segunda-feira, 7 de novembro de 2011

Uma viragem do Direito Internacional para a música internacional

 Foto: Ismael Miquidade

Certa manhã de Outubro de 2008 vi por acaso o músico moçambicano Moreira Chonguiça num dos hoteis de Maputo. E nesse momento o vendedor de uma discoteca, que por acaso conheci naquele dia, muito simpático, actualizava-me sobre as produções dos nossos músicos, e disse-me nesse instante: "O Moreira lançou o último album ontem!" Fui ter com ele rapidamente e claro, cravei-lhe uma entrevista! Pedi que me fossem buscar o gravador a casa rapidamente, e lá estive eu numa descontraida conversa de mais de 20 minutos, com alguém que já se sentou ao meu lado nos bancos da escola.  Hoje depois de três anos publico aqui a conversa...

Nádia Issufo: Moreira Projecto II é o nome do teu mais recente trabalho. Como foi faze-lo?
Moreira Chonguiça: O Moreira Projecto-Citzen of the world é a continuação do Moreira Project- The Journey. Acho que cresci como músico, e em termos de colaborações e influências acho que expandi um pouco. Neste album tenho a participação de Manu Gibango, Nadji, do Simba, Jaco e outros músicos de Cape Town e de Moçambique que trabalham comigo e tive a chance de fazer a masterização em Paris, então acho que cresci como ser humano e automaticamente isso me influenciou como artista.

NI: Qual o significado da participação desses grandes nomes no teu album, olhando para trás?
MC: Não há palavras que descrevam, mas posso dizer que me sinto muito honrado e abençoado e sinto que é possível, que tenho de continuar com seriedade e o resto vai acontecer.

NI: Qual é mensagem que tu passas nos teus dois volumes?
MC: No primeiro album é que estamos a viver  momentos interessantes nos últimos dez anos, a guerra do petróleo, os fenómenos naturais, a instabilidade financeira na Europa e Estados Unidos, que afectam os africanos, as diferenças sociais, as instabilidades políticas e religiosas. E eu antes de ser músico sou um ser humano e sou influenciado por essas coisas. E é em momentos de tensão que os seres humanos tem de se juntar e se proteger, por isso chamo o album de "Cidadão do Mundo". No fim do dia somos todos cidadãos do mundo, e acredito que apesar de ser moçambicano e residir na África do Sul faço música para o mundo, e inspiro-me nesses factores todos.

NI: Sei que o teu no album foi lançado no último domigo, dia 19 de Outubro (2008). Como foi recebido?
MC: Foi uma honra tocar em Moçambique para este público maravilhoso que vem acompanhando a minha carreira, acho que tu também, desde que estava na escola, e hoje já estamos na casa dos trinta, e há pessoas que se sentem orgulhosas pelo que faço, por levantar a bandeira de Moçambique além fronteiras. É difícil tocar em casa, conheço 90% da plateia, e ela não se queria ir embora. Eu adoro esta interactividade com o público moçambicano.


 Foto: Ismael Miquidade

NI: O teu nome cresce a cada dia. Fala-me da tua carreira desde o início...
MC: A grande influência na minha carreira são os meus país, em particular o meu pai e o meu tio. Eu cresci numa casa em que se ouvia boa música, graças a Deus. Mas quando tinha sete anos, por inciativa do meu tio o meu pai matriculou-me na escola de música e só estive lá  três anos. No terceiro ano pagava, mas não ia a escola, eu detestava música. Então a escola ligou para o meu pai a contar, e ele perguntou-me se não queria ir a escola de música e eu disse que não, que queria jogar futebol. Mas lembro-me que quando tinha 14 ou 15 anos fui registar-me na escola de música novamente. E a partir dai o resto é história, foi a partir dai que começamos as estudar juntos na Maxaquene e Josina Machel, mas também estava a estudar música e inglês e comecei a tocar com as maiores bandas de Moçambique, desde o Stewart, Ghorowane, Salimo, Kapa Dech, Clube Jazz de Maputo, etc. E no final do ensino secundário eu sonhava fazer o curso de Direito Internacional, mas olha para mim hoje, sou músico estudei isso na Universidade de Cidade do Cabo tenho dois diplomas, um em Jazz e outro em etnomusicologia, hoje resido lá onde tenho a minha editora, o meu primeiro disco foi bem recebido na África do Sul, fui nomeado para três Grammys para a melhor música instrumental de Jazz, para melhor Album contemporâneo de Jazz, e para melhor produtor. E ganhei o prémio de melhor produtor o ano passado, eu não posso reclamar, no final do dia eu sigo o meu coração, a minha paixão e respeito os meus ancestrais.

NI: E como tens usado o legado que os teus ancestrais te deixaram em termos de música?
MC: Priemiro é respeito ao próximo, eu digo aos mais jovens que somos seres humanos primeiro, não se fiem na fama e no estrelismo, são partes do precesso, mas temos de respeitar o próximo, e isso os nossos ancestrais ensinaram-nos, e se não perdemos isso o resto corre muito bem.

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