60 kg de massa humana não têm força para suportar o pesado fardo do vazio da impotência... Nem debaixo da mais potente lente do microscópio JEOL ele se deixa ver.
É no descair dos ombros que se sente, os olhos da rua alcançam apenas ombros erectos, carregados de autoconfiança. No olhar distante, que nem eu sei qual o seu raio, não se alcança o infinito da Iris no cruzar de olhares das esquinas do mundo... Tão inerte que não reage a atropelos... humanos, animais... É a morte!
O batom, os sapatos de salto, queixo a tocar o céu, meia duzia de papeis carimbados por pobres mortais são as minhas armas para enfrentar a vida... Não posso ser engolida por ela! Mas sigo debaixo da indiferença diária dos olhos do mundo... É esta reacção que necessito para me trazer a confirmação de que está tudo certo! Somos todos iguais... Cada um com a sua kalaschnikov, magnum 45, 38, uzy, catana, pau, pedra... Ninguém tem fraquezas... Somos todos fortes, afinal estamos armados! Diferentes no calibre apenas... Isso é apenas um detalhe, não é?
Mas um dia sou atingida... As vezes por uma pedra, outras por uma catana, e no pior dos piores dias por um míssil de longo alcance que não é dos testes que causam muito furdunço lá nas bandas de Kim Jong-il ... Esse é intencional! Fica a espera de uma vitima que também está armada... Ai os detalhes... Posicionei-me no hemisfério norte com a ajuda de uma bússola de modo a ser reduzida a nada... Seduzida pelas luzes da Kurt-Schumacher Strasse... Em Dezembro a árvore de natal em tamanho gigante, tudo só luzinhas, acende e paga... Muda de côr... Num edifício desta rua... É tão linda! As crianças da minha terra quereriam ver também! Mas há outras luzes ainda... essas estão acesas todos os dias, nunca se faz o "switch off"...
É preciso ter cabedal! Coisa que descobri que em mim não passava de rascunho... Como eu me acho!!
Nem toda a maquiagem do mundo ressuscita o que está no chão... Não está a sete palmos da terra... Ainda não... Mas não há maquiagem... No meu intimo a dor escorrega nas paredes como água, como corpo sem consistência, sem formas, sem sustento... Só segue as formas dos 60 kg de massa humana...
Sou dona de quê? Apenas de 60 kg? Também poderia ser proprietária de 60 kg de pedra, de amendoins, de açúcar... Pelo menos esses corpos nunca tiveram a consciência de nunca foram nada... ou alguma coisa... Um amendoim não trama outro amendoim...
Mas um Homem pode retirar a existência de outro... Coitados dos humanos...
Desde quando pode um Homem retirar o conteúdo do seu semelhante? A isto se chama matar pela metade! A esperança só respira porque os 60kg ainda se movem, embora que mecanicamente. Está programado para actividades de 24 horas, mais do que isso dá bloqueio. Não há coordenação de movimentos, muito menos harmonia...
Fujo hoje, fujo amanhã, fujo depois... Até quando? Procuro os cuidados intensivos ou caminho para o necrotério?
No hemisfério sul o batom e os sapatos de salto também tem serventia... apesar dos buracos!
Rifa-se um coração quase novo.Um coração idealista.Um coração como poucos.Um coração à moda antiga.Um coração moleque que insiste em pregar peças no seu usuário.(primeiro verso de um poema e Clarisse Lispector)
ResponderEliminarEngraçado como as fugas sempre nos levam a um beco sem saída. E nesse beco o que nos espero é um encontro com o nosso "eu". Ao fim esse encontro acaba num reconhecimento, numa intimidade que ora nos envergonha ora nos exalta ora nos humilha. Mas na realidade acaba por revelar-se na celebração do ser. O ser que apesar da maquiagem e dos saltos "vou ti matar" nao passa de um ser humano... com rotinas, frequezas e força! Muita força! De onde é que essa força vem? Do beco sem saída :)
ResponderEliminarCarla