segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Mayra Andrade conjugada no mais que perfeito



Linda voz rouca, capaz de conduzir qualquer um por agradáveis caminhos desconhecidos, canta muito bem, tem capacidade natural de improviso, sintónia espontanea com os elementos da banda, excelente comunicação com o público, explora inteligentemente elementos de união entre ela e os espectadores. Essa é a Mayra Andrade, a cantora cabo verdiana, da nova geração, que provavelmente tem mais visibilidade e projecção internacionalmente.
Embora eu não entenda nada de música, mas adore, notei também que a sua banda era bastante profissional, que a música da Mayra é muito misturada, mas também muito refinada em termos instrumentais. Quem presta um pouco mais de atenção nota grande categoria quando executa notas do samba, do kwassa-kwassa, da morna, ou até do fado.  

O berco
A postura de Mayra Andrade denuncia preparo académico de qualidade, actuou na última sexta-feira em Bona, cantando quase sempre em Crioulo, outras em Francês, ora dava uma raras oportunidades ao Português, e expilcou ao público, em Inglês, que não fala Alemão porque a sua língua de ensino foi o Francês...
Alias, um público, que na sua maioria, se revelou! Ou até nao... A cantora apresentou os membros da sua banda, e quando chegou a vez do homem do cavaquinho, ela disse que ele era brasileiro e entao o público aplaudiu calorosamente, mas quando ela explicou que era de origem siria, a reaccao em uníssono foi: Ohhhh... E ela perguntou: "Ohhh o que?". E estes continuam a ser os alemaes...

Percebi também, pelo diálogo que estabeleceu com os espectadores, que teve oportunidades diferentes da maioria dos africanos. Por exemplo, contou que quando tinha 12 anos tinha visitado o museu onde naquele dia atuava. A sua elegância e bom gosto ajudam-me a confirmar as minhas suspeitas. Maquilhada com discrição e bom gosto, trazia um vestido de noite longo, preto e muito elegante, com alcinhas finas de pedras, nos pés delicadas sandálias prateadas. Unhas discretamente pintadas e bem tratadas e um anel discreto no dedo. Classe e perfeição, aliás esta aparência combinava com a sala onde actuava. Mas isto é que foi para mim a decepção.
Sou do tipo que nalguns aspectos é alimentada de esterotipos, para mim artista tem de ser diferente, para ver "pobres mortais" não preciso de pagar, vejo-os todos os dias na rua, ou então em casamentos quando sacodem as poeira das suas elegantes roupas há muito tempo confinadas no guarda-fatos. Esse foi o único balde de água gelada sobre o meu entusisamo. Depois percebi porque quando convidei a Carla a vir comigo ao espetáculo ela recusou-se e disse: "ela é sem sal."

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