quarta-feira, 18 de dezembro de 2013

Forbes e ZAP, a parceria do contraditório

Depois de ter considerado Isabel dos Santos como a mulher mais rica de África em 2012, agora a Forbes associa-se a uma das suas empresas, a ZAP, para editar a sua revista em Português para África em 2014. Mas antes disso a prestigiada revista de negócios norte-americana publicou um artigo em conjunto com o ativista angolano dos direitos humanos Rafael Marques sobre a origem duvidosa da sua fortuna. Entrevistei para a DW África o activista angolano sobre a parceria comercial:



Nádia Issufo (NI): Como vê esta espécie de contradição entre a eleição pela Forbes de Isabel do Santos como uma das pessoas mais ricas de África em 2012 e em 2013 exactamente uma das suas empresas fazer uma parceira para a publicação da revista em Português para África?

Rafael Marques (RM): Primeiro é preciso analisar se a publicação da revista pela empresa dela obedece a critérios comerciais racionais, ou tem um aspecto meramente político. Porque se for do ponto de vista comercial vemos que não se justifica pela pluralidade que existem, quer em Angola, quer em Portugal, e que carecem de intervenções financeiras.

NI: Acha que depois desta parceria a imagem da Forbes perde credibilidade?

RM: A Forbes só perceberá, eventualmente, se não estiver apenas interessada no dinheiro, que o seu nome só será usado para propaganda e branqueamento da imagem de uma série de indivíduos corruptos no espaço lusófono, porque a Isabel dos Santos passará a ter o controlo editorial da maior parte dos conteúdos da Forbes para África...

NI: Se grande parte da media privada angolana já foi comprada por gente próxima ao poder, e agora esta parceria, pode-se afirmar que a media angolana está é manipulada?

RM: É também para facilitar, por exemplo, a Isabel dos Santos tem também negócios em Moçambique no sector das telecomunicações, a ZAP está representada em Moçambique, então facilitar que através das sua revista a família Guebuza tenha também espaço para passar os seus negócios como legítimos. E outros corruptos, quer no espaço lusófono, quer em África. Porque é apenas usar o nome da revista, que tem prestigio internacional, para lavar a imagem destas figuras, e quando não tiver serventia certamente que esta parceria será abandonada, porque não é uma revista que terá viabilidade comercial.

NI: Podemos afirmar que uma empresa como a Forbes pactua com a corrupção?

RM: Mas é claro! O dinheiro de Angola não tem cor, é bom para todos. E nesse caso a Forbes, a está a compactuar sem dúvida absolutamente nenhuma, está a fazer parte do esquema de corrupção em Angola.

NI: Então não há gente limpa, como alguns países ocidentais que criticam Angola mas tem as suas empresas a compactuarem...

RM: Mas a crítica maior a corrupção tem sido feita pelos angolanos que são os mais afectados, e nisso tem havido denuncias constantes da participação de estrangeiros no saque, porque não é possível biliões e biliões de dólares serem desviados de Angola todos os anos sem o apoio dos bancos, advogados e Governos estrangeiros.

Leia e escute mais sobre o assunto em: http://www.dw.de/isabel-dos-santos-lança-edição-da-forbes-para-palop/a-17300787

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