Nádia Issufo: Conta la Coisas…
Adelino Branquinho: Vou falar do meu surgimento na área teatral, especialmente no grupo Mutumbela Gogo isto há 23 anos. Comecei assim a praticar teatro em Moçambique onde havia pouca expressão teatral, era uma fase pós independência. Em 1986 houve a oportunidade de se formar um grupo, o Mutumbela, e entrei nessa altura para o grupo. Ia lá como técnico de refrigeração e nessa altura estavam a montar uma peça infanto-juvenil, “Qual é a coisa, qual é ela?” e a partir dessa altura comecei a fazer teatro com a Graça Silva, Lucrécia Paco, João Manja, Victor Raposo e foi assim que aparecei no teatro.
NI: E o Ar condicionado do Teatro Avenida funciona bem até hoje? Risos...
AB: Sim, funciona bem. Já se mudou umas duas ou três vezes porque na altura era um AC central, e era um monstro. Não havia peças, manutenção, era mais complicado. Mas estão a funcionar bem agora. Conseguimos dar espetáculos sem transpirar sem estragar a maquiagem.
NI: E de lá até agora sentiu que o palco é a sua praia, como se costuma dizer...
AB: Exactamente. Achei que palco já vinha no sangue. E lembro-me que em Pemba já tínhamos montado um peça que era “O APIE” quando Samora Machel era vivo e ele foi ver, e achou formidável, numa altura em que era complicado fazer críticas ao funcionamento do Estado e mesmo assim gostou da peça porque viu que havia muita verdade, não era um teatro de fazer critica apenas, também apresentava solução.
NI: O que te marcou pela positiva na tua carreira?
AB: O que me marcou foi o facto de ir tendo muito intercâmbio com grupos europeus e africanos e isso foi muito importante porque passou a ser uma escola. Acho importante para a formação de um actor ter intercambio. Já estive na Alemanha a ter formação, e mais outros colegas, e aprendemos muito.
NI: O que te marcou pela negativa?
AB: Foi a crise financeira que afectou muito o teatro. Não são o nosso. O teatro não é como vender agulhas, açúcar, kilos de açúcar, é mais complicado. Gasta-se muito mas não se consegue ter retorno. Então esta crise veio abalar muito o nosso andamento. Hoje vemos muitos grupos que não estão a conseguir suportar e isso afectou-nos bastante.
DA FRUTA SECA NÃO SAI SUMO....
NI: Faz lá uma analise clinica ao teatro moçambicano
AB: O teatro moçambicano tende para o bom caminho, se bem que há grupos que tendem para um teatro fraco, não só em termos técnicos, mas também de qualidade que oferecem ao público. Os grupos amadores aparecem como cogumelos e depois de expremos não encontramos sequer um litro de sumo, e isso é muito mau. Então acho que o Estado tem de intervir assim como intervêm na dança. O teatro precisa de um suporte não só do público, mas o Estado tem de suportar esta arte que é muito importante.
NI: Pode-se falar de união no seio dos actores?
AB: Não. Infelizmente não existe. Tenho reparado nisso quando as grandes multinacionais vem fazer filmes em Moçambique e vemos que nesses momento falta a união. Não existe um sindicato que nos proteja, os actores estão dispersos e cada um se desenrasca a sua maneira. E isso para dizer em poucas palavras que não existe união. Por isso é que estamos nesta situação de “ao tio ao tio” como se costuma dizer.
NI: O que era preciso fazer para o que o teatro moçambicano desse aquele arranque?
AB: A união deve ser incentivada pelo próprio Estado. Apoiar festivais de teatro, não deixar que sejam os grupos a faze-los sozinhos. O que acontece é que os grandes festivais se limitam a cidade de Maputo mas os outros também precisam. É preciso criar um movimento paraunir os grupos. Assistimos muitas vezes o Festival de Agosto, que infelizmente morreu, mas ele conseguia movimentar grupos e criar intercâmbio. Não basta fazer festivais na Casa da cultura com grupos amadores, é preciso juntar os pequenos grupos através dos grandes grupos como o caso do Mutumbela Gogo e do Gungu. Estes devem estar unidos para levar o teatro a o bom porto.
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