quinta-feira, 29 de dezembro de 2011

Moçambique: viragem de 180 graus na política?

 Foto: Ismael Miquidade


O cenário político moçambicano está em profunda mudança. A Renamo, considerado o maior partido da oposição, está enfraquecido e perde lugar para o MDM, partido formado pelos seus dissidentes. Apesar disso a Renamo ainda tem o seu peso e obriga a Frelimo, o partido no poder, a algumas cedências. O MDM, por seu lado, soma e segue, para além de destronar a Renamo, está a conseguir derrubar a hegemonia do partido do poder. Desenha-se agora uma fase de desafios para a Frelimo que governa o país há 36 anos? Numa entrevista para a Deutsche Welle, conduzida por mim, o cientista político moçambicano, Jaime Macuane, fez a sua análise:

Nádia Issufo: Qual é a sua opinião sobre as duras baixas que a Renamo está a ter?
Jaime Macuane: As mudanças que ocorrem na Renamo podem ser o resultado de uma falta de cumprimento de uma certa expectativa que este partido tinha como um partido no xadrez político que seria a conquista do poder, ou talvez, na pior das hipóteses, conseguir ter um estatuto em que pudesse participar da suposta partilha de recursos que fizesse a sua máquina funcionar e os seus apoiantes terem benefícios. Acredito que tendo-se frustrado com as suas derrotas nas eleições de 1994, 1999, 2004 e depois em 2009 de forma mais expressiva, então criou-se uma certa desarticulação porque o partido não coneguiu cumprir com as promessas implicitas ou explicítas que fez aos seus apoiantes. Então, nesta situação torna-se complicado manter estas lealdades.

NI: Face ao enfraquecimento da Renamo, mas que continua a ter alguns trunfos na mão, e o fortalecimento do MDM que desafios tem a Frelimo agora?
JM: A Frelimo tem grandes desafios em dois sentidos: primeiro tem de lidar com dois tipos de adversários; a Renamo que em termos políticos ainda tem alguma força, que não pode ser subestimada,  mas que em termos programáticos não tem mostrado um discurso consistente. E por outro lado existe o MDM, que pode não ter a implantação que a Renamo tem, mas começa a ter um discurso crítico a Frelimo, mas não é belicista como o da Renamo, e olha mais para os pontos fracos da governação actual. Então a Frelimo tem que lidar não só com uma força militarizada que ameaça desestabilizar a ordem do sistema, mas lidar também com uma força mais politizada que é o MDM que começa a ter aceitação em circulos urbanos e no seio dos jovens. Portanto, é um grande desafio que a Frelimo terá pela frente nos próximos anos.

NI: Com estas mudanças no xadrez político moçambicano pode-se falar numa viragem de 180 graus?
JM: Está claro que que há uma mudança, mas eu não chamaria de mudança de 180 graus, apesar de alguns episódios de grande impacto como a derrota da  Frelimo nas eleições autarquicas de Quelimane este ano, mas sim que começam a surgir elementos para uma mudança consistente.


NI: A crescimento da consciência dos jovens é um dos principais motores destas mudanças, principalmente no caso da vitória do MDM em Quelimane. Considera isso reversivel?
JM: Não creio que seja reversivel, o nível de maturidade dos jovens não é o mesmo de há alguns anos. E existe outra explicação, o nível de educação e exposição a outras culturas é grande. Essa cosnciência deve ser acompanhadaa de políticos que tenham a sensibilidade de atender as aspirações dos jovens. Por isso, se a Frelimo não conseguir entender as aspirações deles e não estruturar uma prática e um discurso consentaneos, então este partido poderá perder a força e apoio que ela tem neste momento no país.

Mais sobre o assunto para ouvir em:
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