23:09, entro no machimbombo já com o cartão na mão, como faço automaticamente todos os dias depois das 21 horas. Já estou a espera que o motorista quase nem se digne a olhar para o meu cartão, quanto mais para a minha cara. Mas eu sempre olho para o motorista, que quase sempre nessa altura está atarefado a mudar ou mexer alguma coisa, ou a fingir que o faz... Talvez para não olhar para mais uma cara desta vida e ser obrigado a sorrir... Mas desta vez enganei-me! Tenho um agradável surpresa: é o motorista indiano!!! E oiço-o dizer "Aufwiedersehen", até imagino a cara dos que saem pela segunda porta, devem estar com os marfins de fora. Afinal já não os posso ver... E sou de seguida simpaticamente saudada com um "Guten Abend" e eu já estou de antemão, ou melhor, de "antelábios" (desculpe, sim?) com um sorriso a espera de algo agradável.
E o machimbombo segue viagem. "Nächste Haltestelle" e encontramos um casal de jovens sentados a espera de um machimbombo que não era o 605. O indiano mete conversa com ela, convida-a para entrar no seu "antro" de simpatia e continua o bla bla numa língua que não domino, mas pelo sorriso deles vejo que a conversa está divertida. O que percebi do final do diálogo foi o indiano perguntar. "Heute nicht?" e ela: "Nein..." e continuamos a tachar estrada. Eu sempre bem disposta e sabia que, tal como eu, os outros dois únicos passageiros estavam a gostar das saídas daquele indiano e se riam. Eu já tinha ganho o dia por ser "guiada" por aquela simpatia.
"Nächste Haltestelle": desta vez o casal de jovens que lá estava entra sem nenhum apelo mais carinhoso do indiano. Como sempre, ele mete conversa. E eu, bisbilhoteira, estou com as antenas prontas para ouvir tudo... Só que sou um desastre nesta língua, e em todas outras, que só captei uma parte... Merda! E eles conversam e riem-se e eu também, pelo menos eu posso fazer isso... E a única coisa que percebi foi a resposta final dela: "emancipation!". Neste lugar depois das 21 horas um passageiro com "jobticket" pode levar um acompanhante sem que este pague, é mahala, só tem de mostrar o dito "jobticket" ao motorista e falar ou então gesticular... E a senhorita tinha como acompanhante um "senhorito", portanto, eu já imaginei o contúdo da conversa...
E fomos parando em mais "Haltestelles" e tristemente chegou a minha vez de sair daquele "antro"... Oiço aquela máquina falante dizer: "Nonnstrasse". Deketo o botão, levanto-me do banco e aproximo-me da porta cheia de confiança: ele vai me dizer qualquer coisa!!! E tchan! Ele fala ao microfone (o único que sabe fazer uso deste especial instrumento nos machimbombos deste lugar...), diz: "Guten Abend Schone Frauen, Aufwiedersehen". Eu alargo o meu sorriso e sem falsas modestias sinto-me realmente linda, só por causa daquela doçura de motorista. Caminho para o meu gelado apartamento sentido-me extraordinariamente bem. E eu sei que a outra passageira também sentiu o mesmo porque quando saimos daquele "antro" trocamos olhares cumplices...
Era a segunda vez, ou terceira, que aquela benção da terra de Ghandi (talvez até nem é, mas foi o que me interessou assumir...) me calhava neste terra. E lembrei-me da frase "uma gota no Ocenao faz a diferença" ou algo igual. E valorizei-a.
Obrigada Meu Deus.
Uma gota de água faz toda a diferenca.Especialmente porque sao tao raras.
ResponderEliminarBeijinho
É... mas custa tanto a perceber isso...
ResponderEliminarPor isso fiquei muito feliz!
beijão Frau Gouveia