Em 2013 tudo deve continuar na mesma em Angola, prevê o ex-primeiro ministro Marcolino Moco. Ele acredita que as manifestações contra o regime se repetiraõ e fez duras críricas a Europa, por, na sua opinião, nada fazer em relação as irregularidades vividas em Angola e por aceitar, no caso de Portugal, investimentos duvidosos de familiares do Presidente José Eduardo dos Santos. Marcolino Moco vai mais longe e questiona mesmo a atuação do português Durão Barroso, presidente da Comissão Europeia. O ex-primeiro ministro falou a DW África sobre as suas expectativas para 2013:
Marcolino Moco: Eu prevejo que não haverá grandes
mudanças. Continuaremos a viver uma espécie de pax romana, que consiste
no fim da guerra de tiros generalizada, com a exceção do território de Cabinda,
onde continuará a haver certamente ainda algumas escaramuças, mas com grandes
preocupações continuaremos a viver um regime anormal em termos de Estados que se
proclamam democráticos.
O Presidente da República está há mais de 33 anos no poder. Num Estado
democrático, essa é logo a primeira anormalidade. Continuaremos a assistir às
suas manobras no sentido de continuar no poder - um poder que continua a sufocar
o funcionamento das instituições. Está tudo centralizado na pessoa do
Presidente. É ele que manda fazer tudo, mas depois atira as culpas para os
outros.
E vamos continuar a ter as vozes diferentes sufocadas. Eu atualmente já só
falo para vocês (de fora). Aqui em Angola, a minha voz já não é ouvida. Todos os
meios de comunicação estão completamente controlados. Passa-se o mesmo com a
oposição. Só algumas coisas controladas são divulgadas da oposição.
Nádia Issufo: Em termos sociais, pode-se esperar a continuação de
manifestações como aconteceu nos últimos anos?
MM: Sim. Ainda há pouco tempo vivemos uma manifestação
justa, pacífica, mas contra as anormalidades do país. [As pessoas]
manifestavam-se contra o desaparecimento de dois jovens, dialogaram com as
autoridades e sofreram, mais uma vez, uma forte repressão. Passaram o Natal na
cadeia. É duro, mas não é divulgado pelos meios de comunicação nacionais e agora
até estrangeiros, sobretudo de Portugal, que é uma plataforma onde as imensas
vozes que se espalhavam pelo mundo também estão a ser compradas pela filha do
Presidente [Isabel dos Santos] e pelos parentes. Então, o que vai acontecer é
que os jovens ou vão desistir ou vão continuar, mas vão continuar também a ser
reprimidos.
NI: No seu livro “Angola, a Terceira Alternativa”, dá
contribuições para a retomada da construção de uma sociedade aberta e pacífica
em Angola. Pensa que no ano que agora começa haverá condições para a tal
retomada?
MM: Não é muito fácil porque aqui os debates de um livro
como aquele não se efetivam, não têm espaço na comunicação social. Há toda uma
série de gestos meio escondidos, mas por vezes bastante extensivos para
desestimular esse debate. Veja, por exemplo, a crítica que eu faço no livro em
relação às igrejas já teve algum efeito, porque as igrejas já foram capazes de
criticar a forma como as eleições tiveram lugar. A igreja católica já chegou a
dar uma espécie de ultimato em relação à Rádio Ecclesia, que é uma rádio que se
devia ouvir em toda Angola, mas que só se ouve no Huambo e que agora também é
controlada.
DW África: Já passaram três meses desde que o atual governo assumiu
funções. A oposição e a sociedade civil estão no silêncio. Na sua opinião, isso
significa que estão contentes com a governação?
MM: O silêncio é sufocado, mas em todo o lado, nos
transportes públicos, nas nossas casas, em todo o lado há lamentações. Em
relação à repressão dos jovens que se querem manifestar, há lamentações, em
relação à falta de água e luz também. Infelizmente, na Europa as pessoas
proclamam que este regime é democrático.
Eu, por exemplo, estou muito triste com o meu amigo presidente da Comissão
Europeia [José Manuel Durão Barroso], que vem aqui algumas vezes dar alentos a
este regime, mas na verdade este não é um regime democrático. Antes das
eleições, o doutor Durão Barroso disse que havia todas as condições para haver
eleições livres e justas quando já se via, naquela altura, que nunca haveria
eleições livres e justas.
Em relação, por exemplo, às últimas notícias da filha do Presidente [Isabel
dos Santos], que continua a comprar coisas em Portugal, não são coisinhas, são
bancos, são telefónicas, são meios de comunicação, sem se explicar de onde é que
uma jovem como ela está a tirar o dinheiro. O doutor Durão Barroso parece que
anda muito satisfeito com essas compras, disse que é o empresariado angolano que
está a comprar, quando não há empresariado angolano nenhum. É a família do
Presidente que está a comprar com o dinheiro de proveniência não explicada.
Escute a entrevista em:
http://www.dw.de/marcolino-moco-não-prevê-mudanças-em-angola-em-2013/a-16493112
http://www.dw.de/marcolino-moco-não-prevê-mudanças-em-angola-em-2013/a-16493112
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