No Brasil a escolha de dois apresentadores brancos para o mundial de futebol de 2014, em detrimento de outros negros no sorteio, causam polémica. O Ministério Público já abriu um processo para verificar se houve realmente crime de racismo. Entretanto, a FIFA, que fez as escolhas, nega que a selecção de Fernanda Lima e Rodrigo Hilbert tenha sido feita com base em critérios rácicos. Entretanto, este organismo tem pautado por slogns de combate ao racismo nas últimas competições futebolísticas. Para Aldo Fonaziri, cientista político da Fundação e Escola de Sociologia e Política de São Paulo no Brasil, a polémica coloca em xeque o lema da FIFA. Entrevistei-o paraa DW:
Nádia Issufo (NI): Para si, esta escolha foi baseada em questões rácicas ou de competência profissional?
Aldo Fonaziri (AF): Entendo que os outros candidatos tem competência profissional. Acho que num país que tem maioria de afro-descendentes como é o Brasil, seria conveniente que tivesse uma pessoas negra na apresentação. Seria uma medida de bom senso perante ao mundo colocar uma pessoa negra e outra branca, porque o Brasil multiétnico e essa característica não se explicita principalmente em eventos oficiais. Então, pode ter havido racismo de facto, mas a questão precisa de ser melhor esclarecida. Independentemente disso, há o mito da democracia racial que não é verdadeira, e esse mito vem sendo construído desde o início do séc. XX. Mas se olharmos para os indicadores sociais do Brasil percebemos que há um vazio.
NI: Como o ser disse, o Brasil é um país racista, é considerado um dos países mais racistas do mundo. Este caso dos apresentadores pode ser um pretexto para que se traga ao de cima o assunto e ajudar a por fim ao racismo?
AF: Não acho que seja um pretexto, na verdade houve um erro, foram colocadas duas pessoas brancas, loiras quase do tipo germânicas. Então, o racismo existe mesmo, se olharmos para o que acontece com os jovens da periferia vemos que são os negros que morrem por ataques da polícia, há uma discriminação no emprego. há uma discriminação de género para com as mulheres negras, enfim, a sociedade brasileira é impregnada de racismo.
NI: Um dos slogans da FIFA das últimas competições é exactamente o combate ao racismo. Esta escolha dos apresentadores bate com o slogan?
AF: Acho que ela coloca em xeque essa política da FIFA, porque se a FIFA e os organizadores do evento do sorteio da copa do mundo tivessem tido o mínimo de cuidado, eles teriam escolhido duas pessoas diferentes. Então, no mínimo dá para dizer que houve um enorme descuido, que do meu ponto de vista, subjacente e explicito ao racismo.
NI: Noutros aspectos do mundial de futebol foi tomada em conta a inclusão dos negros?
AF: Nos convidados aparentemente sim, agora em outros aspectos, por exemplo, há agora toda uma crítica muito forte sobre o legado que a copa do mundo vai deixar. E nesse sentido, acho que quando ao legado não houve um cuidado para que essa questão da discriminação que as pessoas negras e pobres e afro descendentes sofrem no Brasil, esses cuidados não foram tomados. Aparentemente não há um legado explicito em torno dessa questão do racismo. Era uma oportunidade histórica para que se tomasse essa iniciativa dada a grande visibilidade pública que a copa tem, e então vemos uma omissão das autoridades.
Escute a entrevista em: http://www.dw.de/6-de-dezembro-de-2013-manhã/a-17274969
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