segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

Só calçado se vai longe

Foto: Ismael Miquidade
Titulo: Mercado

Os meus antepassados de pés rachados devem estar a rebolar na tumba neste momento... Eles que me perdoem, mas parece que só com sapato se vai longe!
Ha cerca de um ano entrevistei o escritor sueco Henning Mankel em Maputo e ele referiu-se aos sapatos de uma maneira nova para mim: como o sinónimo de desenvolvimento! E isso nunca mais me saiu da cabeça. Mankel disse: "Quando cheguei aqui (em Maputo), fiquei fora do teatro ver as pessoas a passarem e quase ninguém tinha sapatos. E lembro-me também que no primeiro ano de trabalho estranhei o facto de que depois de duas horas de trabalho os actores ficavam muito cansados, não se compreendia. Mais tarde percebi que era fome. A dona Manuela e eu arranjamos comida. Agora aqui todas as pessoas têm sapatos, dois, três, quatro pares de sapatos... Claramente estou a ver um grande desenvolvimento. Mas a coisa mais importante é que há paz que esta cá para ficar."
Meses depois deste entrevista a crise financeira e económica abalou o mundo e muitas fábricas de calçado encerraram, principalmente em Portugal. Ou pelo menos tive uma percepção maior nos casos deste país, talvez por ter noticiado mais sobre este caso.
Bem, a primeira parece que "o cú não tem nada a ver com as calças", mas talvez não seja exactamente assim... Se usamos sapatos é porque já atingimos um determinado estágio de desenvolvimento, pela lógica de Mankel,  então quando não há produção de sapatos pode-se pensar que o desenvolvimento sofre limitações... Mas isso também é uma questão de perspectiva.
A indústria chinesa tem também dado o seu contributo para o encerramento das "tradicionais" fábricas. Podemos falar talvez de uma substituição de "polos" de desenvolvimento?
Os sapatos chineses "nascem" como cogumelos pelo mundo e já há um tempo que nas "esquinas" de Moçambique são vendidos a preço de banana, quase que oferecidos! Um "boom" quase gratuito de desenvolvimento? Essa seria uma das perspectivas...
Paradoxalmente milhares de pessoas vão para o desemprego nas "tradiconais" fábricas, consequentemente milhares de famílias vivem aflitas, menos o país produz, etc... O "boom" aqui é do subdesenvolvimento.
Mas provavelmente que noutra parte do mundo, em contrapartida, criam-se mais postos de trabalho, mas famílias vem as suas condições de vida melhoradas, a produtividade do país aumenta muito... É só uma questão de localização geográfica!
Mas o sapato é mesmo importante... Está visto! Mesmo quando é para atirar contra um presidente... Ele é o sinal também de desenvolvimento de consciência, ou então, serve para expressar "activamente" a liberdade de opinião... Enfim, o sapato até poderia merecer uma estatua equivalente a estatua da liberdade de Nova Iorque...
Hoje entendo claramente a importância de um sapato, ele não apenas um acessório de protecção e
estético. O sapato é uma das bases das dinámicas mundiais!
Agora quando questionarem a quantidade dos meus sapatos terei um explicação: sou muito desenvolvida!!

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