segunda-feira, 21 de dezembro de 2009

Guiné Conacry: Anciãos já não desempenham o seu papel?

As Nações Unidas publicaram nesta segunda-feira o seu Relatório sobre o massacre de 28 de Setembro na Guiné Conacry e chegaram a conclusão óbvia e já conhecida, que o mesmo foi um crime contra a humanidade...
A ONU tinha enviado uma equipa para o país para investigar o sucedido e os resultados foram dados a conhecer no seu Conselho de Segurança.
“A comissão considera que há provas suficientes para supor a responsabilidade criminal directa do presidente Moussa Dadis Camara”, diz o relatório. Segundo o diário francês "Le Monde", para além do capitão Camara, a comissão de inquérito considerou ainda responsáveis o seu antigo ajudante de campo Aboubacar "Toumba" Diakite e um outro seu aliado, ClaudePivi. " Lê-se no site da SIC: http://sic.sapo.pt/online/noticias/mundo/Massacre+de+28+de+Setembro+na+Guine+e+crime+contra+a+Humanidade.htm
"Segunda-feira Negra" é o titulo do Relatório da "Human Rights Watch" sobre o sucedido. Chocada com a dimensão da brutalidade foi como esta organização de defesa dos direitos do Homem, já habituada a lidar com violações, disse ter ficado.
Pode ouvir a peça sobre o pronunciamento da "HRW" em: http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html, selecionando a emissão da manhã do dia 22 de Dezembro.
Muito bem! A primeira fase, depois da desgraça, está concluida. Confirmações das barbaridades no terreno. E depois? Virá alguma acção concreta de algum lugar para evitar o descalabro, se é que ainda não está, deste país? Parece que sim...

Depois do leite derramado...
O primeiro passo a ONU já deu: a embaixadora deste organismo disse que o Tribunal Penal Internacional pode investigar os responsáveis pelo massacre. Susan Rice lembrou que a Guiné ratificou o Tratado de Roma que estabelece o primeiro tribunal permanente para julgar casos de genocídio, crimes de guerra e contra a humanidade. E o Tratado dá ao tribunal autoridade para determinar quando iniciar as investigações.
Enquanto isso a mediação da crise deste país ao nível da região mostrou-se um fracasso depois que a Junta se baldou para ela.

A Guiné Conacry caiu no saco do esquecimento do mundo?
Não sei dizer... Mas que a situação deste país foi tratada de forma marginal me atrevo a dizer... E quem acompanha a situação do país irá concordar, pelo menos um pouco.
Conversando com um cidadão guineense colhi algumas opiniões. Uma delas é de que o continente nada faz para que o seu país saia deste marasmo. O cidadão apelou para "uma mão lava a outra e as duas lavam a cara" lembrando da ajuda que a Guiné Conacry deu a Moçambique, Angola e outros e esperando, por isso, por um retorno também. Respeito o desejo de ver materializada a frase sobejamente conhecida, "Uma mão lava a outra", afinal só assim o mundo segue. Mas, antes de ver as coisas como transações "comerciais", ou sendo menos dura, troca de favores, sou um ser humano e pequeno! Por isso considero e acredito que a situação tem de ser vista e resolvida primeiro considerando o ponto de vista humanitário, sem chamar as dividas a mesa! Senti neste individuo o desespero pelo sentimento de abandono.

O apelo do emocional colectivo
O nosso diálogo tinha emperrado na questão dos "pagamentos". Mas depois inteligentemente o cidadão veio com uma justificação no mínimo plausível: é preciso que os lideres africanos, considerados respeitados, intervenham com o apelo e a recuperação dos ideiais de grandes nomes da política africana, como é o caso do ex-presidente da Guiné Conacry, Ahmed Sékou Touré. O cidadão não espera ajuda financeira, envios militares, mas sim um elemento, senão histórico pelo menos de enquadramento, que catalize a coesão do colectivo guineense catapultando-os para dentro dos carris.
África é um continente que tem as suas sarnas para se coçar e acredito que por isso, também, os seus lideres estejam ocupados a cuidar das suas feridas e também dos seus umbigos. Mas isso não nos impede de olharmos para o vizinho. E eu que olhava para o meu continente com mais respeito e orgulho nos últimos dois anos por ver os nosso lideres mediarem com algum sucesso os casos mais cabeludos do continente sem precisarem de "intervenção" ocidental, fui obrigada a frear os travões...
Esta não é a primera vez este mês que oiço uma opinião do género. O Ruanda pediu aos seus irmaõs africanos que extraditem os supostos envolvidos no genocídio de 1994 e até bem pouco tempo, não teve resposta. O procurador geral deste país assim o disse e de uma forma bem contundente, dando até exemplos de paises europeus e dos EUA que se tem empenhado para que seja feita a justiça. Parece que só reagindo assim se consegue frutos, pois pelo menos Moçambique decidiu, depois de dois anos de apelos ruandeses, enviar a sua ministra da justiça com a mensagem de que vai colaborar com as autoridades do Ruanda e que vai assinar um acordo de extradição com o Ruanda. Vergonha na cara...

Génese ...
Quem sou, de onde venho, para onde vou e como quero fazer isso. E os que nos rodeiam tem um papel fundamental na construção deste percurso. Ignorar o próximo também é um contributo para a sua auto-destruição... mesmo que esse individuo tenha mais de 50 anos, como é o caso da Guiné Conacry...
Está na hora dos guineenses se reencontrarem primeiro e seguir depois, com ajuda claro, (re)construindo o seu destino.
Parece que a tradicional forma de resolução de conflictos da "família africana" deve ser resgatada...
Entendi sem muito esforço os argumentos de quem conhece o seu país e o seu povo. Não como jornalista e cidadã do mundo, mas como ser humano...

1 comentário:

  1. Muito bem! Mulher Portentosa do Mocambique.
    Um texto bem atualizado e que deve ser traduzido em outros linguas e divulgado em outro blog o site Internet...

    Obrigado... Chiquiiii.....

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