sexta-feira, 3 de abril de 2009

Divisão de Bens

Sinto que te divido com a terra
Tua pele foi apropriada por ela
Mas as pintinhas ficaram comigo
Sinto que te divido com a terra
Tua pele foi apropriada por ela
Mas a secura, rachas e escamas dos teus tecidos deixaste comigo
Sinto que te divido com a terra
Tua voz ela tomou
Mas o conteúdo rebola na minha cabeça
Sinto que te divido com a terra
Até o teu silêncio ela tomou!!!
Mas também isso eu consegui um pouco! (Ias te orgulhar um pouco de mim... mesmo que não dissesses, eu sei...)
Sinto que te divido com a terra
Teus olhos ela levou
Mas o teu contemplar eu ganhei! E como ganhei...
Sinto que te divido com a terra
Teu sofrer está com ela
Mas não conseguiu tudo... Comigo ficou muito...
Ai se eu pudesse entrar em acordo com a terra... Havia de querer ficar com tudo!
Partilhava-te como todos, mas com ela não
Maldita terra, eu quero tudo! Heranças parciais não me satisfazem
Gananciosa
Gulosa
Insaciável
Egoísta! Mais do que eu...
Nem quero imaginar quantos olhos, bocas, silêncios, peles, engoliste tu
Ainda bem que sabes esconder... Se não terias formas monstruosas de meter medo ao susto...
Mas imagino sim porque muitas vezes és vermelha...
A título de empréstimo deste-me e agora tens de volta e pago com juros altos!
Vou ter de te regar com lágrimas até ao fim dos meus dias...
(Lu, é pra ti também...)

3 comentários:

  1. Nááááádia,...que poético :-O Realmente pegou pesado vc hein ? Falo no sentido de poesia. FANTASTICA e daqueles textos que realmente mexe conosco. Parabens por conseguires expressar teus sentimentos de uma maneira tao bonita mesmo que tratando-se de fatos que nos deixam também tristes...

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  2. Um texto impressionante, comovente e original. Nunca pensei nesta maneira sobre uma perda. Mas num sentido tanto metaphorico como real e isso o que acontece, a terra engole e ela e impiedosa e nos, os sobreviventes, ficamos com as sobras.
    MB

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  3. Pois é...
    Herdamos o sofrimento eterno...

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