sábado, 6 de março de 2010

Cheny Wa Gune e o seu som do universo, a timbila

Foto: Werner Puntigam

Nádia Issufo: Quem é Cheny Wa Guni?
Cheny Wa Guni: é um musico chopi que nasceu e cresceu em Maputo mas com influência da música chopi, porque os pais são chopi, e tanta convivência com os chopi nos tempos das férias e visitando família absorveu essa herança cultural da família, especialmente na música da timbila.

NI: Para além da timbila tocas outros instrumentos como o xitende, a mbira... Onde aprendeste a tocar?
C: Durante estes anos tive curiosidade de aprender outros instrumentos, embora o meu instrumento principal seja a timbila, e optei por investigar instrumentos tradicionais de Moçambique, fui fazendo amizade com outros músicos e daí tive a curiosidade e a aproximação com os instrumentos. Mas há outros instrumentos que pesquiso pessoalmente sem a ajuda de ninguém, ou ouvindo música e vou praticando e aperfeiçoando. Sabes que como músicos é mais fácil aprendermos a tocar mais um instrumento, afinal são muitos anos de aprendizagem de musica só pelo ouvido, sem ir para a escola, acho que isso também ajuda na rapidez do aperfeiçoamento. Vais ouvindo o que tocas e sabes qual é a qualidade exigida...

Foto: Werner Puntigam

NI: A timbila é um instrumento especial. Com é recebido o som deste instrumento nos países por onde andas?
C: As pessoas gostam, admiram e é incrível que algumas pensam que dentro das cabaças existe algum metal, que há alguma coisa que amplifica, mas a timbila não leva nenhum ferro. Já se sabe que a timbila foi considerado como património mundial em 2004 pela UNESCO. Então tentamos fazer o possível para divulgar a timbila, de dar a musica chopi pelo mundo fora, as pessoas gostam porque tem um ritmo especial, tem um som característico. É diferente dos outros xilofones como o caso do balafone, vibrafone, valimba. Ela tem um som característico que normalmente é tocado nas orquestras. Há alguma coisa de familiar para as pessoas, ela não é tão estranha, é uma coisa... Não sei... Acho que caracteriza o som do universo, acho que posso exageradamente dizer assim.


NI: Timbila Muzimba é a tua banda. O que está a fazer o grupo agora?
C: Recentemente está a fazer a promoção do segundo álbum que gravou agora em Junho (2009). Temos projectos de co-produção em parceria com outros. Esperamos lançar, se tudo correr bem, ainda este ano. Como se sabe o Timbila Muzimba é uma banda tradicional, mas também contemporânea, então quando não estamos no palco ocupamo-nos a fazer investigação, absorver outras influências e cultivamos outras partes da criação das músicas. Está activo dentro do programa que foi traçado pelo grupo.


NI: Fazes parte do Timbila Muzimba, mas tens feito trabalhos a solo. Por onde tens andado e o que tens feito?
C: Comecei este projecto a solo em Moçambique. Timbila Muzimba é uma banda muito grande e às vezes fico trancado a tocar sozinho em casa e daí me veio a idéia de tocar sozinho. Comecei em Moçambique e as pessoas encorajam-me, é uma coisa intimista porque sabes que o Timbila Muzimba é um elefante no palco e transmite uma energia muito forte. Este (Alemanha) é o segundo país onde apresento este projecto a solo. O primeiro foi o Brasil, estive em São Paulo. Acho que é uma maneira de levar o Timbila Muzimba para os sítios novos. O meu projecto a solo será como uma flecha que abrirá caminhos para a banda. Aqui em Estugarda também foi um sucesso, acho que foi uma revelação por tocar muitos instrumentos, cantar em chopi e explicar a musica. Acho que está a ser um sucesso. Estou a gostar, acho que é um caminho que está a ser bem trilhado.
 

NI: Tu e a Lucrécia estão a levar para o mundo a peça dela “Mulher Asfalto”, com a característica de que nesta peça, pela primera vez, há um instrumento musical, ou há uma parceria entre a música e o teatro, pelo menos no teatro moçambicano. Queres falar desse trabalho?
C: Foi a fazer este projecto a solo que surgiu a oportunidade e interesse de fazer parte deste projecto. A experiência é boa porque normalmente quando trabalhamos no filme ou no teatro nunca aparecemos no palco e acho que agora com esta experiência estou-me a descobrir, estou a aprender a ser actor ou a actuar como actor e como músico. Mas é acima de tudo uma aprendizagem e um privilégio trabalhar com uma pessoa como a Lucrecia, uma pessoa cheia de experiência no mundo de teatro, no mundo da comunicação, de captar sensações, de transmitir expressões ou sentimentos e isso ajuda-me como artista porque preciso de aprender isso. Além de que é uma oportunidade de partilhar ao mesmo momento essa emoção de fazer teatro e é uma peça especial porque trabalhei nas composições. Criamos juntos, às vezes é um stress, mas quando conseguimos ficamos felizes. Está a ser uma boa experiência para mim, estou a gostar cada vez mais e acho que estamos a conquistar uma marca ao nível do teatro porque acho que já se faz isto, mas não com esta intensidade. Acho que estamos a registar uma marca no mundo da música e do teatro. Mas é mais teatro do que música. Mas está a ser um trabalho agradável.




Esta entrevista foi feita em Novembro de 2008

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