Há uns que parecem grunhidos,
Outros menos expansivos, apenas para serem ouvidos em âmbito privado
Outros ainda que são verdadeiros cokteiles de cores, é o arco íris a levantar a saia
Existem também os envergonhados que se reduzem a zero durante o caminho: ohhhh...
Os do tipo "rapidinha" são ruidosos, começam do nada e acabam também como nada
Há gostos para todos
Mas eu pessoalmente prefiro aquele que vem cheio e largo, apenas branco e brilhante, enche o céu e depois ainda tem a capacidade de se multiplicar em mais branqueza, em mais brilho e com um barulho agradável que me enche também de baixo a cima.
Adoro o fogo de artificio!
"Filho, vai para a escola aprender a vencer sem ter razão", disse a mãe de um famoso escritor africano no tempo colonial. O conselho continua atual.
terça-feira, 1 de janeiro de 2013
A bem ou a mal Bissau engole CPLP
Que interpretações se devem fazer da nomeação de José Ramos Horta ao cargo de representante das Nações Unidas na Guiné-Bissau? É verdade que o invejável curriculum da figura timorense é mais do que suficiente para ocupar o cargo. Mas há outras evidências que provavelmente motivaram a sua nomeação, portanto dá para dizer, com certo humor caustico, que o governo de transição recebeu um presente envenenado logo no começo do ano.
Está assumido pelo governo de transição guineense que a CPLP não é exatamente bem vinda na negociação da sua crise. A CEDEAO é o parceiro confiado de Bissau. Por exemplo, recentemente o governo de Serifo Nhamadjo disse estar satisfeito com a presença das forças desta organização no país, apesar da Liga dos Direitos Humanos Guineense afirmar que a tal força assiste impávida as violações dos direitos humanos no país.
Uma missão conjunta da comunidade internacional esteve no país no mês passado, ela era composta por membros da CPLP, CEDEAO, UE, UE e liderada pela UA. Mas a missão da CEDEAO simplesmente gazetou a missão diplomática. Na altura o governo mostrou claramente a sua falta de confiança na missão. O seu porta-voz, Fernando Vaz, disse que esperava um retrato real das constatações no terreno e que o seu governo esperava que a situação nao fosse mais uma vez politizada.
Obviamente que o grupo regional ocidental não deve gozar de muita simpatia da comunidade internacional pelo facto de reconhecer um governo ilegal na Guiné-Bissau, segundo pressuposto democráticos. A CPLP, que não o reconhece, portanto, fala a mesma língua que a comunidade internacional, pelo menos neste ponto.
A nomeação de um representante da ONU proveniente de um país membro da CPLP, pode parecer inocente, mas em termo práticos isola e sufoca a CEDEAO e obviamente a Guiné-Bissau. Quer queira quer não, de alguma maneira o governo de transição é obrigado a engolir a CPLP, se não desliza com mel, então...
Enquanto a guerra entre a CEDEAO e a CPLP não terminar as chances para uma saída pacífica são mínimas. Sabemos que no fundo a disputa é dominada por Angola, que se quer impor no continente africano ao nível diplomático, e a Nigéria que quer também o posto. Portanto, está um país a afundar-se também em nome de ambições alheias.
Entretanto, há quem defenda que a CEDEAO é a organização com mais legitimidade para apoiar Bissau nesta fase. Segundo analista políticos, existe um principio segundo o qual a organização regional a qual o país visado pertence é quem tem primazia na resolução de crises...
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
A África do Sul será o novo Zimbabué da SADC?
Para além da luta pelo poder no seio do ANC e na África do Sul, outro tema polémico que se discute na 53º Congresso do partido no poder é a nacionalização de algumas riquezas. Se este não era um tema tão importante para o partido, então passou a ser a partir do momento em que o descontentamento social rebentou e manchou a imagem do ANC.
As manifestações por melhores salários nas minas e a resposta violenta da polícia fizeram o partido trepidar este ano. O governo ainda tentou sair-se bem se fazendo de vitima, mas se esqueceu que acenava com as mãos ensaguentadas. Mas Julius Malema foi a primeira bomba que o ANC, evidenciando a sua força, dominou pelo menos por enquanto. Recorde-se que o líder juvenil do partido, apesar dos seus metódos pouco ortodoxos, lutava pela igualdade social, exigindo uma melhor distribuição de riquezas e nacionalizações.
O ANC, agora preocupado, diz que vai discutir profudamente a questão das nacionalizações, nomaedamente da terra. Retirar dos brancos para dar aos pretos, um ideal para acalmar o povo agora e garantir a manutenção do ANC no poder, mas ao mesmo tempo parece uma faca de dois gumes. O que representa a minoria branca para o país? Dominam os setores que fazem girar a economia, isso apesar da elite política estar a fortificar-se ai.
Existe a comunidade internacional, a mesma que reduziu a pó o maior produtor de cereiais e uma das economias mais prosperas do continente, o Zimbabué. Robert Mugabe, tal como o ANC quer fazer agora, procurou dar uma resposta ao seu povo atribuindo-lhe terras retiradas dos ricos. E pergunto agora, quais são as probablidades da África do Sul vir a ser um Zimbabué? Apesar de terem percursos diferentes, eles tem algumas semelhanças extamente nos pontos críticos. Saberá o ANC gerir bem esta batata quente?
As manifestações por melhores salários nas minas e a resposta violenta da polícia fizeram o partido trepidar este ano. O governo ainda tentou sair-se bem se fazendo de vitima, mas se esqueceu que acenava com as mãos ensaguentadas. Mas Julius Malema foi a primeira bomba que o ANC, evidenciando a sua força, dominou pelo menos por enquanto. Recorde-se que o líder juvenil do partido, apesar dos seus metódos pouco ortodoxos, lutava pela igualdade social, exigindo uma melhor distribuição de riquezas e nacionalizações.
O ANC, agora preocupado, diz que vai discutir profudamente a questão das nacionalizações, nomaedamente da terra. Retirar dos brancos para dar aos pretos, um ideal para acalmar o povo agora e garantir a manutenção do ANC no poder, mas ao mesmo tempo parece uma faca de dois gumes. O que representa a minoria branca para o país? Dominam os setores que fazem girar a economia, isso apesar da elite política estar a fortificar-se ai.
Existe a comunidade internacional, a mesma que reduziu a pó o maior produtor de cereiais e uma das economias mais prosperas do continente, o Zimbabué. Robert Mugabe, tal como o ANC quer fazer agora, procurou dar uma resposta ao seu povo atribuindo-lhe terras retiradas dos ricos. E pergunto agora, quais são as probablidades da África do Sul vir a ser um Zimbabué? Apesar de terem percursos diferentes, eles tem algumas semelhanças extamente nos pontos críticos. Saberá o ANC gerir bem esta batata quente?
quinta-feira, 13 de dezembro de 2012
Despertando fantasmas
Na última segunda-feira Bona, na Alemanha, esteve em alvoroço por causa de uma bomba encontrada na estação de comboio. Embora estando nesta cidade, e a menos de três kilometros do lugar, recebi e processei a notícia como se tratasse de algo que não me diz respeito. A explicação imediata para isso não conseguia encontrar num primeiro momento.
As informações sobre o caso eu ia acompanhando pelo Facebook, nem era pelo órgãos de comunicação. Por volta das 20 horas passo pelo centro da cidade e nem vestígios de medo, pânico, ou de alguma preocupação nas pessoas. Aliás, havia muita gente na rua, para o meu espanto. Muitas delas sorriam, conversavam como as vejo fazer diariamente, mas também é verdade que o vai dentro de cada um ninguém sabe, embora possamos imaginar.
Tudo isso levou-me a fazer uma comparações (já esperada); se fosse na minha terra as ruas estariam desertas, e as poucas pessoas que encontrasse estariam a comentar o assunto do dia. Se isso acontecesse o estranho da rua seria o seu mais próximo para comentar, pelo menos seria o momento para o guarda de um prédio conversar com o doutor conhecido, de igual para igual, como simples seres humanos.
O meu aparente distanciamento do assunto tem uma pequena explicação que só no final do dia se revelou; as lembranças de pânico e medo que vivi durante a minha infância durante a guerra civil em Moçambique. Quando o regime sul-africano do Apartheid bombardeava os arredores de Maputo, ou as suas bombas explodiam eu e os meus colegas fugíamos desesperados da sala de aulas com as cadeiras e carteiras a caírem por cima de nós. Isso para não falar da professora que nessa hora ficava tão desesperada quando nós, que nem lhe reconhecimaos a autoridade e o poder.
Nessa epóca já "aplaquei" debaixo da cama da casa do meu tio que vivia no bairro da Liberdade, com medo das explosões que ouvia. Era difícil dormir.
De um dos prédios altos da Av. 24 de Julho, onde pulava com certa tranquilidade com os meus primos e irmão, via fogo do outro lado da baía, provavelmente depois da Catembe. A guerra estava debaixo do meu nariz, paradoxalmente com o brilho do fogo de artificio que muitos gostam de ver, incluindo eu.
Portanto, o acontecimento de Bona veio provar que me está destinado conviver com explosões. Só que aqui a imprevisibilidade tem peso de 100%
As informações sobre o caso eu ia acompanhando pelo Facebook, nem era pelo órgãos de comunicação. Por volta das 20 horas passo pelo centro da cidade e nem vestígios de medo, pânico, ou de alguma preocupação nas pessoas. Aliás, havia muita gente na rua, para o meu espanto. Muitas delas sorriam, conversavam como as vejo fazer diariamente, mas também é verdade que o vai dentro de cada um ninguém sabe, embora possamos imaginar.
Tudo isso levou-me a fazer uma comparações (já esperada); se fosse na minha terra as ruas estariam desertas, e as poucas pessoas que encontrasse estariam a comentar o assunto do dia. Se isso acontecesse o estranho da rua seria o seu mais próximo para comentar, pelo menos seria o momento para o guarda de um prédio conversar com o doutor conhecido, de igual para igual, como simples seres humanos.
O meu aparente distanciamento do assunto tem uma pequena explicação que só no final do dia se revelou; as lembranças de pânico e medo que vivi durante a minha infância durante a guerra civil em Moçambique. Quando o regime sul-africano do Apartheid bombardeava os arredores de Maputo, ou as suas bombas explodiam eu e os meus colegas fugíamos desesperados da sala de aulas com as cadeiras e carteiras a caírem por cima de nós. Isso para não falar da professora que nessa hora ficava tão desesperada quando nós, que nem lhe reconhecimaos a autoridade e o poder.
Nessa epóca já "aplaquei" debaixo da cama da casa do meu tio que vivia no bairro da Liberdade, com medo das explosões que ouvia. Era difícil dormir.
De um dos prédios altos da Av. 24 de Julho, onde pulava com certa tranquilidade com os meus primos e irmão, via fogo do outro lado da baía, provavelmente depois da Catembe. A guerra estava debaixo do meu nariz, paradoxalmente com o brilho do fogo de artificio que muitos gostam de ver, incluindo eu.
Portanto, o acontecimento de Bona veio provar que me está destinado conviver com explosões. Só que aqui a imprevisibilidade tem peso de 100%
terça-feira, 6 de novembro de 2012
Caso Romney ganhe...
O que se pode prever para os Estados Unidos da América e para o mundo? Muitas catástrofes de certeza, mas no momento vou citar apenas uma óbvia e preocupante; altas figuras do partido republicano são proprietárias de parte da indústria armamentista. Este é um dos negócios mais lucrativos do mundo, dominado pelos que simultaneamente dizem lutar pelo fim da guerra no mundo. Ora, este é um discurso paradoxo, afinal os seus bolsos precisam de continuar a engordar a custas da morte alheia.
E relativamente ao Médio Oriente? Assistiriamos a um retrocesso nos pequenos passos dados por Barack Obama. Mas quero acreditar que os norte-americanos tem bom senso o suficiente para medirem os ganhos ao votarem num dos candidatos, não só tomando em conta os seus interesses nacionais, mas que pensem também na política internacional. Uma grande responsabilidade ser eleitor norte-americano, não? Votarei ao assunto em breve...
E relativamente ao Médio Oriente? Assistiriamos a um retrocesso nos pequenos passos dados por Barack Obama. Mas quero acreditar que os norte-americanos tem bom senso o suficiente para medirem os ganhos ao votarem num dos candidatos, não só tomando em conta os seus interesses nacionais, mas que pensem também na política internacional. Uma grande responsabilidade ser eleitor norte-americano, não? Votarei ao assunto em breve...
quinta-feira, 4 de outubro de 2012
E aperto de mao entre Marcelina Chissano e Afonso Dhlakama é para quando?
Não tenho muito a dizer sobre a celebração dos 20 anos de paz, afinal a imprensa já o fez com artigos e entrevistas que trazem revelacoes quentes sobre os meandros das negociacoes de paz. O assunto já foi revirado do avesso, com analises do ponto de vista económico, político, social, olhando para o passado para o presente e futuro na esteira do abencoado acordo, enfim, quase esgotado.
Mas subitamente lembrei-me de um facto que marcou a era pós acordo. Lembram-se que a ex-primeira dama, Marcelina Chissano, recusou-se a apertar a mão a Afonso Dhlakama, presidente da Renamo? Lembro-me do constrangimento que isso causou, deixando até muitos moçambicanos envergonhados, embora não tivessem nada a ver com o facto. O que revela que os moçambicanos, tem educação, e acima de tudo capacidade de perdoar e vontade de viver em harmonia.
A atitude da senhora Marcelina Chissano, embora tenha sido pessoal, acredito, que criou embaraços para o presidente Joaquim Chissano. Afinal abriu espaço para as pessoas duvidarem da intenção de um acordo de paz e reconciliação por parte da Frelimo. Se até dentro de casa nao havia vontade...
O caso foi pano para manga, manga de camisa de um gigante! Mas esse gigante não era afinal tão grande, porque 20 anos depois quase ninguém se lembra desse facto, que de certa forma passou uma mensagem...
Diz-se que o povo tem memoria curta, não é?
Mas subitamente lembrei-me de um facto que marcou a era pós acordo. Lembram-se que a ex-primeira dama, Marcelina Chissano, recusou-se a apertar a mão a Afonso Dhlakama, presidente da Renamo? Lembro-me do constrangimento que isso causou, deixando até muitos moçambicanos envergonhados, embora não tivessem nada a ver com o facto. O que revela que os moçambicanos, tem educação, e acima de tudo capacidade de perdoar e vontade de viver em harmonia.
A atitude da senhora Marcelina Chissano, embora tenha sido pessoal, acredito, que criou embaraços para o presidente Joaquim Chissano. Afinal abriu espaço para as pessoas duvidarem da intenção de um acordo de paz e reconciliação por parte da Frelimo. Se até dentro de casa nao havia vontade...
O caso foi pano para manga, manga de camisa de um gigante! Mas esse gigante não era afinal tão grande, porque 20 anos depois quase ninguém se lembra desse facto, que de certa forma passou uma mensagem...
Diz-se que o povo tem memoria curta, não é?
segunda-feira, 1 de outubro de 2012
Guiné-Bissau limita-se aos bastidores da ONU
O facto da Guiné-Bissau não ter discursado na 67ª Assembleia das Nações Unidas representa uma humilhação para o país e seu povo, considera o analista político guineense Fafali Kouodawo. Mas o analista reconhece a importância do diálogo lançado durante a Assembleia entre o presidente deposto, Raimundo Pereira, e o presidente de transição, Serifo Nhamadjo. Isso representa, a seu ver, uma base para negociações para o fim da crise política da Guiné-Bissau, onde principalmente os guineenses tem a responsabilidade de resolver os seus problemas. Numa entrevista a DW, conduzida por mim, Fafali Kouodawo começou por comentar a iniciativa de diálogo entre as partes:
Fafali Kouodawo: É uma iniciativa bem vinda, embora venha um pouco tarde. A solução na Guiné-Bissau passa por um directo diálogo entras as partes envolvidas.
Nádia Issufo: Pode se interpretar esse diálogo como a base para o lançamento de negociações directas?
FK: Com certeza, o diálogo é que poderia abrir o caminho para negociações que desemboquem numa solução viável. E neste momento em que as posições estão muito rígidas é necessário que haja um diálogo directo entre as partes. O país em causa é a Guiné-Bissau e as pessoas em causa são os guineenses, então é melhor que eles dialoguem a acertem as posições e de seguida que informem aos seus apoiantes para limarem as dificuldades. Penso que isso é melhor do que ter sempre intermediários que tem as suas próprias estratégias e interesses a defender, e pode ser que esses interesses não sejam convergentes com os interesses guineenses.
NI: O braço de ferro entre a CEDEAO e a CPLP em que medida dificultam o alcance de uma solução para a Guiné-Bissau?
FK: Não há razão de ser este braço de ferro. Há uma tradição internacional segundo a qual uma organização regional tem a pro-eminência na resolução de um conflito. No caso vertente a CEDEAO, a Comunidade Económica dos Estados da África do Ocidental, é que está mais próxima do foco do conflito. A Guiné-Bissau é membro da CEDEAO, e esta organização recebeu o mandato da ONU de procurar soluções.
NI: Tanto Serifo Nhamadjo como Raimundo Pereira não discursaram na 67ª Assembleia-geral da ONU na semana passada embora tenham estado lá. Que leitura se pode fazer da posição da ONU?
FK: Normalmente as Nações Unidas não são parte de um conflito. A ONU deveria estar no meios das partes, mas a ONU tornou-se o palco em que as partes mostraram a luz do dia todas as dificuldades que o país tem neste momento para se reencontrar. É um acontecimento sem precedente na história da Guiné-Bissau independente, é um acontecimento que marca profundamente os guineenses, porque o país começou a falar na tribuna da ONU antes da independência, colocando Portugal numa dificuldade enorme no plano internacional. Hoje a Guiné-Bissau é que está numa posição difícil e humilhante nesse mesmo plano. Por isso teria sido melhor se tivesses concertado antes para que o palco em que a Guiné-Bissau obteve a sua maior glória não se torne o palco em que vai obter a sua maior vergonha.
Fafali Kouodawo: É uma iniciativa bem vinda, embora venha um pouco tarde. A solução na Guiné-Bissau passa por um directo diálogo entras as partes envolvidas.
Nádia Issufo: Pode se interpretar esse diálogo como a base para o lançamento de negociações directas?
FK: Com certeza, o diálogo é que poderia abrir o caminho para negociações que desemboquem numa solução viável. E neste momento em que as posições estão muito rígidas é necessário que haja um diálogo directo entre as partes. O país em causa é a Guiné-Bissau e as pessoas em causa são os guineenses, então é melhor que eles dialoguem a acertem as posições e de seguida que informem aos seus apoiantes para limarem as dificuldades. Penso que isso é melhor do que ter sempre intermediários que tem as suas próprias estratégias e interesses a defender, e pode ser que esses interesses não sejam convergentes com os interesses guineenses.
NI: O braço de ferro entre a CEDEAO e a CPLP em que medida dificultam o alcance de uma solução para a Guiné-Bissau?
FK: Não há razão de ser este braço de ferro. Há uma tradição internacional segundo a qual uma organização regional tem a pro-eminência na resolução de um conflito. No caso vertente a CEDEAO, a Comunidade Económica dos Estados da África do Ocidental, é que está mais próxima do foco do conflito. A Guiné-Bissau é membro da CEDEAO, e esta organização recebeu o mandato da ONU de procurar soluções.
NI: Tanto Serifo Nhamadjo como Raimundo Pereira não discursaram na 67ª Assembleia-geral da ONU na semana passada embora tenham estado lá. Que leitura se pode fazer da posição da ONU?
FK: Normalmente as Nações Unidas não são parte de um conflito. A ONU deveria estar no meios das partes, mas a ONU tornou-se o palco em que as partes mostraram a luz do dia todas as dificuldades que o país tem neste momento para se reencontrar. É um acontecimento sem precedente na história da Guiné-Bissau independente, é um acontecimento que marca profundamente os guineenses, porque o país começou a falar na tribuna da ONU antes da independência, colocando Portugal numa dificuldade enorme no plano internacional. Hoje a Guiné-Bissau é que está numa posição difícil e humilhante nesse mesmo plano. Por isso teria sido melhor se tivesses concertado antes para que o palco em que a Guiné-Bissau obteve a sua maior glória não se torne o palco em que vai obter a sua maior vergonha.
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