quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

O Autocarro da meia noite

O motorista ao volante vai soltando umas baforadas de cigarro pela janela, ignorando tranquilamente o letreiro que proíbe fumar e, pior, os passageiros, tal como os seus amigos ignoram o letreiro que proíbe passageiros de permanecerem ao lado do motorista com o seu consentimento. O condutor também se torna mágico e transforma o passageiro que o cumprimenta e obrigatoriamente exibe o passe em algo invisível, se entra dinheiro ou não para a SWB não parece ser sua preocupação. Na estação central cada motorista liberta o seu lado adolescente e não respeita os códigos, e para que encarnem na perfeição o "dezoitão" fica só a faltar a música aos altos berros. Eles empatam-se uns aos outros conversando no meio da estrada, e de vez em quando um e outro se atrasa, deixando os passageiros dependentes (depois da meia noite não muitos meios de transportes públicos) apreensivos. Entretanto, o autocarro já está lá estacionado há muito tempo.

Acreditem, é o seu momento de liberdade ou pior, "casa da mãe Joana". Curiosamente, há uns tempos controladores da SWB, alemães, passaram a trabalhar a "meia-noite". Garanto-vos, quase não se dirigiam aos seus colegas motoristas. Vezes vi em que se confrontavam, embora que discretamente. Os controladores as vezes repetiam o trabalho do motorista; verificar mesmo se o passageiro tinha bilhete, entre outras coisas.

É dos poucos momentos em que me confundo e penso que estou na minha terra e não em Bona. Geralmente os africanos, ou não ocidentais, são considerados indisciplinados ou desregrados. Coincidência ou não, a maioria dos motoristas da "meia-noite" nesta cidade são estrangeiros. Uma vez uma amiga em Bona esperava pelo autocarro ou metro que estava atrasado e ouviu de um velho alemão: "os motoristas são estrangeiros por isso o autocarro está atrasado..." A minha amiga que não é alemã ficou boquiaberta.

Entretanto os atrasos dos meios de transporte nesta cidade são o pão de cada dia, embora os preços subam desavergonhadamente. Uma vez queixei-me, e o funcionário, estrangeiro, disse que era devido ao tráfego.

Paradoxalmente, neste país onde predomina o gelo, humano e no meio ambiente, o motorista mais simpático que encontrei não era alemão. Também já vi motoristas estrangeiros a fazerem respeitar os letreiros do autocarro, como por exemplo a impedir que um passageiro terminasse o seu pedaço de pizza ou algo do género.

Enfim, situações contraditórias que não podem servir para generalizar comportamentos, mas que mexem muito com um estrangeiro.Acreditem, é como ter um tsunami dentro de cérebro...


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