terça-feira, 21 de abril de 2009

Presentes Repetidos


Foto: Ivan Laranjeira

Pessoas se repetem na minha vida, mas com uma única diferença: vem pela segunda vez em invólucro diferente. Olho para elas a primeira e não merecem mais do que a minha indiferença, até que me aproximo delas e os olhos brilham! E penso: ganhei um presente! Tudo mentira... À medida que o desembrulho vão se revelando partes da prenda bem conhecidas. Tudo o que os meus sentidos permitem perceber é tranquilamente agradável... Desde princípios deste mês dei início a minha luta contra o papel e fita cola... Ainda não vislumbrei na totalidade as formas desta prenda, mas chego lá!! O tempo não pesa nestes assuntos...

A sensação é aquela que os recém casados têm quando abrem os presentes. Um conjunto de copos! Não, não é verdade, esse é o presente mais vulgar! Para entregar aos putos para partirem. No caso trata-se um presente especial, daqueles que os noivos colocam na cristaleira da sua sala para as visitas alegrarem os olhos e sentirem um pouco de inveja...

Então me faço duas perguntas ou vou mais longe e atrevo-me a confirmar: ou estou a envelhecer ou então o mundo que se supõe imensurável afinal não tem muitas alternativas. Caso contrário não me daria mais um presente desses, talvez outro, melhor ou pior... Não interessa!

Uma das grandes vantagens que vejo em receber pela segunda vez o mesmo presente é a chance de usufruí-lo com sabedoria como não o soube fazer antes. Ai terei de mostrar a Deus e a mim mesma que não sou tão incompetente assim. É sim também uma questão de vaidade! Vai ver que é também vaidade dele, quer ter a certeza de que não espalhou apenas bestas pelo mundo. É a segunda chance! Nunca pensei que com pessoas houvesse segunda chance! Funciona como um teste. O que correu bem antes deve ser aplicado e melhorado ao detalhe. Levo vantagem, mas não devo repetir os mesmos erros, são admitidos outros tipos de danos, mas não os mesmos. Palha de aço é só para panelas.

Na verdade repetição não é a palavra certa para definir a situação, será um reencontro? Continuidade? Acho esta última melhora, afinal presentes podem acabar no sótão se perdem a utilidade... Tudo o que não é dispensável neste caso não tinha sequer o seu espaço. Vamos começar onde paramos há alguns anos. Um mais um é igual a dois, aguentamos? Então como fazemos? A solução é somar tudo e dividirmos em partes iguais e cada um toma conta! E no final se não conseguirmos? Mas arriscamos, não é?

A fase dos silêncios recheados de conteúdos sobejamente conhecidos, poderosas armas mortíferas, ficou para trás. Na continuidade o silêncio foi brutalmente assassinado, as verdades são jogadas na mesa com a mesma força bruta usada para tirar a vida ao silêncio! Apenas persiste a mudez dos sábios... doce calar...

Há que ter cuidado no manuseamento de peças raras! Panos de flanela, macios, água morna... Colocá-lo num lugar especial, senão riscam-se... E se isso acontecer onde achar outro? Bondade de Deus não é como areia da praia! Duas vezes já é privilégio, terceira poderia dizer com toda a certeza que não sou enteada do grande, mas sorte tem limites! A frase “quem não arrisca não petisca” não é para aqui chamada!

Agora me pergunto: ou a vida decidiu que o presente é o objecto dos meus olhos ou ela, consoante os meus estágios de evolução, vai pondo o mesmo presente na esperança de que cuide então melhor dele! Com 24 atirando a peça querida para um canto pensando que não se parte! Com 30 pensando que é de cristal, lindo, com brilho natural e não deve de forma nenhuma ser riscado e misturado! Aos 40 como será? Criarei um pedestal só para ele?
Haja saúde até lá...

(Munganuwanga(s), nunca se esqueçam da vossa relevância, mas não dá para sentar em cima da realidade... não há bunda, por maior que seja, que consiga esconder isso!)

9 comentários:

  1. quando achamos que a nossa vida é um filme e que somos o personagem principal, caímos do cavalo e percebemos que não se trata mais do que uma novela...

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  2. e como toda BOA NOVELA, as histórias se repetem,... Mas no final (como na novela) sempre dá tudo certo. Se ainda não deu, é por que ainda não chegou o final :-P

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  3. Olá,
    gosto deste texto. Tem alegria, ironia, profundidade e matáforas subits. No entanto duvido que a vida ou o mundo de nos presentes, que a vida tome conta da nossa evolucao; penso que o mundo e bastante indiferente e o que nos acontece nao faz muito sentido. Sei que para sobreviver temos de dar um sentido a nossa vida; mas nunca temos a certeca que no fim tudo faz sentido e tudo se resolve como se fosse um filme ou um livro.

    Na vida nada se repete. Cada momento é uma estreia. Nao se pode entrar duas vezes na mesma corrente e nao se encontra duas vezes a mesma pessoa. Desembrulhar a prenda para que a verdadeira indole apareca pode ser a via errada. Nao gostaria se alguem me dissesse que depois de 8 anos ainda sou ou mesmo.
    M.B.

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  4. O problema é que não se trata da mesma pessoa... Já ouviste falar de intersecção em lógica matemática?

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  5. ja ouvi, mas a matemática nao me interessa

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  6. Pois é... a mim também não. Mas se isso me ajuda em alguma coisa, porque não?
    A intenção era promover a troca de ideias, só assim crescemos, não?

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  7. Sim, claro, o que outro motivo para enviar commentarios senao este? É só que eu ainda nao posso bem imaginar como a matematica tem um papel nisso. Vou ver.

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  8. Num determinado momento pensei que não fosse esse o objectivo, graças a Deus estava enganada...
    Penso que os presentes podem ser vistos como repetição na lógica da interseção, ou seja, são iguais, ou se se sobrepõem apenas num momento. No resto continuam a ser objectos diferentes, A é A e B é B... Então a tua teoria de que "Na vida nada se repete. Cada momento é uma estreia." para mim não é absoluta...embora bastante valida! A exemplo disso é que cada objecto tem a sua designação, por conseguinte, suas caracteristicas, suas formas...
    A referência a lógica matemática é apenas ilustrativa, na verdade não domino o assunto. Talvez olhando para o diagrama de Venn percebas como interpreto o facto aqui contado.

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  9. poxa. isso q eu chamo e debate. vou ler de camarote :-) e viva a liberdade de expressao

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