quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Biocombustíveis em Moçambique: primerio fazer e depois pensar?

Tomás Selemane: É uma matéria polémica e pouco abordada porque pouco estudada. O facto é que muito pouca gente se dedica ao estudo. Quando se fala de biocombustíveis em Moçambique há muitas vozes a discordar e a justificação usada é que se usamos terrenos férteis, e que na minha opinião não é de todo uma razão plausível para se discordar dos biocombustíveis porque terrenos férteis em Moçambique há muitos e não há neste momento evidências de que a crise no sector agrícola ou a fraqueza que existe entre o discurso governamental do governo da agricultura como base de desenvolvimento e a inexistência de praticas agrícolas sustentáveis seja movido por projectos de biocombustiveís. A meu ver o que existem são quatro factores:


1. Essa produção foi promovida antes de se perceber o que são biocombustíveis, qual a situação de Moçambique e que tipo de produção o país poderia aderir. Foi mais ou menos como colocar a carroça em frente aos bois, Inclusive o presidente da República disse várias vezes em vários comicíos, em 2005 e 2006, que deveríamos produzir jatropha para ajudar as pessoas a sairem da pobreza. Eu acho que ele próprio nem tinha percebido bem o que estava a dizer curiosamente não fala mais disse e também ninguem pergunta sobre isso.

2. Tem a ver com os terrenos, não necessariamente com o conflito de terrenos férteis, mas o discurso governamental de que a matéria prima para os biocombustiveís poderia ser produzida em terrenos marginais. Isso não é verdade porque os vários projectos estão a ser produzidos nos terrenos mais férteis que existem. Por exemplo, em Manica, os dois casos de Manica estão a ser densevolvidos num terreno que era de tabaco e outro de algodão. O conflito com alimentação surge ao nível da escala dos pequenos camponeses. Há um exemplo muito bom em Gaza de vinte e tal hectares dos camponeses que foram aldrabados, produziram jatropha e depois não tiveram compradores


4. Tem a ver com a questão ambiental. Não é completamente verdade que os biocumbistiveís são limpos, a sua produção implica o uso de insecticidas prejudiciais ao ambiente. Há várias coisas mais profundas. Infelizmente as autoridades governamentais não gostam de discutir essas coisas. Seria bom que contra-argumentassem dados contrários aos que apresentamos antes.


NI: Estas organizações que contestam o acordo alegam que o memso vai exigir a deslocação de populações para outras zonas. Acha que isso se pode tornar realidade?
TS: Não sei se é isso que o acordo diz. Mas se sim, é bem possível. Porque essa situação de transportar pessoas de um lugar para outro tem sido frequente sem os biocombustíveis. Isso não é mau, o que é mau é a maneira como as pessoas são trasnferidas, o tipo de condição de vida, o tipo de casa, o acesso a água e terra para produção agrícola e outras questões de sobrevivência dos deslocados. O caso de Moma, das areias pesadas, em Moatize houve um processo de reassentamento e vai haver outro com a empresa australiana. Portanto, o que acontece com os biocomustíveis não sera diferente. E não acho sensato criticar a transferência em si, se for bem feito as pessoas podem melhorar as suas vidas, se por exemplo forem transferidas de um lugar com menos água para outro com menos água.

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