segunda-feira, 22 de abril de 2013

Reinata Sadimba: mulher de mão cheia e com as calças no lugar



Reinata Sadimba é a ceramista mais prestigiada de Moçambique. As suas vivências, a sua cultura e o seu dom misturam-se nos seus trabalhos, resultando em obras singulares que atraem a atenção de qualquer um. Reinata Sadimba é uma mulher muito particular. Brilha numa profissão dominada por homens, assume também a função de homem nas lides domésticas e até em momentos de lazer. O seu forte carácter é facilmente perceptível na objetividade dos seus discursos, na tomada de pequenas decisões e principalmente nas suas obras. Entrevistei para a DW África a artista de mão cheia:



Nádia Issufo: Onde aprendeu a fazer cerâmica e escultura?
 RS: Aprendi com a minha mãe quando tinha sete anos. Roubava barro, esculpia e ia queimar os objectos sozinha. Quando mostrava a minha mãe ela ficava admirada e me perguntava como tinha conseguido fazer tudo aquilo sozinha.

NI: Como o seu trabalho evoluiu desde esse tempo até hoje?
RS: Eu fazia potes muito grandes, e até chorava porque não conseguia carrega-los.


NI: Já reparei que a Reinata gosta de se vestir como um homem nalguns momentos. Isso tem alguma relação com a sua separação?

RS: É só uma brincadeira, gosto de brincar. Mas também gosto de cultivar, cortar lenha no mato. Também construi a minha casa sem a ajuda de nenhum homem, é a minha maneira de ser.

NI: Tem ainda algum sonho na sua arte?
RS: Quando sonhava de manhã concretizava os meus sonhos no barro. Mas agora já não sonho, as ideias surgem e eu concretiza-as. Mas ainda não tenhosonho do que vai fazer com a minha arte. 

NI: O que temas gosta mais de representar?
RS: gosto mais de representar a mulher, não gosto de representar homens porque eles não gostam de mim porque sou velha. As mulheres preocupam-se comigo, dão-me carinho.

NI: Onde a Reinata trabalha?
RS: Trabalho mais no Museu da História natural, depois vou queimar o barro e vendo ai mesmo as obras. Também exponho nos diversos centros e galerias do país. 

NI: Porque representa a cobra com frequência?
RS: A cobra Makonde é um personagem de uma lenda, um homem Makonde casou-se com duas mulheres. Mas ele gostava mais de uma do que da outra  então a menos amada procurou o curandeiro que lhe mandou colocar um remédio na água do banho, e depois do banho ele passaria a gostar mais dela. Mas depois do banho metade do corpo do homem transformou-se numa cobra. Esta é uma história verdadeira. As pessoas gostam muito dessas representações baseadas em historias. 



NI: Para além de ser ceramista é também escultura. De que gosta mais?
RS:  Gosto mais de barro. Aprendi a trabalhar a madeira sozinha, mas as pessoas gostam mais do barro, por isso deixei a escultura.

NI: Que artista moçambicano aprecia?
RS: Malangatana, para além que de éramos amigos.

NI: Qual é o momento em que gosta mais de trabalhar?
RS: A qualquer hora, mas ao meio da noite quando me vem uma ideia levanto-me para trabalhar e faço 3, 4 ou mais obras.

NI: Vende bem as suas obras?
RS: Sim, mas nos últimos tempos ando um pouco parada.

NI: Quem compra mais, moçambicanos ou estrangeiros?
RS: Estrangeiros compram mais. Os nacionais antigamente compravam mais, mas agora não.

NI: A Reinata viveu na Tanzânia. Como foi esse período em termos artísticos?
RS: Fui viver na Tanzânia porque a minha irmã vivia lá. Eu fazia os meus trabalhos quando conheci um senhor suíço chamado Max e trabalhei com ele.

NI: Sei que a Reinata está ligada aos ritos de iniciação lá onde vive. Pode nos falar mais sobre isso?
RS: Não posso contar o segredo...( risos)

NI: As pessoas em Cabo Delgado não se interessam pela tradição?
RS: Interessam-se sim, os seus filhos quando nascem fazem os ritos de iniciação. Em 2007 uma brasileira fez os ritos de iniciação comigo.  E voltou bonita, mas ela não pode contar nada sobre a  cerimónia.




Escute sobre Reinata Sadimba em:  http://www.dw.de/as-m%C3%A3os-seletivas-de-reinata-sadimba/a-16130663

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