segunda-feira, 24 de setembro de 2012

Haverá ou não dois poderes dentro da Frelimo?




Armando Guebuza deverá continuar a dirigir a FRELIMO, o partido no poder em Moçambique, apesar de não ter o total apoio da formação. Espera-se apenas pela confirmação que sairá da X Conferência da Frelimo, a ter lugar no próximo dia 22. O ponto da questão é que não podendo se recandidatar como presidente do país, pois vai já no segundo mandato, não pode também comandar o partido no poder, segundo o histórico da FRELIMO. Entretanto, as razões para a sua continuidade são associadas também ao seu interesse em tirar proveito dos recursos naturais descobertos no país. Conversei com Alfiado Zunguzea, analista político do Centro de Estudos de Resolução de Conflitos "Justa Paz": 
 


Nádia Issufo: Quais são as expectativas para o X Congresso da Frelimo?
Alfiado Zunguza: Uma delas é saber quem será o próximo candidato do partido nas próximas eleições presidenciais. A outra é o posicionamento do partido em relação as linhas estratégicas que poderão guiar o desenvolvimento do país, especialmente na redistribuição da riqueza nacional, tendo em conta as potencialidades que o país agora vem evidenciando na área dos recursos naturais, especialmente na área dos gás e do petróleo. No geral não haverá grandes mudanças do ponto de vista ideológico e das grandes orientações políticas do partido.

NI: Na últimas sessão do comité central da Frelimo foi visível a tensão, com algumas figuras da velha ala a não concordarem com a recandidatura de Armando Guebuza a presidência do partido. Podemos considerar este momento como uma verdadeira evidência de cisões no seio do partido?
AZ: Creio que sim, uns queriam que ele se recandidatasse pela terceira vez a presidência da República, e isso significaria alterar a Constituição e acredito que ninguém estava disposto a viver situações semelhantes as dos países vizinhos, como a Zâmbia e o Malawi. Aliado a isso é preciso entendermos que a própria eleição de Guebuza criou um pouco de alienação interna por parte daqueles que se diziam da ala de Chissano, e um terceiro mandato significaria isso e eles não estão a vontade com isso. Com todas as consequências económicas e políticas ao nível interno e externo que isso iria representar. A outra linha da discórdia é a recandidatura de Guebuza a presidência do partido. Recuemos um pouco na história, quando ele foi eleito, Chissano era presidente do partido, e houve uma necessidade de Armando Guebuza assumir a presidência do partido porque se dizia que seria complicado haver dois poderes dentro do partidos, um presidente da República e o presidente do partido que traça as linhas estratégicas da governação do país. Este é o debate do momento. Mesmo a eleição de Guebuza deverá sofrer contestação, mas depois poderá acontecer o mesmo que aconteceu com Chissano, ou seja, ele deverá ser convidado a renunciar ao cargo para evitar clivagens internas.

NI: Apesar de tudo Guebuza reuniu apoios. Como se explica isso?
AZ: Há o politicamnte correcto e há as atitudes. Naturalmente que todos os membros do comité central não podem negar o apoio a ele. É arriscado fazer isso, há uma certa disciplina partidária. Se o próprio secretário-geral é o primeiro a dar o apoio, então os outros devem segui-lo. Se algum membro se mostra contrário as posições internas as suas chances de ascender dentro do partido também se tornam diminutas.

NI: Pode ainda acontecer uma reviravolta no seio da Frelimo neste X Congresso?
AZ: Creio que não. As coisas deverão andar como o previsto, do ponto de vista da re-eleição de Guebuza como presidente do partido. A mudança só poderá acontecer depois da eleição do presidente da República.

NI: O que se pode esperar da Frelimo nos próximos tempos face as divergências internas que vem ao público agora com mais frequência?
AZ: Para a Frelimo se tornar coesa terá de se abrir mais ao diálogo interno, e não pautar apenas pela disciplina partidária, onde quando o chefe decide todo o resto tem de cumprir. É a própria sobrevivência do partido que estará em risco se houver cisões. Como agora por exemplo, grandes figuras do partido já se manifestam contra, o que não acontecia antes.  Isso mostra que a filosofia interna tem de mudar. Caso contrário teremos uma situação idêntica a da África do Sul.

NI: A recandidatura de Guebuza acontece numa altura em que são descobertas quantidades inestimaveis de recursos naturais. Sabe-se que o presidente domina o mundo dos negócios no país. Será que ele pretende tirar partido disso através da sua posição?
AZ: É uma linha de interpretação dos factos, uma vez que ele tem também investimentos na área de recursos naturais. Pode ser interpretado do ponto de vista pessoal assim. Mas também poder visto, do ponto de vista estratégico, de envolvimento, não só do partido, mas de como o processo de exploração não seja alterado para o beneficio de próprio partido, de empresas em que o partido tem participações. E também para que do ponto de vista de estratégia nacional não haja uma alteração se houver uma outra chefia do governo. Muitos dos acordos poderiam ser re-equacionados, mas penso que o tempo nos ajudará a clarificar esta situação. 

 

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