"Filho, vai para a escola aprender a vencer sem ter razão", disse a mãe de um famoso escritor africano no tempo colonial. O conselho continua atual.
segunda-feira, 16 de dezembro de 2013
Os pré-candidatos da FRELIMO ou de um ideal falacioso?
A escolha de José Pacheco, de Sofala, Filipe Nyusse, de Cabo Delgado, e Alberto Vaquina, de Nampula, como pré-candidatos da FRELIMO ao cargo de líder do partido e também da presidência da República de Moçambique mostram-me algumas coisas:
Recuperar o eleitorado das autárquicas
Entre elas, na minha opinião, os candidatos da "unidade nacional" são a cartada final de Armando Guebuza para recuperar um eleitorado que insatisfeito com o seu partido e a sua governação optou pelo o que se pode considerar em certa medida como o "voto do castigo". Se alguns alguns escolheram o MDM por acreditarem nele, outros votaram no partido para demonstrar revolta e saturação em relação a FRELIMO. É preciso ter isso em conta e, ao que tudo indica, o "voto do castigo" tem a resposta em forma de bálsamo: a inclusão geográfica ou étnica ao nível mais alto de decisão. Isso mostra também que Armando Guebuza, ou o seu partido, conhece as fraquezas do eleitorado e pode estar a jogar com elas, ou se preferirmos pensar de forma menos "perversa" leva mesmo a sério a governação inclusiva ao escolher o candidato da "unidade nacional".
Unidade nacional, uma falácia?
Estas hipóteses levam-me a interrogar até que ponto foi e é exequível o conceito de unidade nacional considerando o contexto moçambicano. Onde e até que momento isso deu certo? Para quem isso nunca representou nada? Ou até, será que todos conhecem o conceito? Se existe voto étnico, então a unidade nacional, tão propalada após a independência, não foi exactamente "um caso de sucesso". A "inclusão geográfica" na escolha dos pré-candidatos evidenciam uma tentativa de acalmar os que se consideram marginalizados. Estará Guebuza, nesse sentido, a dar continuidade a um ideal de Samora Machel? Ou será mesmo uma manipulação da fraqueza popular? Um professor meu disse-me: "É preciso aceitar a unidade nacional na diversidade."
O Delfim a controlo remoto
Claro que não é de se excluir a hipótese destas escolhas virem a representar a continuidade indirecta de Guebuza na presidência da República. Pelo menos o visto como favorito a candidato, José Pacheco, parece ter a mesma escola que a de Armando Guebuza, é frio e de pouco contacto. Também é este que tem a confiança do Presidente na gestão da crise mais feia dos últimos anos com a RENAMO. A consumar-se esta suspeita continua a ficar difícil a vida para os insatisfeitos dentro da FRELIMO, tais como os ex-governantes da era em que Joaquim Chissano era Presidente, e outros mais antigos.
"Deselitisar" a FRELIMO
Desde que o país ficou independente em 1975 foi governando na sua maioria pelos considerados históricos da FRELIMO, que incluem principalmente os nacionalistas, intelectuais e também alguns antigos combatentes. A subida de Armando Guebuza para a presidência em 2004 representou um corte radical com esta prática. Ele foi buscar "anónimos" ou os menos visíveis da formação. Acho que foi o primeiro sinal de "mudança" na FRELIMO, ao dar oportunidades a outros membros. Claro que há a questão da competência como requisito para governar, aliás um requisito fundamental, mas não pretendo aprofundar-me nele. Entretanto o que se viu em abundância no primeiro Governo de Guebuza foram as trocas das suas peças de xadrez governativo.
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