Nádia Issufo: Onde aprendeu a fazer cerâmica e
escultura?
RS: Aprendi
com a minha mãe quando tinha sete anos. Roubava barro, esculpia e ia queimar
os objectos sozinha. Quando mostrava a minha mãe ela ficava admirada e me
perguntava como tinha conseguido fazer tudo aquilo sozinha.
NI: Como o
seu trabalho evoluiu desde esse tempo até hoje?
RS: Eu
fazia potes muito grandes, e até chorava porque não conseguia carrega-los.
NI: Já reparei
que a Reinata gosta de se vestir como um homem nalguns momentos. Isso tem alguma
relação com a sua separação?
RS: É só
uma brincadeira, gosto de brincar. Mas também gosto de cultivar, cortar lenha
no mato. Também construi a minha casa sem a ajuda de nenhum homem, é a minha
maneira de ser.
NI: Tem
ainda algum sonho na sua arte?
RS: Quando sonhava de manhã concretizava os meus sonhos no barro. Mas agora já não
sonho, as ideias surgem e eu concretiza-as. Mas ainda não tenhosonho do que vai fazer com a minha arte.
NI: O que
temas gosta mais de representar?
RS: gosto
mais de representar a mulher, não gosto de representar homens porque eles não
gostam de mim porque sou velha. As mulheres preocupam-se comigo, dão-me
carinho.
NI: Onde a
Reinata trabalha?
RS: Trabalho
mais no Museu da História natural, depois vou queimar o barro e vendo ai
mesmo as obras. Também exponho nos diversos centros e galerias do país.
NI: Porque
representa a cobra com frequência?
RS: A cobra Makonde é um personagem de uma lenda, um homem Makonde casou-se com duas
mulheres. Mas ele gostava mais de uma do que da outra então a menos amada procurou o curandeiro
que lhe mandou colocar um remédio na água do banho, e depois do banho ele passaria a gostar mais
dela. Mas depois do banho metade do corpo do homem transformou-se numa cobra. Esta é uma história verdadeira. As pessoas gostam muito dessas
representações baseadas em historias.
NI: Para
além de ser ceramista é também escultura. De que gosta mais?
RS: Gosto mais de barro. Aprendi a trabalhar a
madeira sozinha, mas as pessoas gostam mais do barro, por isso deixei a
escultura.
NI: Que
artista moçambicano aprecia?
RS:
Malangatana, para além que de éramos amigos.
NI: Qual é
o momento em que gosta mais de trabalhar?
RS: A qualquer
hora, mas ao meio da noite quando me vem uma ideia levanto-me para
trabalhar e faço 3, 4 ou mais obras.
NI: Vende
bem as suas obras?
RS: Sim,
mas nos últimos tempos ando um pouco parada.
NI: Quem
compra mais, moçambicanos ou estrangeiros?
RS:
Estrangeiros compram mais. Os nacionais antigamente compravam mais, mas agora
não.
NI: A
Reinata viveu na Tanzânia. Como foi esse período em termos artísticos?
RS: Fui
viver na Tanzânia porque a minha irmã vivia lá. Eu fazia os meus trabalhos
quando conheci um senhor suíço chamado Max e trabalhei com ele.
NI: Sei que
a Reinata está ligada aos ritos de iniciação lá onde vive. Pode nos falar mais
sobre isso?
RS: Não
posso contar o segredo...( risos)
NI: As
pessoas em Cabo Delgado não se interessam pela tradição?
RS:
Interessam-se sim, os seus filhos quando nascem fazem os ritos de iniciação. Em 2007 uma
brasileira fez os ritos de iniciação comigo.
E voltou bonita, mas ela não pode contar nada sobre a cerimónia.
Escute sobre Reinata Sadimba em: http://www.dw.de/as-m%C3%A3os-seletivas-de-reinata-sadimba/a-16130663
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