O facto da Guiné-Bissau não ter discursado na 67ª Assembleia das Nações Unidas representa uma humilhação para o país e seu povo, considera o analista político guineense Fafali Kouodawo. Mas o analista reconhece a importância do diálogo lançado durante a Assembleia entre o presidente deposto, Raimundo Pereira, e o presidente de transição, Serifo Nhamadjo. Isso representa, a seu ver, uma base para negociações para o fim da crise política da Guiné-Bissau, onde principalmente os guineenses tem a responsabilidade de resolver os seus problemas. Numa entrevista a DW, conduzida por mim, Fafali Kouodawo começou por comentar a iniciativa de diálogo entre as partes:
Fafali Kouodawo: É uma iniciativa bem vinda, embora venha um pouco tarde. A solução na Guiné-Bissau passa por um directo diálogo entras as partes envolvidas.
Nádia Issufo: Pode se interpretar esse diálogo como a base para o lançamento de negociações directas?
FK: Com certeza, o diálogo é que poderia abrir o caminho para negociações que desemboquem numa solução viável. E neste momento em que as posições estão muito rígidas é necessário que haja um diálogo directo entre as partes. O país em causa é a Guiné-Bissau e as pessoas em causa são os guineenses, então é melhor que eles dialoguem a acertem as posições e de seguida que informem aos seus apoiantes para limarem as dificuldades. Penso que isso é melhor do que ter sempre intermediários que tem as suas próprias estratégias e interesses a defender, e pode ser que esses interesses não sejam convergentes com os interesses guineenses.
NI: O braço de ferro entre a CEDEAO e a CPLP em que medida dificultam o alcance de uma solução para a Guiné-Bissau?
FK: Não há razão de ser este braço de ferro. Há uma tradição internacional segundo a qual uma organização regional tem a pro-eminência na resolução de um conflito. No caso vertente a CEDEAO, a Comunidade Económica dos Estados da África do Ocidental, é que está mais próxima do foco do conflito. A Guiné-Bissau é membro da CEDEAO, e esta organização recebeu o mandato da ONU de procurar soluções.
NI: Tanto Serifo Nhamadjo como Raimundo Pereira não discursaram na 67ª Assembleia-geral da ONU na semana passada embora tenham estado lá. Que leitura se pode fazer da posição da ONU?
FK: Normalmente as Nações Unidas não são parte de um conflito. A ONU deveria estar no meios das partes, mas a ONU tornou-se o palco em que as partes mostraram a luz do dia todas as dificuldades que o país tem neste momento para se reencontrar. É um acontecimento sem precedente na história da Guiné-Bissau independente, é um acontecimento que marca profundamente os guineenses, porque o país começou a falar na tribuna da ONU antes da independência, colocando Portugal numa dificuldade enorme no plano internacional. Hoje a Guiné-Bissau é que está numa posição difícil e humilhante nesse mesmo plano. Por isso teria sido melhor se tivesses concertado antes para que o palco em que a Guiné-Bissau obteve a sua maior glória não se torne o palco em que vai obter a sua maior vergonha.
Sem comentários:
Enviar um comentário