terça-feira, 29 de março de 2011

Muitas mãos sujas: que resultados?

Muammar Kadhafi não é exactamente um democrata; está a mais de 40 anos no poder, limita as liberdades dos seus compatriotas, supostamente acumulou muita riqueza de proveniência duvidosa, e agora com esta crise política na Líbia terá ordenado matanças contra civis, etc, etc. Tentar encontrar feitos deste homem é tarefa delicada, mas por exemplo não há relatos de pobreza no seu país, ajudou muitos países africanos, que hoje alguns deles tem os seus dirigentes no silêncio... poucos ousam criticar a actuação do presidente líbio. E em alguns países como a Guiné-Bissau a população mantém o seu apoio a Kadhafi com os mais diversos argumentos. Sobre o lado lunático deste homem só vou apontar duas coisas relevantes: o sonho de criar os Estados Unidos de África e o facto de se intitular o rei do reis no seu continente. Neste campo só o admiro por uma coisa: pela coragem de o revelar publicamente...

Ban Ki Moon legitima o desconhecido...
A agudização dos confrontos entre rebeldes e o exército governamental preocuparam a comunidade internacional. A organização mãe, a ONU, era a última possibilidade de solução, ou a que iria legitimar uma intervenção militar externa, talvez há muito desejada. O seu Conselho de Segurança demorou a parir uma resolução porque faltou o consenso, a China, Rússia, Brasil, índia e (surpreendentemente ou não...) a Alemanha se abstiveram. Portugal foi preponderante para a aprovação da resolução que o secretário geral da ONU assinou por baixo com as seguintes palavras: "façam o que for necessário." Algumas potências mundiais que tanto esperaram por esse momento trataram logo de montarem-se nos seus brinquedos e irem brincar aos polícias e ladrões, ou bandidos, em casa do "parceiro" Kadhafi. São eles a França, Grã-Bretanha e EUA. Foi no minimo surpreendente o protagonismo de Nicolas Sarkozy no caso, e os EUA aparentemente deram passos nesse sentido com alguma cautela, afinal carregam nas costas assaltos mal sucedidos ao Iraque e ao Afeganistão. Para além da oposição interna a intervenção na Líbia.

Amigo
Os que chamam Kadhafi de ditador e outras coisas são os mesmos que venderam armas para o seu regime, e que por isso também tem uma certa noção da "capacidade" do actual inimigo, como é o caso da França. E se se confirmar que realmente Nicolas Sarkozy recorreu ao dinheiro do ditador para se eleger, então...
Já a Itália parece vestir apenas uma única camisa, embora não me esqueça de que o governo de Berlusconi conseguiu com o presidente líbio um acordo para impedir a entrada de pretos na Itália, ou melhor, no velho continente... Muammar Kadhafi ai não pensou duas vezes antes de maltratar os seus irmãos africanos em nome de milhares de Euros...
E Silvio Berlusconi, coitado, quase não teve apoio dos seus pares da União Europeia, que também não querem emigrantes africanos. Desencadeia até hoje uma luta titánica... e como será agora?
Com o despoletar da crise na Líbia é quando vem ao de cima as sugeiras, ou pelo menos são amplamente divulgadas, por exemplo as grandes participações da Líbia ou do clã Kadhafi em sectores chaves da economia italiana. Em suma: são tão indecentes quanto o seu alvo e acima de tudo parceiros, só que com uma diferença, um usa disfarces e outro não. A maquiagem sempre faz a diferença...

Afinal é contra Kadhafi ou não?
Parace que a coligação internacional é a banda dos independentes, cada um toca para o seu lado. Ainda esta semana o presidente da França dizia que os ataques não pretendiam derrubar o presidente Muammar Kadhafi. Hillary Clinton disse que a intenção desta intervenção é fazer com que o regime de Kadhafi se submeta as exigências da ONU. Mas no final todos assumem que querem mesmo o derrube do presidente.

Ouro negro...
No último final de semana os rebeldes anunciaram que iriam retomar a exportação de petróleo e iriam também aumenta-la. Os opositores de Kadhafi informaram ainda que assinaram um acordo com o Qatar, delegando no Emirado a comercialização do petróleo. Sabemos que eles precisam de recursos para tentarem derrubar o presidente líbio do poder, mas que autoridade e legitimidade tem eles para isso? E claro que alguém, que defende a legitimidade, vai comprar esse petróleo...

Serviços não declarados...
Os aliados estão claramente a abrir caminhos para a oposição ocupar as cidades estratégicas através de ataques aéreos, uma ajudazinha apenas... Será este um dos pontos da resolução aprovada pela ONU contra a Líbia?
Supostamente a coligação está a contrariar o seu objectivo principal: proteger os civis.
De acordo com a LUSA, que cita uma entrevista à agência de informação de missionários católicos Fides, um bispo católico em Tripoli afirmou que "ataques aéreos alegadamente humanitários fizeram dezenas de vítimas civis em vários bairros da capital líbia." Também as autoridades líbias já tinham afirmado o mesmo na última semana. A NATO disse hoje que vai investigar esses casos e os EUA rejeitaram categoricamamente estarem a matar civis, o secretário da Defesa do país acusa o exército líbio de colocar corpos de civis nas zonas bombardeadas pelas forças da coligação internacional, mas Robert Gates garante que as forças da coligação têm sido "extremamente cuidadosas neste esforço militar". As toneladas de mortos que os EUA e os seus aliados levam nas costas principalmente no Afeganistão, fez as grandes potências pensarem com ponderação antes desta intervenção na Líbia. Sem nos esquecermos que o momento é de crise, e os gastos destas potências com ocupações e guerras são astronómicos. Internamente as contestações contra os gastos do sector da defesa são grandes...

Continuar a armar os rebeldes?
Falta consenso quanto a atribuição ou não de armas aos rebeldes líbios, a França, EUA e a Grã-Bretanha não excluem a possibilidade de munir ainda mais os opositores de Kadhafi. Já o secretário-geral da NATO, Anders Fogh Rasmussen, manifestou-se hoje contra a ideia, tal como a Noruega. Não será isto uma promoção de chacinas?

Deutschland ist schlau...
Política de cima do muro, é o que faz sempre a Alemanha. Se abstem de votar pela resolução do Conselho de Segurança da ONU, mas defende que a Líbia deve ser um país democrático e garante que quer ser amigo deste país nos planos de desenvolvimento, etc. Neste caso acho que a Alemanha se saiu muito bem, não foi por mais lenha na fogueira. Também não podemos nos esquecer que este país foi "especialista" em matanças, a seu "herança" neste campo o garante para esta vida e a próxima encarnação... É preciso limpar o nome... e não é com sangue!

(não acabei...)

4 comentários:

  1. Fiquei sem saber se eras a favor ou a contra a intervenção?
    Beijos
    Cristina

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  2. Ainda não acabei de escrever...
    E devo confessar que me custa assumir posições, afinal as duas partes são suspeitas...
    Por isso demorei muito a escrever sobre o assunto...
    bjao

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  3. Concordo. Embora seja por uma intervenção internacional sempre e em todo o lado onde são violados os direitos fundamentais, não deixa de ser um facto que estas intervenções acontecem só onde dá jeito a alguns, ou então porque a pressão dos média é tão grande que os políticos cedem desatrosamente (veja-se a Somália e a intervenção dos EUA). Mas se o mundo fosse simples, nõs não tínhamos profissão, não é ;-)?

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  4. Isso... são nestes momentos que comprovamos que a ONU é uma organização falida...
    As desgraças são os nossos alimentos...

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