terça-feira, 8 de janeiro de 2013

2013 sem grandes mudanças em Angola

Em 2013 tudo deve continuar na mesma em Angola, prevê o ex-primeiro ministro Marcolino Moco. Ele acredita que as manifestações contra o regime se repetiraõ e fez duras críricas a Europa, por, na sua opinião, nada fazer em relação as irregularidades vividas em Angola e por aceitar, no caso de Portugal, investimentos duvidosos de familiares do Presidente José Eduardo dos Santos. Marcolino Moco vai mais longe e questiona mesmo a atuação do português Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia. O ex-primeiro ministro falou a DW África sobre as suas expectativas para 2013:



Marcolino Moco: Eu prevejo que não haverá grandes mudanças. Continuaremos a viver uma espécie de pax romana, que consiste no fim da guerra de tiros generalizada, com a exceção do território de Cabinda, onde continuará a haver certamente ainda algumas escaramuças, mas com grandes preocupações continuaremos a viver um regime anormal em termos de Estados que se proclamam democráticos.
O Presidente da República está há mais de 33 anos no poder. Num Estado democrático, essa é logo a primeira anormalidade. Continuaremos a assistir às suas manobras no sentido de continuar no poder - um poder que continua a sufocar o funcionamento das instituições. Está tudo centralizado na pessoa do Presidente. É ele que manda fazer tudo, mas depois atira as culpas para os outros.
E vamos continuar a ter as vozes diferentes sufocadas. Eu atualmente já só falo para vocês (de fora). Aqui em Angola, a minha voz já não é ouvida. Todos os meios de comunicação estão completamente controlados. Passa-se o mesmo com a oposição. Só algumas coisas controladas são divulgadas da oposição.


Nádia Issufo: Em termos sociais, pode-se esperar a continuação de manifestações como aconteceu nos últimos anos?

MM: Sim. Ainda há pouco tempo vivemos uma manifestação justa, pacífica, mas contra as anormalidades do país. [As pessoas] manifestavam-se contra o desaparecimento de dois jovens, dialogaram com as autoridades e sofreram, mais uma vez, uma forte repressão. Passaram o Natal na cadeia. É duro, mas não é divulgado pelos meios de comunicação nacionais e agora até estrangeiros, sobretudo de Portugal, que é uma plataforma onde as imensas vozes que se espalhavam pelo mundo também estão a ser compradas pela filha do Presidente [Isabel dos Santos] e pelos parentes. Então, o que vai acontecer é que os jovens ou vão desistir ou vão continuar, mas vão continuar também a ser reprimidos.

NI: No seu livro “Angola, a Terceira Alternativa”, dá contribuições para a retomada da construção de uma sociedade aberta e pacífica em Angola. Pensa que no ano que agora começa haverá condições para a tal retomada?

MM: Não é muito fácil porque aqui os debates de um livro como aquele não se efetivam, não têm espaço na comunicação social. Há toda uma série de gestos meio escondidos, mas por vezes bastante extensivos para desestimular esse debate. Veja, por exemplo, a crítica que eu faço no livro em relação às igrejas já teve algum efeito, porque as igrejas já foram capazes de criticar a forma como as eleições tiveram lugar. A igreja católica já chegou a dar uma espécie de ultimato em relação à Rádio Ecclesia, que é uma rádio que se devia ouvir em toda Angola, mas que só se ouve no Huambo e que agora também é controlada.

DW África: Já passaram três meses desde que o atual governo assumiu funções. A oposição e a sociedade civil estão no silêncio. Na sua opinião, isso significa que estão contentes com a governação?

MM: O silêncio é sufocado, mas em todo o lado, nos transportes públicos, nas nossas casas, em todo o lado há lamentações. Em relação à repressão dos jovens que se querem manifestar, há lamentações, em relação à falta de água e luz também. Infelizmente, na Europa as pessoas proclamam que este regime é democrático.
Eu, por exemplo, estou muito triste com o meu amigo presidente da Comissão Europeia [José Manuel Durão Barroso], que vem aqui algumas vezes dar alentos a este regime, mas na verdade este não é um regime democrático. Antes das eleições, o doutor Durão Barroso disse que havia todas as condições para haver eleições livres e justas quando já se via, naquela altura, que nunca haveria eleições livres e justas.
Em relação, por exemplo, às últimas notícias da filha do Presidente [Isabel dos Santos], que continua a comprar coisas em Portugal, não são coisinhas, são bancos, são telefónicas, são meios de comunicação, sem se explicar de onde é que uma jovem como ela está a tirar o dinheiro. O doutor Durão Barroso parece que anda muito satisfeito com essas compras, disse que é o empresariado angolano que está a comprar, quando não há empresariado angolano nenhum. É a família do Presidente que está a comprar com o dinheiro de proveniência não explicada.

Escute a entrevista em:
http://www.dw.de/marcolino-moco-não-prevê-mudanças-em-angola-em-2013/a-16493112
 http://www.dw.de/marcolino-moco-não-prevê-mudanças-em-angola-em-2013/a-16493112

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