Em Angola o artigo 33 da lei dos partidos políticos prevê a eliminação de um partido, por decisão do Tribunal Constitucional, se este não atingir os 0,5% do total de votos expressos nas eleições legislativas. O mesmo artigo prevê também a mesma sanção a partidos que não participem por duas vezes consecutivas, isoladamente ou em coligação em qualquer eleição legislativa ou autárquica, com programa eleitoral e candidatos próprios. Assim estão ameaçados vários partidos, até a Nova Democracia que na legislatura passada esteve no Parlamento. Outro que nem sequer conseguiu participar nos últimos dois pleitos foi o PP. Entrevistei para a DW o seu secretário-geral, David Mendes, que começa por criticar a lei:
David Mendes: Essa é uma medida administrativa que pretende
afastar algumas figuras do processo democrático que o país está a viver. Um
partido não pode ser afastado, sob o ponto de vista administrativo, só porque não
conseguiu concorrer em eleições. Se o argumento usado fosse a falta de
atividade do partido, de facto, talvez
ai se justificaria. Mas o Partido Popular (PP) tem referência nacional e não só,
ele existe realmente que demonstra a nossa existência política.
DW África: Então a lei em causa pode aniquilar
a oposição?
Davida Mendes (DM): Visa esse objetivo. Veja o exemplo da Nova
Democracia, como aceitar que um partido que esteve quatro anos no Parlamento,
porque não atingiu 0,5% dos votos nestas eleições, é automaticamente extinta. Isto
não tem uma explicação lógica. Qual é a razão que leva a extinção de um partido
por não ter atingido os 0,5%? São medidas que visam impedir um verdadeiro
movimento político em Angola.
DW África: A lei implica aos partidos políticos
mais pequenos algum esforço adicional para a sua sobrevivência. O que o PP
pretende fazer?
DM: Vamos criar todas as condições para re-fundar
o partido. A lei exige 7500 assinaturas, nós temos mais do que este número em
todo o país, e em menos de uma semana podemos reunir todos elementos constitutivos
para que o partido volte a ser aceite
pelo Tribunal Constitucional. Para nós este não é um verdadeiro inconveniente.
DW África: Fora a época eleitoral, quais são as
atividades do seu partido?
DM: Somos dos poucos partidos virados para a luta
contra a corrupção. A nossa atividade está direcionada para os casos de corrupção
e desvio de fundos e trazer esses casos a conhecimento público. Fazemos isso a
nível nacional, desde os governos provinciais, as administrações, e, como é
obvio, a presidência da República. Temos dado apoio as outras organizações da
sociedade civil, particularmente no exercício do direito a manifestação. Temos
estado em quase todas as manifestações, quer a nível nacional, quer a nível provincial.
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