sexta-feira, 26 de agosto de 2011

Líbia

Se a permanência de Muammar Khadafi no poder dependesse de uma votação no continente africano, acredito que muitos votariam a favor. Tenho essa desconfiança pelas conversas que tenho com muitos africanos e pelas menasagens que oiço diariamente numa rádio internacional. Uma pena que nas horas de verdadeira crise a democracia não seja chamada... Isso acontece não só por gratidão, uma vez que o presidente líbio ajudou muitos países africanos, mas também pelo sentimento de humilhação e impotência por ver as grandes potencias mundiais invadirem um país africano sem que os outros vizinhos possam fazer algo.
A chamada comunidade internacional, que se aproveitou da crise do país, agora começa penetrar pelas brechas que também ajuda a abrir. O ministro dos Negócios Estrangeiros da Turquia, Ahmet Davutoglu, reconheceu o Conselho Nacional de Transição, CNT, como representante legítimo do povo líbio, e que se lixem as eleições, e foi ao seu bastião no principio deste mês, levar-lhe uma mala com 100 milhões de dolares. Juro que quando ouvi isso viagei para um filme ordinário sobre a máfia italiana! Istambul já até identificou sectores na Líbia onde pretende fazer negócios ultra lucrativos.
O anormal do presidente francês já mandou chamar os seus "putos", o CNT, para um encontro. Alias, a chacina e destruição na Líbia foram engendradas principalmente por Nicolas Sarkozy, que agora "cospe no prato que comeu", afinal ele sabe que pode comer mais ainda com o fim do regime de Kadhafi.
O grande especialista em invasões, destruições e alguma matança indescriminada desta vez surprendeu um "pouco" pela positiva, se é que isso se pode dizer. Os EUA quase estão invisiveis e mais cautelosos, embora em termos de mentalidade continue a ser igual a quase todos os países do Ocidente, Barack Obama lá vai dizendo aquelas coisas repetitivas.
Também através destas brechas penetram na Líbia os "ajudadores" ou "salvadores da Pátria". Acho que alguns países sofrem de uma espécie de megalomania: "se não fosse eu..."
A Alemanha, os EUA vão usar como garantia dinheiros líbios para "ajudar" na recosntrução do país.

CNT nunca corta a meta
Desde domingo que os rebeldes informam que tomaram grande parte da capital líbia, e até hoje não conseguem o pouco que falta. A informação sobre o controle da outra parte a media já não fala mais.
O CNT também informou que tinha prendido o filho do presidente líbio, uma grande mentira. O filho de Khadafi foi ao hotel da sua família mostrar ao mundo através da media, que estava em pé. Também não nos esqueçamos que sempre informavam que tinham tomado cidades estratégicas, quando não era verdade. Um conjunto de mentiras!
Agora desencadearam a caça ao homem. Onde está Muammar Kadhafi? Enquanto não o encontram, os líbios são mortos e o país destruido, para que os "ajudadores" se sintam mais importantes. E a comunidade internacional, que lá entrou em nome da defesa dos pobres líbios, chacina e destrói. Hoje o exército británico atacou um quartel general em Sirte, terra natal do presidente líbio. Não nos esqueçamos que os rebeldes só conseguiram chegar onde estão porque a comunidade internacional abriu caminho para eles, com a sua NATO sem legitimidade. E viva os interesses do povo líbio...

União Africana, a invisivel
A comunidade internacional simplesmente atropelou a maior organização africana, desta vez não houve fingimentos nem subtilezas, ignoraram a União Africana. Mal sabem eles que o seu maior inimigo nesta "caça ao bruxo" pode ser o continente abastecido por Kadhafi. Países de relação díficil com o Ocidente, ou que não seguem as suas imposições são os que mais se tem manifestado a favor do líder líbio: Zimbabue, Angola, Moçambique e talvez a África do Sul, entre outros. A SABC da África do Sul noticiou esta semana que Angola ofereceu axílo político a Kadhafi, o Zimbabué, entre outras coisas, já ameaçou expulsar o embaixador líbio de Harare por estar a ajudar os rebeldes. O ministro moçambicano dos Negócios Estrangeiros, Oldemiro Balói, disse em Maio último: “Dissociamo-nos completamente de todos os actos que têm estado a acontecer, para além da letra da resolução relativa à exclusão aérea. Agora são ataques para destruir a base de infra-estruturas da força aérea e com outros objectivos militares”, e mais recentemente sobre a caça a Kadhafi ele disse: “já era previsível” com a intervenção da NATO no país, feita “ao arrepio das regras internacionais”.
Pelas reacções destes quatro países, dá para deduzir que a cimeira dos estadistas da SADC, que aconteceu em Luanda há poucas semanas, foi decisiva em relação a Líbia. Como se diz "o segredo é a alma do negócio" e já me dizia o investigador do ISRI em Maputo, António Gaspar: "Não penses que a SADC quando se reúne não puxa as orelhas aos seus membros por mau comportamento, apenas não mostra ao mundo." A sabedoria africana não fica refém apenas das querelas domésticas familiares, ela alastra-se as COMUNIDADES...
Hoje a União Africana esteve reunida em Adis Abeba, na Etiopia, mas não houve resultados. O encontro foi marcado por divergências entre os membros relativamente ao reconhecimento político das partes líbias.
Enquanto uns reconhecem o CNT, o órgão político da rebelião líbia, outros fazem um finca pé, como Jacob Zuma e Yoweri Museveni. E dos que reconhecem o CNT nenhum pertence a SADC, por isso costumo dizer que das organizações regionais africanas a SADC é das mais coesas, pelo menos publicamente, o que lhe confere naturalmente maior credibilidade.





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