Na última sexta-feira (27.04.) eram aguardados em Moçambique os resultados das negociações entre a empresa Vale e os desalojados de Cateme, no âmbito da exploração de carvão mineral. Se por um lado havia sinais de um bom desfecho, de acordo com um comunicado distribuído pela mineradora brasileira, por outro no terreno os sinais eram de intimidação contra os desalojados, segundo a ADECRU. Entrevistei para a DW um dos seus colaboradores, Jeremias Vunjanhe, sobre o assunto:
Nádia Issufo: Como vão as negociações entre os reassentados de Cateme e a Vale?
Jeremias Vunjanhe: Nós seguimos o caso com muita preocupação e indignação, sobretudo pela forma como o processo, ou negociação, tem sido realizado. Pelas informações que temos, o tal processo foi antecedido de uma conferência de imprensa da direcção da Vale no Brasil que indicava que esta empresa não pretendia negociar e nem cederia em nada porque não devia nada s pessoas. Logo a partida ficou claro que as Vale não tinha intenção de estabelecer nenhum diálogo. Porém, um dia depois a Vale voltas atrás e anuncia que pretende negociar, mas em vez de ouvir as propostas dos reassentados a Vale limitou-se a culpar as famílias, e mostrar os prejuízos pela paralisação e com ainda uma grande pressão psicológica por ter trazido um dos seus chefes de segurança e de inteligência empresarial, mas também esteve presente um comandante da polícia. E na nossa opinião isso deve ser denunciado porque desvirtua o sentido d euma verdadeira negociação.
NI: Esta-se perante uma intimidação?
JV: Exactamente. É isso que está a acontecer. O tal processo de negociação não passa de um processo de identificação de pessoas que supostamente estariam a frente das reivindicações. Isso para de futuro os perseguirem. Há uma intimidação protagonizada pela Vale, por um lado, e por outro uma intimidação feita ao nível do Governo provincial ao enviar polícias para um espaço de negociações. E com isso as famílias se sentem intimidadas e desencorajadas a avançar com as propostas de soluções. Inclusive agora que vos falo recebi uma informação a dizer que num dos bairros onde vivem os descontentes há presença massiva da polícia que força as pessoas a aceitarem o processo de reparação das casas, que entretanto as famílias não querem, pelo menos nos moldes propostos pela Vale e Governo moçambicano.
NI: Como disse, a Vale voltou atrás e prometeu criar projectos de auto-sustento para os reassentados que perderam as suas fontes de renda. Como vê a decisão?
JV: Com muito cepticismos e mais uma vez não acredito que a Vale tenha recuado.Acredito sim que a Vale está a usar este pronunciamento como uma estratégia de recuperação da sua imagem a nível internacional. Também considero que este pronunciamento não passa de uma estratégia de fuga para frente e para trás visando ter um controle massivo do Governo de Moçambique. E é por isso que dois dias depois deste anúncio o governador de Tete ontem (26.04.) teve uma reunião de emergência com as famílias. Segundo os que lá estiveram o governador ameaçou-os, disse que a Vale não tinha nada a pagar e que as pessoas deviam aceitar forçosamente o processo de reparação que neste momento está a acontecer.
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