quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Lucrécia Paco em "Sonhos Guerreiros"

Nádia Issufo: Conta-me por favor a história desta peça...
Lucrécia Paco: A  história retrata uma comunidada de Otchivero na Namíbia. Numa primeira fase fazemos uma síntese da ocupação alemã na Namíbia, desde os campos de concentração que marcaram a colonização alemã, passando pelo Apartheid e os seus aspectos negativos para os Herreros que tiveram de se refugiar e recomeçar a vida quando houve os conflitos entre os fazendeiros brancos e empregados negros e a necessidade de recomeçar a vida. E como estas comunidades não tinham recursos para refazer a vida há uma iniciativa de distribuir uma renda básica, Basic Income Grand, que consistia na distribuição de 100 dólares namibianos, o que equivale  a 10 Euros. Claro, para se contar uma história, não consideramos apenas os aspectos históricos, mas também as relações humanas. E a Paulina Chiziane, que co-escreveu a história, optou por trazer um casal misto e as complicações que podem advir de uma relação dessas. Porque a Maria abandona os luxos da fazenda ao apaixonar-se por um trabalhador do seu pai, e há um filho que nasce desta união. E com a peça pretende-se trazer a união entre os povos. E o titulo ".....", ou seja, "Sonhos Guerreiros" pretende dar uma mensagem de esperança, e do passado se tirar uma aprendizagem e pensar no e recuperar o bem



NI: A peça sobre a Namíbia foi escrita por uma moçambicana e por uma alemão. Como vês o facto?
LP: Eu penso que a arte ultrapassa as fronteiras. Temos uma moçambicana que para poder inspirar-se   teve de ir a Otchivero ver a realidade da comunidade e dai fazer uma história. E  penso que foi inteligente da parte dela falar da relação entre duas pessoas para contar uma realidade num mundo globalizado onde uns tem muito e cada vez mais e outros não tem nada e pensar como essa redistribuição de riqueza pode ser feita e como pode ajudar aos que não tem nada.

N: Como foi fazer uma peça multilingística?
LP: Não foi fácil, porque um dos grandes desafios foi interpretar na minha língua materna, o Rhonga, uma língua que conheço mas que não tenho falado com muita frequência, e ter o domínio de quem faça, e outra foi a dificuldade de ter uma tradução simultânea com a minha parceira que fala em alemão e muitas vezes sabemos qual o conteúdo mas quando não conhecemos a língua é difícil resolver um problema quando há falhas. Mas foi bom.

NI: Como foi estabelecer o diálogo entre vocês  mas cada um falando a sua língua?
LP: Foi muito bom, fora a dificuldade, foi a possibilidade e aprendizagem. E  há uma necessidade de escuta permanente e de solidariedade entre todos os que estão no palco a  contar esta história.



NI: No final o que foi mais importante no encontro de várias culturas e manifestações artísticas? 
LP: Foi afinal de contas ver que a mensagem conseguiu passar, o facto de falarmos diferentes línguas trouxe outra dimensão a apreciação das melodias das diferentes línguas e as pessoas ficarem deslumbradas com isso. E perceber que a língua é um instrumentos estético, que para além de servir para a comunicação, o aspecto melódico que chega ao público tem algo que encanta.

NI: Vens várias vezes para Alemanha. Esta deve ser a tua peça mais diversificada em termos linguísticos. Tiveste a oportuniade de aprender mais coisas em alemão ou não?  
LP:  Tive sim, uma coisa é não saber falar, e outra é saber interpretar e reconhecer na expressão dos meus colegas a música que esta língua tem. E pensamos que o alemão é uma língua agressiva, mas não, também tem a sua graça.

Para saber mais sobre esta peça teatral vá para o seguinte endereço: http://www.dw-world.de/dw/article/0,,6275854,00.html
Selecione o audio da emissão da manhã do dia 29 de Novembro

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