O G-19, o grupo de doadores externos, e o governo de Moçambique estão em rota de colisão. Enquanto isso, o dinheiro que devia ter sido desembolsado em Janeiro último não caiu no cofre moçambicano e isso, obviamente, trará consequências para o país. Os doadores, em Dezembro último, condicionaram a ajuda em nome de três pontos: a revisão eleitoral, criação de lei de combate a corrupção e a menor influência da Frelimo nas instituições do Estado. Reagindo a estas exigências o governo da Frelimo disse que só o Parlamento pode rever a lei eleitoral. Os doadores, que contribuem com cerca de 50% para o Orçamento de Estado moçambicano, deram, entretanto um ultimato, até meados deste mês ao executivo da Frelimo para se manifestar. Por isso, este ano a transferência poderá ser feita em abril.
Nádia Issufo: O G-19 tarda em desembolsar para o OE. O que isso poderá significar para os planos de desenvolvimento e projectos em curso do governo?
Hélder Chambisse: Primeiro cria problemas de funcionamento do próprio Estado porque o Orçamento é composto por despesas correntes e de investimento. Não havendo desembolso de parte importante de fundos previstos no orçamento naturalmente que as componentes são prejudicadas. Temos prejuízos do ponto de vista do funcionamento do próprio Estado
e temos dificuldades de execução de alguns projectos que são financiados pelo Orçamento de Estado. Há grande parte de projectos que estão por detrás deste crescimento recente do país que são privados, mas estes não serão prejudicados, mas os projectos que tem uma componente do Estado, esses sim poderão ser prejudicados.
NI: Esta instalada a tensão entre as duas partes, o governo e os doadores. Qual poderá ser o resultado desta situação?
HC: Creio que é uma tensão própria de um momento negocial onde cada parte mantem-se firme nas suas posições e nenhuma das partes parece ceder. Mas acredito que é normal esta tensão e ficamos a espera para ver o desfecho. Naturalmente que há contornos que não são do domínio público, mas esperamos que tudo se resolva, uma vez que o país depende dos fundos dos doadores.
NI: Mas os PAPs, Parceiros de Apoio Programático, se comprometeram em Setembro último a injectar dinheiro no Orçamento. Será possível haver um recuo depois da palavra dada?
HC: Creio que recuo não será. Trata-se um momento próprio em qualquer negociação. Os doadores sempre insistiram que a velocidade das reformas, principalmente no judicial, e também na forma como os processos eleitorais são conduzidos não satisfazia os doadores. Eles não estavam satisfeitos com essa situação e pretendiam dar um ímpeto maior as reformas. Estão a usar isso como um factor de pressão ao governo de forma a acelerar as reformas e ter resultados positivos de forma imediata. Não será um recuo, mas sim um condicionamento para que seja dado mais um passo por parte do governo.
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