desculpem-me, sim?) divulgados no site http://noticias.terra.com.br/mundo/interna/0,,OI659314-EI294,00.html: "Na Alemanha, uma pessoa se suicida a cada 47 minutos, segundo dados divulgados hoje pelo presidente do Programa Nacional para a prevenção do Suicídio, Armin Schmidtke.Nacionalmente falando, isso equivale a entre 11.000 e 12.000 pessoas que acabam com suas próprias vidas por ano. Schmidtke destacou que o total mundial de suicídios é ainda mais apavorante, pois ronda um milhão."

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Cantadas e cantadas...

Tanto apreciei a "ousadia" dos angolanos há uns tempos de mandar passear as instituições de Bretton Woods que não se cansavam de esfregar as verdes na cara dos “Kambas”.
Apenas por um motivo: não teriam de ficar (muito) a mercê das vontades destes organismos que ditam as regras do jogo das economias subdesenvolvidas. Não foi pela arrogância que muitos dizem acompanhar os “mwangoles” em todos os momentos...

A nadarem no líquido mais caro do mundo e sentados em cima das pedras que dão fama a cidade da Antuérpia quase viram o petróleo virar água e os diamantes simples pedras. A crise financeira e económica assim o fez e os “kambas” tiveram de instantaneamente limpar a mostarda do nariz e sentar-se a mesa com o Fundo Monetário Internacional em Istambul em Outubro último. Nessa altura já tudo ficou acertado para o dinheiro fosse parar aos cofres angolanos. Os voos Washington-Luanda, antes disso, foram frequentes a procura de um acordo que agradasse as partes.

Lembro-me que a cerca de um ano ou dois andava o FMI “atrás” de Angola para emprestar muitos milhares de dólares e os “kambas” faziam doce. Hoje as posições, se não se inverteram, pelo menos obrigaram Angola a aceitar a “cantada” do FMI e provavelmente já sem o "fogo" todo... O resultado desse romance, agora confirmado, são 1,4 mil milhões de dólares. Esta instituição de Bretton Woods aprovou nesta segunda-feira um financiamento na modalidade de Acordo Stand-By (SBA), com duração de 27 meses, para ajudar o país no contexto da crise mundial.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Media: acendendo o rastilho...

“Ahmadinejad: Israel e EUA não têm coragem de atacar o Irão”. Este foi o titulo e destaque que mais se viu logo pela manhã de hoje nos grandes jornais eletrónicos. Mas depois de ler os artigos em causa fiquei confusa. Transcrevo, por exemplo, o que escreveu a BBC no seu site em Português:

A declaração foi feita na coletiva de encerramento de sua visita ao Brasil quando um jornalista brasileiro perguntou se o Irã teria condições de repelir um ataque militar israelense ou americano.


"Entendemos que a era dos ataques militares já chegou ao fim. O tempo é de diálogo e reflexão”, disse Ahmadinejad.
“Usar armas e ameaças é coisa do passado até para pessoas atrasadas. Esses a que vocês se referiram (Estados Unidos e Israel) não têm coragem para praticar isso".


http://www.bbc.co.uk/portuguese/noticias/2009/11/091123_ahmadinejad_final_pc_np.shtml

Porque fazer passar a ideia de que o Irão está a desafiar outros países ou que pauta por uma postura belicista? Já todo o mundo está cansado de saber das violações contra os direitos humanos e outras coisas cometidas pelas autoridades do Irão, mas isso não dá o direito a ninguém de acrescentar ou neste caso insinuar coisas em desabono daquele país já queimado (com motivos…).

Onde está o senso de justiça e a imparcialidade que a imprensa tanto propala nos seus artigos? Parece-me uma falsa bandeira por eles exibida. O chamado quarto poder tem de usar as suas armas de forma construtiva, educativa e objectiva (ou para fins pacificos como Teerão quer usar as suas armas nucleares... he, he, he... desculpe, sim?).

A mensagem principal a passar neste caso é de que o Presidente iraniano se não defende a via pacifica em eventuais situações de crise, pelo menos diz isso como se pode ler na primeira citação. Como acaba de dizer um respeitado colega, os media são os primeiros a fazer a guerra! Não haja duvidas…

Porque não fazer algo como: “Ahmadinejad afirma que a reflexão e o diálogo são as armas a usar em situação de ataque”?


domingo, 27 de setembro de 2009

“A caminho das Índias”: Alguma vez teve princípio e fim?

A balde de água gelada nos sonhos dos telespectadores! A novela de Glória Perez, célebre por produzir telenovelas famosas como “O Clone”, foi alvo de inúmeras críticas devido ao final que aconteceu há sensivelmente duas semanas.

Confesso, sem vergonha nenhuma, que adoro ver novelas, principalmente as brasileiras. Tive de ver o final no Youtube, que era acompanhado de “testículos” opinativos críticos e insultuosos a autora.
Devo dizer que concordei com alguns deles... Passamos meses e meses com coração nas mãos por causas das milhentas histórias da novela e ela acaba assim em três pancadas? E como se não bastasse não da forma que sonhamos.

Mais respeito pelas nossas fantasias e sensibilidades. Depois de tanta intimidade com os personagens estamos à espera de, no mínimo, um fim justo, equilibrado e romântico. Não queremos muito, só a perfeição!

A minha frustração e a das outras pessoas despertou, depois de acalmar os ânimos, a minha atenção para dois factos: primeiro, o Homem procura nas criações, a concretização dos seus sonhos e fantasias, já que a vida raramente oferece espaço para tal. A novela torna-se o espaço das liberdades, o único mundo que pode ser cor de rosa. E foi lhes cortada até a possibilidade de sonhar, não há direito! Além de que foi um fim que pode ser considerado disfórico, contrariando a característica das novelas (ai a resistência as mudanças... )

Segundo, a novela começa já com histórias de “paternidade atribuídas”, a novela é particularmente alimentada por elas e o seu fim é caracterizado pela continuidade desta particularidade. Ou seja, faltou o fecho, ou melhor, a solução. Afinal o fecho não significa necessariamente a solução...
Que mensagem a autora quis passar com estas histórias excessivamente repetidas?
Ainda não alcancei, mas percebi que todo o poder que a mulher indiana tem na mão é por ela manifestado de forma inconsciente.

Apesar de estar em desvantagem nas relações de genéro, ela desencadeia as mais profundas mudanças nas relações sociais da sua sociedade, porque no final quem tem o poder, deverdade, é ela.

Ora vejamos, se as pessoas de castas diferentes não se podem casar, por umas serem inferiores a outras, as mulheres acabam por pôr fim a essa barreira de forma não “oficial”, ou por debaixo do pano, ao terem filhos de homens de castas diferentes, mais especificamente, pobres. No final não há castas puras. Não há superioridade, não há estratificação...

Pela vaidade machista de querer ter um filho homem, a mulher também acaba por comprar um filho macho para satisfazer a vontade do seu marido. Este último sente-se então realizado: cego pela sua masculinidade, que está sempre “em cima”, sujeita-se a fazer papel de parvo para o resto da vida.
Como a dominada pode passar a dominante na luta para satisfazer as exigências do dominante?
Até que ponto o opressor passa a ser o oprimido com o chicote na mão?

Este é um caminho, que na minha opinião, nunca teve princípio tal como o seu fim se mostra um miragem...

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

A Condição Feminina: Conotações e Denotações


Foto: Ismael Miquidade
Titulo: Super Mãe

Ouvi a expressão "condição feminina" e pensei logo: trata-se de uma doença, mas estava enganada. A confusão mental começou quando hoje li uma notícia que dizia “Cabo Verde apresenta uma média de Índice de Condição Feminina superior à de muitos países africanos. Este dado consta de um relatório mandado elaborar pela Comissão Económica das Nações Unidas para África, apresentado na Cidade da Praia...”

Embora use a palavra “condição” com muita frequência, também a maltratando muitas vezes, e com a certeza de que sabia o seu significado não resisti e fui consultar o dicionário e os significados eram vários: classe social a que pertence uma pessoa, categoria, situação, circunstância, conjuntura, cláusula, imposição, qualidade, caráter, génio, índole...

Ahhhh... Afinal este termo, pelo que entendi, usa-se para se referir a forma como a mulher se “posiciona” nas diferentes áreas sociais. Cheguei à uma conclusão: a conotação da palavra “condição” foi a razão do meu susto e abalo! Na minha cabeça, talvez problemática, a “condição” carrega consigo também a idéia de discriminação.

Aliás, alguns dos significados da palavra “condição” são usados também para discriminar, estratificar. Logo me perguntei: Como é possível lutar contra a discriminação feminina usando termos que carregam também “idéias” de discriminação?

O uso deste termo na minha óptica assemelha-se ao auto-golo de uma equipa que entrou em desvantagem para uma partida dos quartos de final. Será que não está na hora dos jogadores, mais adeptos, árbitros, media, etc, pensarem em termos mais positivos?

Como se já não bastasse o uso problemático da palavra genéro, agora me vem com esta. No sentido que percebo a coisa, não gostaria nunca de ser incluida nesta causa. Caminhem para frente usando as ferramentas de forma adequada, se não estão a andar em círculos, correndo sérios riscos de fazerem estragos no chão...

quinta-feira, 24 de setembro de 2009

Conselho Constitucional em Moçambique: É possivel agradar gregos e troianos?

Depois da Comissão Nacional de Eleições, CNE, ter reafirmado a sua decisão em relação à exclusão dos pequenos partidos políticos em Moçambique às eleições de 28 de Outubro próximo, os PAPs, Parceiros de Apoio Programático de Moçambique, foram bater a porta à casa de João Leopoldo da Costa a pedir satisfações.

Tem certa autoridade para isso, não fossem eles os maiores financiadores do Orçamento Geral do Estado (OGE). Cerca de 50 por cento do dinheiro vem do bolso deles, embora algumas vozes também considerem o gesto como ingerência, opinião também aceitável.

Abrindo espaço para ingerência

O Conselho Constitucional que tem agora o caso cabeludo em suas mãos vai ter de o “pentear” de forma, no mínimo, neutra para que satisfaça as exigências dos PAPs. Já se ultrapassou a fase de se invocar o atropelamento a lei eleitoral, imparcialidade da CNE para que as coisas mudem. Argumentos até certo ponto válidos, já que se conhecem bem os pontos de lei violados. As armas da batalha, porque a guerra afinal não terminou, são agora as mais pesadas, o dinheiro.

Esta questão mostra o quão frágil o país é. Como em questões tão nacionais (embora digam respeito ao mundo, principalmente o “democrático”...) apenas 19 dos 246 países do globo têm poder para “movimentar” assuntos importantíssimos do país.

A este grupo se junta o Banco Africano de Desenvolvimento, a Comissão Europeia entre outros países e instituições. Felizmente que neste, e em muitos outros casos, os doadores influenciam para o caminho correcto. Mas não deixa de ser triste e preocupante. Mais ainda porque é o próprio país que abre espaço para isso.

Como se já não bastasse o descrédito dos moçambicanos que cresce a olhos vistos em relação ao processo eleitoral, com esta intervenção está claramente à mostra a fragilidade do país. São eles os bombeiros do país? Já que os nossos funcionam com deficiência...

 Agradar gregos e troianos?

Que decisão irá tomar o Conselho Constitucional? Está em posição difícil. Passar por cima da já descredebilizada CNE seria passar-lhe um atestado de óbito, o que não convém muito neste momento, não apenas devido ao processo eleitoral que já está abalado, mas também a quem ela serve. Por outro lado não convém dar motivos aos PAPs para fecharem os cordões a bolsa ou então fazer com que dela caiam apenas migalhas.

Enquanto isso, os grandes parceiros de apoio programáticos seguem com o seu trabalho. Estabeleceram esta semana os indicadores do desempenho e metas do Governo moçambicano para 2010. De acordo com o jornal Notícias de Moçambique na cerimónia de encerramento da reunião de Planificação do Quadro de Avaliação de 2009, em Maputo, que aconteceu esta semana, os indicadores de desempenho do Governo acordados para 2010 são, na sua maioria, escolhidos entre os indicadores que constam do Plano de Acção para a Redução da Pobreza Absoluta, na sua segunda edição (PARPA II).

Então, o que irá fazer o Conselho Constitucional? Parece que uma reviravolta completa está fora de questão. É possível um meio termo? Agradar a gregos e troianos?
O prazo para que o Conselho Constitucional anuncie a sua decisão é segunda-feira próxima, mas esta instituição tem pressa, vai se lá saber porque, de o fazer antes.
Ainda bem! Afinal estamos em épocas de combate ao "deixa andar"...
Aguarda-se esta tarde em Maputo pelo veredicto final do assunto do momento em Moçambique.

quarta-feira, 23 de setembro de 2009

Escritor sueco Henning Mankell fala da sua relação com Moçambique

Henning Mankell: um sueco de nacionalidade, mas que leva Moçambique no coração. Famoso mundialmente pelas suas obras policiais, vive há 25 anos em Moçambique onde desenvolveu relações, segundo ele, profundas com instituições e figuras de renome na arena cultural. Para além das terras do Índico constituírem lugar de relativa calmia para si existem outras coisas que o ligam ao país. Num canto do Teatro Avenida, em Maputo, trocamos dois dedos de conversa e o autor falou de algumas delas e do motivo que o levou a Moçambique:






Henning Mankell: Eu penso que foi Moçambique que me escolheu. Eu sou sueco e cheguei à África pela primeira vez em 1972, tinha 20 anos. Como escritor jovem pensava que precisava de uma perspectiva diferente do mundo fora da Europa, e escolhi África. Depois cheguei fui para a Guiné-Bissau que nesse tempo ainda era uma colónia portuguesa, estou de facto muito velho. Mas vivi em vários países, como na Zâmbia por exemplo. Mas em 1984 quando algumas pessoas aqui como Manuela Soeiro e Lucrécia Paco estavam a pensar em criar o primeiro grupo de teatro profissional, a Manuela Soeiro convidou-me para falar com eles durante uma semana e já passam 25 anos...

Nádia Issufo: Alguma coisa forte o prendeu em Moçambique?

HM:
Foi um privilégio, uma grande aventura ter a possibilidade de trabalhar com estas pessoas com muito talento, de criar uma coisa, o primeiro teatro profissional no país. Como também uma sensação que não é importante que sou de uma outra cultura, sou do outro país, ou sou branco. O teatro não se interessa por essas coisas, mas sim pela comunicação. Para mim foi uma aventura todos esses anos.

NI: De alguma maneira se sente um pouco moçambicano por ter passado muito tempo em Moçambique?

HM:
Posso simbolicamente explicar que escrevi uma carta que esta na Suécia a dizer que se alguma coisa acontecer comigo, espero que não aconteça, posso ser enterrado aqui. Só para simbolicamente explicar...

NI: Como caracterizaria a sua relação com Moçambique?

Eu acho que tenho um a relação muito profunda. Basicamente penso que o respeito que tenho pelo país e pelo povo é baseado na forma como vi e vejo que o povo luta contra o único problema que existe no país, a pobreza. Porque todos outros problemas estão ligados a pobreza. Com a dignidade, alguma força, o povo luta contra esta pobreza. Isto é pra mim tão impressionante...

NI:Vive cá há 25 anos, o que viu evoluir durante este tempo?

HM:
Houve muito desenvolvimento. Quando cheguei aqui, fiquei fora do teatro ver as pessoas a passarem e quase ninguém tinha sapatos. E lembro-me também que no primeiro ano de trabalho estranhei o facto de que depois de duas horas d trabalho os actores ficavam muito cansados, não se compreendia. Mais tarde percebi que era fome. A dona Manuela e eu arranjamos comida.
Agora aqui todas as pessoas têm sapatos, dois, três, quatro pares de sapatos....
Claramente estou a ver um grande desenvolvimento. Mas a coisa mais importante é que há paz que esta cá pra ficar. Lembro-me também que há sete anos passei pela cidade e vi pessoas a pintarem as suas casas e pensei: quando as pessoas pintam as casa é porque tem confiança na paz. Porque se as pessoas não têm confiança não fazem isto.
Eu vi um desenvolvimento muito grande, mas há uma grande sombra. A pobreza é um problema muito grande. Tu sabes que ainda há 75% de analfabetismo, que é uma vergonha. E com a pobreza também chega a corrupção e todos os outros problemas. Acho que o país ainda tem uma rua longa para andar. Prefiro falar dos sapatos como o símbolo do desenvolvimento.

NI: Sei que a sua fama é muito grande no mundo e principalmente na Europa. Viver em Moçambique trás-lhe algum sossego uma vez que passa meio despercebido e as pessoas não o conhecem cá?

HM:
É verdade que na Europa sou um tipo de celebridade, as pessoas conhecem-me. Acho que os meus livros estão vendidos em mais de cem países e traduzidos para quarenta línguas. Eu vendo milhões de livros. Para mim viver em Maputo é mais calmo, porque há muitas pessoas que não sabem nada sobre a minha pessoa, que bom! Porque é mais calmo.
Por outro lado tenho muitos amigos aqui com quem falo e trabalho, como a Manuela Soeiro, Lucrécia Paco, com quem trabalhei muitos anos, e Mia Couto o escritor. Para mim é muito bom estar aqui porque o telefone não toca muito, eu posso trabalhar mais calmamente.

NI: E não há muitos flashes de máquinas fotográficas?
HM:
Acontece... mas não é como na Europa.

NI: Quantos livros escreveu ate agora?

HM:
Acho que escrevi quarenta e tal livros, não sei... Trabalho muito. Acho que é melhor dizer isso. Penso que quarenta e dois livros escrevi até agora.

NI: Qual deles foi mais marcante para o Henning?

HM: Esta é uma questão que francamente não quero responder porque os livros são como os filhos. Não quero responder esta questão. Quero pensar que em cada livro há alguma coisa que gosto muito. Não posso falar como as crianças que prefiro uma criança em relação à outra.

NI: A mesma filosofia se aplica as pecas teatrais?

HM:
Exactamente!Tenho que gostar e amar todo o trabalho feito aqui. Penso que seria mais fácil dizer cinco ou seis peças seis ou produções que foram muito boas, mas é melhor não dizer nada. Eu sempre penso que o trabalho do momento vai ser sempre o melhor que os anteriores.

Outubro de 2008, Maputo

Esta foi uma entrevista concedida à Deutsche Welle, a Rádio internacional da Alemanha:
http://www.dw-world.de/

Também pode ouvi-la em:
http://www.dw-world.de/dw/article/0,,3773261,00.html

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Tchizé dos Santos: Um passo exemplar mas a meta ainda se mostra inalcançável

“Ao pedir a suspensão do seu mandato de deputada, a filha do Presidente da República de Angola, Tchizé dos Santos, deu um exemplo de humildade e de reconhecimento dos seus erros por ter criado incompatibilidades entre os seus negócios privados e o papel de representante eleita do povo angolano...” Assim começa o artigo do jornalista e defensor dos direitos humanos angolano Rafael Marques publicado este mês. O assunto foi tema para uma entrevista com esta voz interventiva e crítica.



Nádia Issufo: O que significa o pedido de suspensão de Tchizé dos Santos como deputada?

Rafael Marques:
Do ponto de vista político tem um grande significado, porque, primeiro, revela que a pressão da sociedade, sobretudo dos jornalistas, funcionou, obrigou a Tchizé dos Santos a escolher entre ficar no Parlamento ou na gestão da televisão pública de Angola, onde assume funções de directora interina. Há uma comissão de gestão para a televisão pública e ela faz parte dessa comissão e o cargo que acumulava com o de deputada era incompatível.
Por outro lado é importante porque vários deputados do MPLA encontram-se na mesma situação; são presidentes de conselhos de administração de fundações, estão na gestão de empresas, são sócios maioritários de vários negócios que tem relações directas com Estado. Logo, o caso da Tchizé não é o único, logo revela que se a filha do Presidente é obrigada a sair do Parlamento porque está em situação de incompatibilidade, os outros deputados também devem fazer o mesmo e escolher entre ficar no Parlamento ou cuidar de outros negócios.

NI: Este gesto pode ser considerado como um exemplo a ser seguido, e mais ainda, o início de uma nova era no que se refere a incompatibilidade de funções?

RM:
Não será o início de uma nova era porque é um sistema que sobrevive dessa confusão, da promiscuidade política entre a função do Estado e o interesse privado. Simplesmente oferece uma oportunidade para que a sociedade possa pressionar, possa continuar a buscar maior rigor da parte dos gestores públicos para que estes, de facto, não se sirvam do Estado para os seus próprios interesses privados. E por outro lado devo dizer também que a própria Tchizé dos Santos continua em situação de incompatibilidade porque ela é sócia-gerente de uma série de empresa neste momento. Quer ser uma das maiores empresárias angolanas então é gestora de muitos empreendimentos, e esses cargos que tem no sector privado também são incompatíveis com a direcção de um órgão público porque o estatuto de gestor público proíbe os mesmos de terem funções no sector privado, que é o caso da Tchizé dos Santos. Logo, o exemplo da Tchizé dos Santos só será relevante como individuo se estender este exemplo também ao pedir a sua demissão da comissão de gestão da TPA, porque se ela não fizer isso terá apenas tomado uma meia medida que a manterá na mesma em situação de incompatibilidade de funções.

NI: Na sua óptica porque o Presidente angolano não toma medidas apesar de já ter começado a fazer denúncias, como disse no seu artigo, sobre a acumulação de funções por membros do seu Governo com a gestão privada?

RM: O Presidente não pode fazer porque ele é o principal promotor desta política e eu explico porque: o Presidente tem uma Fundação, grande parte dos curadores da Fundação são membros do Governo. Um exemplo: há ministros como a governadora de Luanda, que também é ministra sem pasta, é curadora da Fundação José Eduardo dos Santos e essa é uma situação de incompatibilidade, não pode ser de acordo com a lei angolana. Logo, o Presidente é o principal responsável por essa promiscuidade, ele próprio como Presidente da República tem funções de patrono e até de assistir as responsabilidades, de assistir a assembleias gerais da sua fundação, o que também não é ético da sua parte, porque como presidente da República não devia ter funções no sector privado.

Esta foi uma entrevista concedida à Deutsche Welle, a rádio internacional da Alemanha
http://www.dw-world.de/
Também pode ouvir a entrevista, selecionado a emissão da noite, em: http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html

Angola: Poucos a terem muitos milhões e muitos milhões a não terem nada

Há trinta anos que José Eduardo do Santos lidera os destinos de Angola, isto desde 21 de Setembro de 1979, depois da morte de Agostinho Neto, o primeiro presidente do país. Demasiado tempo no comando consideram algumas vozes que clamam por alternância. Enquanto isso a data para a realização de eleições no país tarda em chegar e o partido no poder, já pensa em mudar o modelo eleitoral. Conversei com o historiador e jornalista, Orlando Costa, sobre a liderança de José Eduardo dos Santos. O angolano não hesita em apontar os reais problemas da sua presidência e do país.

Nádia Issufo: Como avalia os 30 anos da presidência de José Eduardo dos Santos?

Orlando Castro:
A avaliação tem aspectos positivos e tem, sobretudo aspectos negativos porque estar trinta anos no poder, com o poder absoluto que tem nas mãos porque para além de Presidente da República é presidente do MPLA e é chefe do Governo, o que torna José Eduardo dos Santos num dos ditadores, ou na melhor das hipóteses, num Presidente autocrático a mais tempo em exercício. Portanto, não me parece que isto abone os angolanos de uma forma geral e até ao MPLA em particular, sobretudo porque já era tempo de pela via democrática Angola ter um Presidente de facto eleito.”

NI: Qual a sua opinião sobre a forma como o ocidente hoje lida com o presidente e com o país?

OC: Na minha opinião o Ocidente tem mais vantagem em lidar com uma ditadura do que com uma democracia. Uma ditadura de um país rico é mais fácil de moldar aos interesses do Ocidente do que uma democracia. Porque veja que no caso de Angola, o Presidente do país, todo o seu clã e todo o seu envolvimento representam quase 100 % do PIB do país. E portanto, o Ocidente vê vantagens em ter um Presidente e uma estrutura ditatorial que é dono ou uma estrutura ditatorial do que ter uma democracia cujos protagonistas sairão do poder provavelmente daqui há uns anos se voltar a haver eleições. Portanto, há uma grande hipocrisia do Ocidente, de uma forma geral em todas ditaduras, e nesta caso concreto em relação ao regime do MPLA em Angola.

NI: Então os problemas que Angola enfrenta actualmente de corrupção, de incompatibilidades de funções e outras coisas mais poderão não ser resolvidos a curto prazo?

OC: Sim, dificilmente será resolvido a curto prazo. Até porque a comunidade internacional faz questão de que existam eleições como ponto de partida para uma boa governação. Eu tenho dúvidas que as eleições sejam por si só sinónimo de democracia, porque quando o povo tem que votar com base na barriga e não na cabeça, não creio que se vá a algum lado.
Angola teve eleições legislativas e provavelmente terá ou não presidenciais, mas mesmo que as tenha, o problema do país reside de facto num clã que domina todo o país. Porque não está em questão se a Sonangol tem poder económico e financeiro para investir noutros países do mundo, o problema está em que a Sonanagol não é dos angolanos, por exemplo, é do clã do Presidente. Enquanto toda a estrutura económica, financeira e produtiva não estiver nas mãos dos angolanos, mas sim na mão de um grupo de angolanos nunca mais o problema de Angola será resolvido.

NI: O que pensa da possibilidade de Angola vir a adoptar um sistema de votação presidencial indirecto a semelhança da África do Sul? Poderá trazer algum tipo de mais valias para o MPLA e para José Eduardo dos Santos em detrimento de outras forças políticas no país?

OC: Claro que sim, trás vantagens para o MPLA que vai perpetuar o MPLA e o Presidente que escolher, José Eduardo dos Santos, no poder. É uma aberração completa esta ideia de uma eleição que José Eduardo dos Santos chama de atípica, não tem o mínimo cabimento num conceito democrático moderno. Isto vai, de facto, apenas perpetuar o poder nas mãos dos que já o tem. Na faz o mínimo sentido que Angola opte por uma solução destas, porque é uma solução que apesar de tudo serve para passar um atestado de minoridade intelectual aos angolanos, o que me parece injusto. Já basta estarem a passar fome e agora ainda os tratam como se fossem débeis mentais, isto não pode continuar assim.

NI: Ate que ponto a sociedade civil angolana pode intervir para que este sistema não seja adoptado?

OC: A sociedade civil angolana tem muita força e vida e está a mexer-se no sentido de que as coisas não se processem assim. Mas o problema todo está em que as pessoas, apesar de tudo, têm medo e existe alguma asfixia no sentido de que a liberdade de expressão não seja tão visível quanto isso. Se a sociedade civil conseguisse ter o apoio da comunidade internacional no sentido de alertar as autoridades angolanas para que sigam critérios democráticos validos talvez conseguissem alterar este estado de coisas. Mas como eu lhe disse quando a própria comunidade internacional apenas se preocupa em que haja eleições, mesmo que nessas eleições não existam cadernos eleitorais, apareçam mais votos do que pessoas inscritas, mesmo que seja assim, a comunidade internacional acha que já fica tudo bem e já pode dormir descansada. Portanto, a sociedade civil por muito que se mexa terá sérias dificuldades em alterar este estado de coisas, parecendo-me a mim que isto só se alterara, quando por razões que esperamos naturais o presidente José Eduardo dos Santos deixe de existir e eventualmente o próprio MPLA se rejuvenesça, o que se calhar é uma utopia, mas enfim, vamos acreditar...

NI: Acredita que José Eduardo dos Santos possa pautar por uma presidência vitalícia?

OC: Eu creio que sim, creio que é essa a situação, que ele vai ser um Presidente vitalício. Seria no regime de partido único que é mais ou menos o que existe em Angola. Foi forçado, de alguma forma, a realizar eleições e agora está a fazê-lo e com essa máscara de eleições a perpetuar-se no poder de uma forma que a mim me parece contra a natura, mas enfim sou das poucas vozes, não são tão poucas assim afinal, a remar contra essa maré.

NI: Por favor, perspective uma Angola com José Eduardo dos Santos e sem ele na presidência do país...

OC: Eu creio que Angola com José Eduardo dos Santos a dirigir o país, já vimos o que é, são poucos a terem muitos milhões e muitos milhões a não terem nada, isto é, alguma classe de elite muito rica e muito poderosa e o povo a morrer fome. Sem ele creio que seria mais viável e que seria possível Angola ser um país só e os angolanos serem não de primeira, de segunda ou de terceira como agora acontece mas serem só angolanos e a riqueza ser distribuída por quem dela necessita, por quem tem a barriga vazia esta a opção que cabe aos angolanos e a nós todos escolher.


Esta foi uma entrevista concedida à Deutsche Welle, a rádio internacional da Alemanha
http://www.dw-world.de/

Pode ouvir a peça sobre os 30 anos de presidência de José Eduardo dos Santos, que inclui extractos desta entrevista, na emissão da manhã, em:
www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html

quarta-feira, 9 de setembro de 2009

Rasteirando o adversário antes da partida

Coitado do Movimento Democrático de Moçambique... Foi de forma legitima (porque até ao momento não se provou o contrário...) excluída de nove dos treze círculos eleitorais com vista as legislativas de 28 de Outubro próximo. Afinal foi a Comissão Nacional de Eleições, o órgão a quem foi atribuído a autoridade e legitimidade para tal, que assim o decidiu. Razões para tal, estranhamente não foram devidamente apresentadas a quando do bombástico comunicado da Comissão e o mais suspeito de tudo: este respeitável órgão violou a lei eleitoral ao não notificar os partidos e coligações concorrentes sobre as irregularidades nos processos dos seus candidatos.
Como uma instituição de peso como esta pode sustentar a sua credibilidade depois de tamanho atropelo?? Ainda nem se chegou a “fase mais quente” e as punhaladas a lei, verdade, honestidade, imparcialidade, democracia e mais outras coisas estão a acontecer de forma escancarada e sem esperar pela calada da noite para uma actuação menos “vistosa”????
Bem, também devo recuar um pouco para trazer aqui um facto, que embora pareça insignificante, tem muito que se lhe diga... O governo moçambicano decidiu ainda neste ano, que por sinal é bastante especial, pois realizam-se três eleições nos país, atribuir de forma “obesa” regalias, bônus, residências decentes, veículos protocolares e outras coisas mais aos membros da poderosa CNE...
O que não põe em questão a imparcialidade deste órgão... E, por conseguinte me leva a perguntar se quem prega esta partida à turma de Daviz Simango e realmente a “poderosa” CNE...
Se olharmos para o actual cenário dos partidos políticos no país veremos situações bem claras: Uma Frelimo cada vez mais fortalecida com tudo a jogar a seu favor, não fossem eles “macacos velhos” em termos de “politiquices”... Muitos intelectuais e gentes das artes, os chamados seres pensantes que durante muito tempo foram os críticos da actuação do partido, hoje passaram para o seu lado. Os jovens que são tidos sempre como os “rebeldes” e “revolucionários” lutam para vestir a camisete vermelha com o objectivo de “garantir o lugar”, as associações de moçambicanos na diáspora são dirigidas por homens do partido do batuque e da maçaroca, e muito mais...
E para dar mais força ao partido, o “suposto” maior partido da oposição, a Renamo, está em declínio alucinante...
O que querem mais? “As vitórias são certas”! Mas como se diz, é preciso vencer de forma esmagadora!!! E a vitória prepara-se, dizem os membros do próprio partido...
Se há um “foco”que pode fazer frente a Frelimo, há que tomar as devidas precauções... O MDM até agora mostra-se como o raio de esperança na real “mudança” no país. O seu líder, Daviz Simango, lidera o município da Beira de forma exemplar, os membros dos seu partido, muitos dissidentes da Renamo, são cérebros pensantes e fazem erguer as suas vozes através da justeza dos seus pensamentos. Sem falar que alguns eram bastante activos no Parlamento moçambicano. Obviamente que este partido, irá ter o apoio dos moçambicanos conscientes e “realmente alfabetizados”

Com tudo isto a cama está feita para o Daviz... Uma rasteira hoje na certeza de que um lugar macio e confortável o espera em breve!

Volto com mais, o assunto pede muito!

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Do caixão à cova algumas verdinhas brilham mais nas bandeiras brasileira e moçambicana

Dos cerca de 20 milhões de habitantes de Moçambique 16% são seropositivos. Taxas assustadoras semelhantes apresentam os países da região, com uma tendência a subir drasticamente. Razões para esta situação são muitas e discutíveis, mas não agora.
Na tentativa de melhorar a condição dos doentes de SIDA, uma fábrica de antiretrovirais está a ser erguida no país. Acto que merece um grande aplauso, se não uma festa! Já que nós africanos temos o bom hábito de festejar tudo, e este é no momento uma conquista que pede uma comemoração.

O Brasil é o grande financiador deste acto humano: disponibilizou oito milhões de dólares para a construção da fábrica. Afinal também este é um negócio que se poderá mostrar no mínimo lucrativo. Motivos para esta conclusão primária apresentei logo no primeiro parágrafo e mais ainda: números que engordam a olhos vistos, mais que os comedores de fast food, podem ser encontrados nos milhares de estudos e balanços sobre o HIV-SIDA em Moçambique e noutros países da SADC.

Prevê-se que a unidade produtiva comece a “aliviar” a situação do acesso aos antiretrovirais já a partir de Dezembro deste ano quando começar a produzir o medicamento.
Entretanto, alguns sites já disseram que de relacionados com os antiretrovirais Moçambique só vai produzir, nesta primeira fase, as embalagens, o real conteúdo virá do Brasil. É questionável a justificativa de que Moçambique quer reduzir a dependência relativamente a produtores internacionais. Não muito, mas um pouco questionável, devo ser menos radical. Mas o Brasil ainda é internacional, apesar da crescente “intimidade” dos últimos tempos com Moçambique. Facto que merece também ser festejado...

Porque não matar dois coelhos numa cajadada só? Até um cego veria na situação a possibilidade de ganhar algum!
Garantias de exportação para África do Sul, Zimbábue, Zâmbia, etc... estão lá , subidas galopantes das taxas de infecção estão lá, dificuldade escancarada de alguns órgãos do Governo de executar campanhas de prevenção e sensibilização com resultados, (mais sorte tem as organizações não governamentais que trabalham no terreno com menos recursos) estão lá, ganhos com a exportação de conteúdos quando a Moçambique faz caixas estão lá, investimentos na formação de quadros no Brasil estão lá...

Tanto o Brasil como Moçambique tem a certeza de que o dinheiro investido nesta viagem adiada para baixo dos nosso pés dos 16% de moçambicanos hoje e dos não sei quantos por cento amanhã terá volta. Mesmo que a venda do medicamento venha a ter comparticipação do Estado moçambicano é um bom negócio!

A frase “Negócio da China” hoje pode e deve ser mudada! No caso passa a ser "o negócio do Brasil" ou de Moçambique... “Mudam-se os tempos, mudam-se as frase ditas”, já adulterando o que Camões criou...

Na verdade humano, mesmo, é ver os 24% dos 16% que não tem acesso ao tratamento inclusos neste “negócio”, expressão brasileira que muito gosto, o mais cedo possível. Mais do que as cores “verdes” que cada país quer ver constantemente renovada na permanente defesa dos interesses nacionais!

quarta-feira, 29 de julho de 2009

Bifurcações Saudáveis

Era uma vez duas estradas, uma se chamava passado e outra se chamava presente. As duas se encontraram num dia em que o relógio do tempo ficou maluco. O contador de tempo passou a ter dois ponteiros de horas e igual número de ponteiros para os segundos. Dois corriam para trás e dois corriam para frente, o das horas e seu companheiro para cada caso. Mas previsivelmente os dois de cada período se encontravam por escassos momentos, um segundo, ou por mais tempo, uma hora...
Felizmente esse relógio raro durou não mais do que um mês. Hoje as estradas que juntas caminhavam seguiram seus destinos. O passado fez o percurso mais curto: o baú! O presente segue atracado na incógnita do futuro... mistérios conducentes ao baú?
Sim... irá fazer companhia ao seu estranho e esperado companheiro passado...

Solário: o mais novo rival de Deus em matéria de cores humanas

Mulher Laranja, come-se? Morde-se? Chupa-se? É gostosa? Tem semente? (Ou é depositário da semente...) Tem casca de laranja? Ha, ha, ha... A última respondo com certeza: quer seja laranja, quer seja mulher tem sempre, ou quase sempre, casca de laranja!!!
Igual a laranja a mulher só tem a cor!

Alguns antropólogos afirmam que há apenas uma raça: a humana. Logo, pode-se subentender que o termo raça é utilizado para distinguir espécies. Alguns humanos, por sua vez, usam o termo para se distinguir dos outros humanos com fins duvidosos que prefiro nem se quer experimentar enumera-los!

Mas cada um de nós sabe muito bem a que me refiro. Apesar de não gostar de entrar para o mundo "negro" dos humanos, vou fazê-lo, afinal sou igual a eles e os meus momentos de pequenez também vem ao de cima quando determinadas circunstâncias assim o pedem...

Volto a mulher laranja...
Tcha, tchan, tchan... É com enorme prazer que vos apresento a nova cor de pessoas: laranja!
Quem vive ou frequenta lugares onde domina a "brancura" deve saber bem ao que me refiro, apenas, talvez, não tenha passado o que o seu cérebro processou para a fala.

Não é invenção divina! É resultado do solário, quele que está a tirar o lugar a Deus por dormir a sombra da bananeira. Também quem manda não ter criatividade? limita-se a três cores... Basta olhar para o arco-íris que ele próprio criou e por a cabeça a funcionar. Deixando de bocas fuleiras, Deus de certeza não criou pessoas laranja porque sabia que o cancro estaria around.

A Organização Mundial da Saúde disse hoje que os solários provocam cancro de pele. Os raios ultravioleta artificiais, recebidos nos solários, são cancerígenos.

"Um estudo publicado na revista médica Lancet Oncology conclui que as sessões de ultravioletas dos solários aumentam em 75% o risco de melanoma – a forma mais perigosa de cancro da pele – sobretudo nas crianças e nos jovens adultos. Não é segredo que os raios UV provenientes do sol são a evitar; agora 20 cientistas de nove países são categóricos: há uma relação directa entre as sessões de solário e o cancro da pele." Lê-se no site Euronews.

Portanto, a patente do concorrente do Senhor parece ser perigosa. Se papá e mamã não conseguiram fazer "café com leite" como diz Martinho da Vila, ou se o sol apenas brilha mas não tem real efeito,  é como a luz dentro da geleira, então é melhor encontrar outras soluções.

As minhas conversas sobre mulheres-laranja entre golos de cerveja nos bares da vida deixam de ser meras piadas de péssimo gosto, e passam a ser preocupação não só porque "quero" tudo estratificado entre o além, mundo terreno e sub-mundo, mas por questões de saúde.
Por hoje chega. Numa próxima ocasião gostava de me aventurar sobre os motivos de se querer ser laranja... Até lá, como se diz na minha terra, "vou se bater a cabeça!"

quarta-feira, 13 de maio de 2009

Raaci Sem Vergonha!

Raaci,
Sua velha!
Quando nasceste mesmo?
Antes dos habitantes da terra da boa gente conhecerem barcos grandes? Ou foi depois?
Mesmo assim és velha
És velha na memória dessa gente que apesar de se renovar, insiste em te afogar nas suas mentes desviadas
Coitada... não é por culpa deles, nem sempre. São heranças...
Perdoa-a Raaci...
Sei que foste assassinada em centenas de lares por Momedes Ibraimos, Antónios da Costa e companhia
Acho que não chegaste a ser sequer projecto na cabeça de muitos
Mas nas das tuas mães deves ter sido sonho, projecto, vida, tiveste idade e até cartão de identidade!
Porque apesar de velha, não exististe?
Será que os teus pais tinham vergonha de ti?
Talvez era melhor seres Maimuna, Mariamo, Catija...
Depois Maria do Céu, Maria da Glória, Maria dos Prazeres...
Pois até foste Maria dos Prazeres...
Se não tivesses sido qualquer coisa dos prazeres terias passado de projecto a realidade!
Maria das Dores... Desculpa, queria dizer Raaci...
Ainda hoje os teus pais tem vergonha de ti?
Raaci cara sem vergonha, pede para nascer Raaci, pede!
Impõe-te!
Afinal as tuas raízes não tem centenas de anos?
Mesmo os teus pais não conseguem ser mais velhos do que tu...
Raaci, a imortal que não tem a dimensão do seu poder...
Assume-te!
Não deixes que hoje te substituam por Kayanas, Karens, Keilas....
Colonização ontem
Globalização hoje
... ção amanhã?
Raaci Rungo
Estás aqui registada!
Registada em maio de 2009
Cara sem vergonha!
Estavas a espera de quê para existires?

quarta-feira, 29 de abril de 2009

Peço Antecipadamente a Minha Certidão de Óbito

60 kg de massa humana não têm força para suportar o pesado fardo do vazio da impotência... Nem debaixo da mais potente lente do microscópio JEOL ele se deixa ver.

É no descair dos ombros que se sente, os olhos da rua alcançam apenas ombros erectos, carregados de autoconfiança. No olhar distante, que nem eu sei qual o seu raio, não se alcança o infinito da Iris no cruzar de olhares das esquinas do mundo... Tão inerte que não reage a atropelos... humanos, animais... É a morte!
O batom, os sapatos de salto, queixo a tocar o céu, meia duzia de papeis carimbados por pobres mortais são as minhas armas para enfrentar a vida... Não posso ser engolida por ela! Mas sigo debaixo da indiferença diária dos olhos do mundo... É esta reacção que necessito para me trazer a confirmação de que está tudo certo! Somos todos iguais... Cada um com a sua kalaschnikov, magnum 45, 38, uzy, catana, pau, pedra... Ninguém tem fraquezas... Somos todos fortes, afinal estamos armados! Diferentes no calibre apenas... Isso é apenas um detalhe, não é?
Mas um dia sou atingida... As vezes por uma pedra, outras por uma catana, e no pior dos piores dias por um míssil de longo alcance que não é dos testes que causam muito furdunço lá nas bandas de Kim Jong-il ... Esse é intencional! Fica a espera de uma vitima que também está armada... Ai os detalhes... Posicionei-me no hemisfério norte com a ajuda de uma bússola de modo a ser reduzida a nada... Seduzida pelas luzes da Kurt-Schumacher Strasse... Em Dezembro a árvore de natal em tamanho gigante, tudo só luzinhas, acende e paga... Muda de côr... Num edifício desta rua... É tão linda! As crianças da minha terra quereriam ver também! Mas há outras luzes ainda... essas estão acesas todos os dias, nunca se faz o "switch off"...
É preciso ter cabedal! Coisa que descobri que em mim não passava de rascunho... Como eu me acho!!
Nem toda a maquiagem do mundo ressuscita o que está no chão... Não está a sete palmos da terra... Ainda não... Mas não há maquiagem... No meu intimo a dor escorrega nas paredes como água, como corpo sem consistência, sem formas, sem sustento... Só segue as formas dos 60 kg de massa humana...
Sou dona de quê? Apenas de 60 kg? Também poderia ser proprietária de 60 kg de pedra, de amendoins, de açúcar... Pelo menos esses corpos nunca tiveram a consciência de nunca foram nada... ou alguma coisa... Um amendoim não trama outro amendoim...
Mas um Homem pode retirar a existência de outro... Coitados dos humanos...
Desde quando pode um Homem retirar o conteúdo do seu semelhante? A isto se chama matar pela metade! A esperança só respira porque os 60kg ainda se movem, embora que mecanicamente. Está programado para actividades de 24 horas, mais do que isso dá bloqueio. Não há coordenação de movimentos, muito menos harmonia...
Fujo hoje, fujo amanhã, fujo depois... Até quando? Procuro os cuidados intensivos ou caminho para o necrotério?
No hemisfério sul o batom e os sapatos de salto também tem serventia... apesar dos buracos!

quinta-feira, 23 de abril de 2009

Madiba: Sujar a cara em nome do povo?

Jacob Zuma caminha tranquilo, seguro e com estilo para a presidência da África do Sul. Quando se finaliza a contagem dos votos, tudo indica que o histórico ANC vai continuar com os cerca de dois terços no Parlamento.

O controverso político segue com tranquilidade pelo facto de pertencer e liderar uma formação política de peso, uma segurança porque o seu poder é sustentado por grandes figuras do partido. Mas o estilo foi a coroa do fim do seu percurso, colocado pelo herói.

Nelson Mandela aparece na recta final da campanha eleitoral do partido com a imagem de Jacob Zuma no peito. Deve ter custado muito a engolir esse sapo, ou melhor, esse Zuma!

Em nome do povo se engole até elefantes! Como compreender isso? É realmente para se ficar com um ponto de interrogação. O carismático e imaculado ao lado chamuscado?

Acredito que apenas um homem com espírito de sacrifício consegue passar por cima de convenções sociais, morais, etc, por uma causa nobre: o povo.

O Congresso Nacional Africano (ANC) representa a esperança dos sul-africanos. Em nome deles Madiba passou por cima de si próprio, na minha opinião. Para sustentar a minha opinião estão alguns factos: primeiro, Mandela nunca se pronunciou em nenhum momento sobre os escândalos em que esteve envolvido o futuro Presidente, obviamente que não tem de o fazer, mas o assunto era tão cabeludo e envolveu todo um sistema partidário. Também pode ter deixado os miúdos resolverem as suas makas sozinhos, afinal são maiores de idade... Segundo não apareceu em nenhum momento da campanha, se não no fim, a apoiá-lo, e terceiro foi em nome do povo que ele falou na campanha, manifestou o desejo de que fossem salvaguardados os interesses populares.

Apesar de ilibado, persistem duvidas sobre os envolvimentos de Zuma em águas não muito claras. O que isto pode significar em termos de imagem do país e até para o continente? A questão da credibilidade foi profundamente colocada em xeque.

terça-feira, 21 de abril de 2009

Presentes Repetidos


Foto: Ivan Laranjeira

Pessoas se repetem na minha vida, mas com uma única diferença: vem pela segunda vez em invólucro diferente. Olho para elas a primeira e não merecem mais do que a minha indiferença, até que me aproximo delas e os olhos brilham! E penso: ganhei um presente! Tudo mentira... À medida que o desembrulho vão se revelando partes da prenda bem conhecidas. Tudo o que os meus sentidos permitem perceber é tranquilamente agradável... Desde princípios deste mês dei início a minha luta contra o papel e fita cola... Ainda não vislumbrei na totalidade as formas desta prenda, mas chego lá!! O tempo não pesa nestes assuntos...

A sensação é aquela que os recém casados têm quando abrem os presentes. Um conjunto de copos! Não, não é verdade, esse é o presente mais vulgar! Para entregar aos putos para partirem. No caso trata-se um presente especial, daqueles que os noivos colocam na cristaleira da sua sala para as visitas alegrarem os olhos e sentirem um pouco de inveja...

Então me faço duas perguntas ou vou mais longe e atrevo-me a confirmar: ou estou a envelhecer ou então o mundo que se supõe imensurável afinal não tem muitas alternativas. Caso contrário não me daria mais um presente desses, talvez outro, melhor ou pior... Não interessa!

Uma das grandes vantagens que vejo em receber pela segunda vez o mesmo presente é a chance de usufruí-lo com sabedoria como não o soube fazer antes. Ai terei de mostrar a Deus e a mim mesma que não sou tão incompetente assim. É sim também uma questão de vaidade! Vai ver que é também vaidade dele, quer ter a certeza de que não espalhou apenas bestas pelo mundo. É a segunda chance! Nunca pensei que com pessoas houvesse segunda chance! Funciona como um teste. O que correu bem antes deve ser aplicado e melhorado ao detalhe. Levo vantagem, mas não devo repetir os mesmos erros, são admitidos outros tipos de danos, mas não os mesmos. Palha de aço é só para panelas.

Na verdade repetição não é a palavra certa para definir a situação, será um reencontro? Continuidade? Acho esta última melhora, afinal presentes podem acabar no sótão se perdem a utilidade... Tudo o que não é dispensável neste caso não tinha sequer o seu espaço. Vamos começar onde paramos há alguns anos. Um mais um é igual a dois, aguentamos? Então como fazemos? A solução é somar tudo e dividirmos em partes iguais e cada um toma conta! E no final se não conseguirmos? Mas arriscamos, não é?

A fase dos silêncios recheados de conteúdos sobejamente conhecidos, poderosas armas mortíferas, ficou para trás. Na continuidade o silêncio foi brutalmente assassinado, as verdades são jogadas na mesa com a mesma força bruta usada para tirar a vida ao silêncio! Apenas persiste a mudez dos sábios... doce calar...

Há que ter cuidado no manuseamento de peças raras! Panos de flanela, macios, água morna... Colocá-lo num lugar especial, senão riscam-se... E se isso acontecer onde achar outro? Bondade de Deus não é como areia da praia! Duas vezes já é privilégio, terceira poderia dizer com toda a certeza que não sou enteada do grande, mas sorte tem limites! A frase “quem não arrisca não petisca” não é para aqui chamada!

Agora me pergunto: ou a vida decidiu que o presente é o objecto dos meus olhos ou ela, consoante os meus estágios de evolução, vai pondo o mesmo presente na esperança de que cuide então melhor dele! Com 24 atirando a peça querida para um canto pensando que não se parte! Com 30 pensando que é de cristal, lindo, com brilho natural e não deve de forma nenhuma ser riscado e misturado! Aos 40 como será? Criarei um pedestal só para ele?
Haja saúde até lá...

(Munganuwanga(s), nunca se esqueçam da vossa relevância, mas não dá para sentar em cima da realidade... não há bunda, por maior que seja, que consiga esconder isso!)