quarta-feira, 25 de janeiro de 2012

As propostas de Marcolino Moco para Angola

Marcolino Moco publicou recentemente um ensaio intitulado "Angola- a terceira tentativa". Neste documento ele apresenta propostas para o melhoramento da vida sócio-política de Angola. O ex-primeiro ministro do país, em entrevista a DW, negou que pretende se candidatar as presidenciais deste ano e que o seu nome seja indicado para concorrer como vice-presidente do país pelo MPLA, o partido no poder. Mas se essa posbilidade exisitir, Moco diz que impõe algumas condições para ocupar qualquer cargo dentro do MPLA. Numa entrevista a DW, conduzida por mim, Moco falou sobre o seu país:




Nádia Issufo: Qual é a terceira alternativa que propõe para Angola no seu ensaio?
Marcolino Moco: Para começar eu chamo de primeira alternativa as práticas do regime actual na sua arrogância, o seu descaramento em relação aos desvios de bens públicos para utilização pessoal, na sua ideia de fazer secar a oposição, na sua ideia de centralizar tudo em Luanda e nas mãos do presidente. E chamo segunda alternativa ao que já se começa esboçar e que pode desembocar numa revolução, em que as pessoas, depois de dez anos do fim da guerra, começam a reagir contra esse tipo de reacção. E muitas pessoas já começam a comprar a situação de Angola a da Tunísia, Egipto ou Líbia, em que houve uma revolução, mas que também não resolveu os problemas. Então, é ai que surge a terceira alternativa que é um conjunto de propostas que apresento para se chegar a negociação em que se aborde, por exemplo, a espoliação que teve início no tempo da guerra e não havia controlo, mas que deve parar. A família do presidente que tem as coisas que fique com ela, mas que pare com isso de uma vez por toda e que invista o dinheiro que arrecadou no país e que comece a submeter-se as regras.

NI: No seu ensaio fala da necessidade do abondono de uma concessão pessoalizada do poder para que se passe a uma agenda verdadeiramente nacional. A actual agenda de governação não serve aos interesses nacionais?
MM: Não sou eu que acho... Todo o individuo que vive em Angola e observe minimamente o que se passa, porque está tudo a vista, e não é preciso investigar, sabe. E se as pessoas precisam de investigar é só ler algumas coisas publicadas nos últimos tempos, por exemplo, o livro do jornalista e pesquisador Rafael Marques, que inclusive o entregu a Procuradoria para que processe gente ligada ao poder pelas atrocidades que comete contra a população do Leste de Angola em nome da exploração de diamantes para determonadas famílias, e existem outros exmplos para demonstrar que o Estado está pessoalizado. Tudo o que acontece hoje é igual ou pior do que na era colonial.

NI: Diz que as eleições do tipo ocidental não resolvem questões de fundo e que tem sido a mãe de muitas tragédias, particularmente em África. Quer explicar melhor esse ponto de vista no que concerne ao seu país?
MM: Também está a vista de todos que as pressões que o Ocidente faz para a realização de eleições que nunca resolveram os problemas e nunca resultaram em grandes coisas, temos exemplos do Gabão e do Quénia. Enquanto antes das eleições não se resolvem os problemas fundamentais, as eleições não servem para nada. Eu costumo usar a seguinte parábola: quando você usa perfume no corpo sem primeiro tomar banho, o resultado é um cheiro nauseabundo, e por vezes é o que se faz aqui em África. Nas próximas eleições angolanas ou vai haver a rejeição dos resultados, ou então o regime vai se reforçar ainda mais. E a fraude já começou, porque o único candidato que domina  todos os meios de comunicação públicos é José Eduardo dos Santos, e os meios privados que chegam ao interior do país são dos filhos dele e dos seus próximos e a falta de transparência na utilização dos bens económicos e financeiros é muito descarada.

NI: Fala-se de uma aproximação do presidente José Eduardo dos Santos a outras figuras e partidos em Angola como interpreta esta aproximação?
 MM: Esta aproximação enquadra-se naquilo que eu chamo a solução de primeira alternativa, que é dividir para reinar. Neste momento é claro que com as manifestações dos jovens e com a proximidade de eleições José Eduardo dos Santos está a fazer todos os jogos para dizer que zela pelo diálogo. Mas é um diálogo ínvio porque assenta não no interesse do país mas nos seus próprios interesses.

NI: Vai candidatar-se às presidenciais?
MM: Não, como seria possível? O Presidente mudou as coisas de tal modo que só os partidos têm essa possibilidade ou então as coligações. Eu prefiro continuar como estou a fazer uma intervenção cívica política.

NI: E nem como vice-presidente? Ou seu nome não foi apontado?
MM: Onde? No MPLA? Nem pensar. Eu não estou na direção do partido pelo que não posso ser apontado, nem aceitaria enquanto aqueles pontos que coloquei no meu ensaio não forem publicamente esclarecidos. Qualquer contato comigo só poderá ser feito na base desses dez pontos que cito no meu documento porque Angola tem de começar a respeitar os direitos fundamentais das pessoas. Alias este documento apareceu porque se tem estado a aventar que es estaria a ser sondado para um regresso, isso para alerter que qualquer aproximação a minha pessoa só pode acontecer depois de resolvidos os tais pontos.

Escute parte desta entrevista em: 
http://www.dw-world.de/dw/0,,9585,00.html
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