Em Maio deste ano conversei tranquilamente com o Azagaia num café de Maputo com vista para o mar. Uma conversa que desejava ter desde 2010, e só um ano mais tarde se tornou realidade. Já sabia o que queria perguntar, tanto é que preparei as perguntas enquanto esperava por ele e saboreava um delicioso sumo de tangerina natural supostamente feito na hora. Desejeva coloca-lo neste espaço, mas sempre a adiar a publicação dessa conversa por alguns motivos. Entretanto, um acontecimento precipitou a publicação, li em jornais moçambicanos que o rapper mais polémico do país foi detido por posse de canabis. Não posso escrever sobre o assunto porque o desconheço, vou esperar que o próprio o faça. Mas enquanto isso deixo que o Azagaia fale sobre algo maior, a sua causa:
Nádia Issufo: Quem é o Azagaia?
Azagaia: Azagaia é um outro eu, meu nome é Edson da Luz. Azagaia é a versão combativa do Edson, interventivo. É o Edson que não se cala perante as injustiças sociais, mas que acima de tudo acredita nos seus ideiais e faz tudo para mostrar isso. Então Azagaia é a capa que visto quando estou nesse combate.
NI: Ser uma arma de guerra é um grande risco...
A: É um grande risco porque a palavra guerra já diz que estamos sujeitos ou a viver, ou a morrer. E não se aplica apenas a parte fisíca, hoje posso ser aclamado e amanha detractado. Então é um risco constante.
NI: Como se costuma dizer, pões o dedo na ferida... Já alguma vez pagaste um preço alto por isso?
A: Já, e acredito que pago sempre, todos os dias. Quando fui ouvido na Procuradoria da República por causa da música "Povo no poder", foi o momento em que me senti mais ameaçado. Após a audição eu não sabia se seria preso, não estava a ser julgado, mas eram perguntas de averiguação, eles queriam saber se eu estava a cometer crimes contra a segurança do Estado e incitação a violência. Eu seria condenado caso eles achassem que havia matéria. Foi um momento difícil, senti-me ameaçado, mas sempre acreditei que quem não deve não teme, e depois um dia as pessoas percebm quem tem razão ou não. Na verdade todos clamamos pela mudança, mas pouco fazemos por isso. O facto de aparecer alguém como eu que diz que temos que mudar não é uma ameaça ao governo, é também ao modo de vida dos moçambicanos, temos de mudar todos. É verdade que uns tem de dar o exmplo, mas ao fim do dia todos tem que se transformar.
NI: Tens a sensção que estás a lutar contra a maré?
A: Não, não sou. Eu estou a lutar de um lado que nunca é ouvido.O meu problema é estar do lado errado.
NI: Achas que há liberdade de imprensa em Moçambique?
A: Acho que África é um caso especial quando se trata de liberadde de expressão. Porque a liberdade de expreessão nunca foi uma característica dos povos africanos, sempre tivemos regimes autoritários, reis, etc, então o povo africano tem uma forma própria de se expressar, através da arte, música, dança e pouca vezes é estando em frente a um microfone ou então falar na rua. Mas num sistema democrático e é um sistema que foi impingido, ninguém foi consultado. O sistema democrático preconiza a liberdade de expressão, ora nem por natureza os africanos tem direito de expressão, e nem os próprios governos deixam o povo ter essa liberdade. Em Moçambique a liberdade de expresssão é limitada. Eu posso dizer qua aqui a liberdade é maior que em Angola. Eu já estive lá e já pude perceber como é.
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