Há quase um ano atrás, a 24 de Dezembro, o capitão Dadis Camara desfilava vitorioso pela cidade de Conacry num belicista cortejo, que integrava os seus militares de arma em punho e aplaudido por alguns por ter feito o que se chama de golpe de Estado branco. Ontem um desfile, embora que menos vistosos e mais individual, também aconteceu, mas desta vez levou-o ao hospital da cidade...
Um intervalo negro, entre um cortejo e outro, controverso e regado de muito sangue e lágrimas num país que está em queda livre.
Uma autêntica “salada russa” como se chama na minha terra a um conjunto de problemas, com ingredientes que uns consideram “chineses”, a mistura com outros ocidentais. Riquezas naturais que atiçam a cobiça de muitos, tanto dentro como fora do país, uma sociedade onde a questão étnica ainda é o motor que movimenta tudo, incluindo o que não deve: a política.
A agudizar tudo isto, o temperamento dos guineenses parece, se não de inconformados, no mínimo explosivo. E podemos ainda acrescentar mais, a Guiné Conacry é considerada a plataforma giratória da droga que vem da América Latina e que continua viagem até ao velho continente. E de fora não fica o facto dos militares terem um poder desmesurado neste país.
Afinal a quem interessa a instabilidade na Guiné Conacry?
No dia 15 de Outubro lia-se no site BBC Brasil “Fundo chinês está negociando exploração de minérios com governo militar da Guiné, que é acusado de abusos. A organização não-governamental Human Rights Watch afirmou que um possível acordo de US$ 7 bilhões de um fundo de investimento chinês com o governo da Guiné pode fortalecer o regime militar que assumiu o país há dez meses.”
Num país fragilizado, ou frágil, facilmente se consegue tudo desde que se tenha dinheiro ou o que dele advém. E ponto fraco chama-se ganância, aquela doença que atinge muitos lideres africanos e que conduz os países que dirigem a falência. Mas outros também assinaram acordos que lesam o desenvolvimento do país e da sua população.
Senso de Oportunidade ou Porquice?
Diz-se que o mundo dos negócios é cão e para se atingir fins não se olham os meios. Tal como supostamente os chineses os outros também o fazem. A minha questão é: como se empenham em fechar grandes negócios com um Governo que sob o ponto de vista democrático constitui uma aberração? Que é provisório? Quando se aproveita deste tipo de fraquezas, muito há por se dizer...
Democracia: sinónimo apenas de eleições?
Quando o capitão Dadis Camará tomou o poder de forma inconstitucional “os pais” da democracia e dos Direitos Humanos fizeram os habituais apelos e discursos. A União Européia, a União Africana, os Estados Unidos e a Federação Internacional das Ligas dos Direitos Humanos condenaram a tentativa de golpe de Estado na Guiné, e defenderam o respeito da Constituição para organizar eleições livres. A ONU, por sua vez, pediu "moderação" a todas as partes envolvidas. Foram feitas as pressões habituais para a realização das eleições e o retorno a legalidade. Mas nada interrempeu a intimidação, clima de terror, e quase ditadura que o país viveu. Esperaram para que a merda fedesse para que se instaurassem “comichões de inquérito”. Lê-se no site da Panapress:
“O presidente da Comissão de Inquérito das Nações Unidas sobre o massacre perpetrado na Guiné-Conakry, a 28 de Setembro passado, Mohamed Bedjaoui, começou sábado a ouvir várias testemunhas para apurar a verdade sobre estes trágicos eventos, soube a PANA junto dos inquiridos” Mais pode ser lido em: http://www.panapress.com/freenewspor.asp?code=por007957&dte=28/11/2009
Também o Tribunal Penal Internacional já está a pensar em bater o seu pesado martelo na mesa...
Mostrar trabalho?Enquanto o capitão liderou os destinos dos guineenses, os parentes do ex-Presidente Lansana Conté, considerados corruptos, foram presos, acusados de envolvimento no negócio da droga e outras coisas duvidosas. Também durante o regime do capitão, algumas redes de droga foram desmanteladas. Ou seja, tentou limpar a casa, ou mostrou que na sua casa a ordem devia ser reposta. A intenção era só de legitimar o seu cargo de Presidente?
O mau da fita?Difícil saber. Se não o era, então meteu os pés pelas mãos e está visto! Se era, também meteu os pés pelo mesmo sitio...
A Cobra morde a mão do tocador?
O capitão conseguiu ascender à presidência porque reuniu o apoio militar. O extremo que esta Junta conseguiu, pelo menos não se provou o contrário até ao momento, foi o massacre do dia 28 de Setembro que matou mais de 150 pessoas e a violação de dezenas de mulheres cujas as imagens chocantes podem ser vistas no youtube.
O capitão aceita que a “Comichão de Inquérito” funcione abertamente no país. Ainda na mesma notícia da Panapress lê-se: "O chefe da junta e o seu primeiro-ministro comprometeram-se por escrito a assegurar a independência da Comissão de Inquérito, criada pelo secretário-geral das Nações Unidas, Ban Ki-moon, após os eventos trágicos que se seguiram a um comício popular liderado pela oposição para denunciar a candidatura do chefe da junta às eleições presidenciais de Janeiro próximo."
Alguém tem de assumir as culpas.
A Panapress noticia: "Segundo as fontes, tiros teriam sido disparados contra o cortejo do chefe da Junta guineense pelo seu ajudante de campo, Aboubacar "Toumba" Diakité, cujo nome teria sido dado pelas autoridades militares à comissão de inquérito das Nações Unidas sobre os massacres de manifestações a 28 de Setembro último como o principal mandantante das matanças ocorridas no maior estádio de Conakry. Várias testemunhas ouvidas pela comissão de inquérito da ONU, que termina a sua missão esta sexta-feira, teriam igualmente citado o nome de Aboubacar "Toumba" Diakité como sendo o ordenador dos disparos contra a multidão durante a manifestação da oposição para denunciar a candidatura do capitão Dadis Camara e dos outros membros da Junta às presidenciais de Janeiro próximo."
Procure mais em: http://www.panapress.com/freenewspor.asp?code=por008063&dte=04/12/2009
Ainda nao terminei, de verdade...
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