A presença simultânea de interesses chineses e taiwaneses em São Tomé e Príncipe levanta algumas questões sobre as relações de São Tomé e Príncipe com os dois países asiáticos que não mantém boas relações entre si. Entretanto, o analista Gerhard Seibert, analista do Centro de Estudos Africanos do ISCTE, Instituto Universitário de Lisboa, diz que não há motivos para alarme a curto prazo, mas deixa tudo em aberto. Eu entrevistei para a Deutsche Welle o analista.
Nádia Issufo: A presença indirecta da China nos negócios são-tomenses pode causar algum tipo de danos na relação de São Tomé com Taiwan, país até aqui um dos principais financiadores do país?
Gerhard Seibert: Não acredito, por duas razões. Primeiro, este
envolvimento de empresas chinesas, neste momento, é muito reduzido, porque
falamos concretamente da zona conjunta de desenvolvimento de São Tomé e Príncipe
e Nigéria, onde estava a empresa petrolífera chinesa Sinopec e a sua subsidiária
Addax. Mas, no ano passado, depois da divulgação de resultados inconclusivos
sobre a presença de petróleo comercialmente viável nos blocos 2, 3 e 4, estas
duas empresas retiraram-se da zona conjunta. Neste momento, só a Addax está no
bloco 1 da zona. A presença é bastante reduzida, não só em São Tomé, trata-se de
uma zona internacional, uma zona bi-nacional. A segunda razão é que, até agora,
não há nenhum sinal da parte de Taiwan de estar preocupado com este envolvimento
de uma empresa chinesa na zona conjunta com a Nigéria
Nádia Issufo: E há sinais de uma substituição de Taiwan pela China nas
relações comerciais com São Tomé e Príncipe?
GS:
A longo prazo nunca se sabe, porque pode haver desenvolvimentos também,
por exemplo, entre a China Popular e Taiwan, que podem levar a que isso
aconteça. Mas, neste momento, eu não acredito. Há sempre especulação, aliás,
desde que São Tomé estabeleceu relações diplomáticas com Taiwan, em 1997. E,
consequência disso, a China Popular cortou as relações com São Tomé e Príncipe.
Houve sempre especulação sobre se São Tomé voltaria a estabelecer as relações
com a China, ou seja, cortar com Taiwan. Mas isso nunca aconteceu e eu não
acredito que vá acontecer a curto prazo. Desde que Taiwan apareceu em São Tomé
que foi sempre um dos principais financiadores de projetos e do orçamento do
estado e também existem alguns projetos com bons resultados da parte de Taiwan
em São Tomé e Príncipe, sobretudo o projeto de combate à Malária.
NI: O fato de países próximos de São Tomé e Príncipe, como Angola
e a Nigéria, por exemplo, terem relações preferenciais com a China, pode
conduzir São Tomé e Príncipe a uma aproximação a
Pequim?
GS: Essa é uma boa pergunta. Eu diria
que nunca se sabe. Isso pode ser um argumento: se existem, por exemplo, certas
pressões dos estados membros dos PALOP e da CPLP, para, de um momento para o
outro, mudar esta política. De fato, neste conjunto de países, São Tomé é o
único que mantém relações de cooperação e diplomáticas com Taiwan. Mas eu diria
que, a curto prazo, não vai haver alterações.
NI: Entretanto STP tem uma dívida antiga para com a China de 17 milhões de dólares. Poderá ser esse um elemento de pressão para a retomada de relações?
GS: Não, essa dívida existe desde o período pós-colonial e bastante reduzida, sobretudo na perspectiva da própria China, portanto é um monatnte ridiculo. Mesmo para STP, no contexto da dívida externa, não é tanto dinheiro e que eu saiba esse montante nunca criou problemas.
NI: Há quase
dois anos que Manuel Pinto da Costa não se encontra com o governo de Taiwan
coisa que o seu antecessor, Fradique de Menezes, fazia com frequência. Pode-se
dizer que as relações com a China ou Taiwan oscilam consoante o partido no poder
em São Tomé e Príncipe?
GS: Não, pelo
contrário. Houve especulação quando o MSTP chegou ao poder, em 2008, depois da
primeira moção de censura, na altura em que Rafael Branco se tornou
primeiro-ministro. Ele é de um partido independente de São Tomé que desde sempre
manteve e mantém relações políticas com o partido comunista chinês. Mas, mesmo
assim, quando Rafael Branco se tornou primeiro-ministro afirmou logo que o seu
governo não era o partido. Portanto, esta diferença é real.
Escute também a entrevista em: http://www.dw.de/apoio-de-taiwan-a-são-tomé-não-prejudica-relações-com-a-china-diz-especialista/a-16717084
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