quinta-feira, 6 de fevereiro de 2014

Suabura de quem?

Para a Cristina:

Foto: Cristina K.

O gato da casa da minha avó só era preocupação quando não aparecia para comer e estava doente. Detestava quando passava a sua cauda pelas minhas pernas a cobiçar o meu peixe e ficava debaixo da minha cadeira, mas a minha avó diz que isso significa sorte. Mas para ele significa azar, porque nunca lhe dou de comer, mas o meu avô partilhava sempre a sua comida com ele.
O gato da casa da minha avó é sortudo, pois na terra da minha avó, e do gato, e na casa dela, abunda o peixe.
Mas o gato da casa da minha avó não tem casinha especial, brinquedos, e também ele não trepa para o colo da minha avó. O gato sabe que tal acto resultaria numa dura penalização.
Na verdade são os gatos da casa da minha avó, porque desde que existo que os vejo lá, e acho que não é a custa das suas sete vidas. Os meus primos dizem que todos os gatos em Inhambane se chamam Suabura, mas até hoje não sei se é piada ou verdade. O que é verdade é que hoje percebo que tenho inveja dos gatos da casa da minha avó, pois os seus longos passeios nunca são questionados, e muito menos os seus namoros. Já quanto a mim...
Eles também  têm livre transito, são como os machistas de "gema", fazem o que querem sem que lhes cobrem satisfações. E não é porque a minha avó não sabe que eles não falam.
A minha avó nem sabe que existe pedigree, portanto todos os gatos são apenas gatos. A noção de pedigree que a minha avó tem, só pode ser aplicada aos humanos. E vista as coisas nessa perspectiva ela conheceu-a pelo lado mais fraco: cafre.

Há alguns anos apareceu na casa da minha mãe um gato. E ela deu-lhe o nome da minha avó, mas a minha avó sentiu-se insultada. Gato não pode ter nome de gente. Para a minha mãe isso era motivo de gozo, mas, claro, nunca na presença da minha avó. Um dia o gato da casa da minha mãe ficou doente e ela mandou uma das suas empregadas levá-lo ao veterinário. A empregada, que foi educada a nunca negar ordens do patrão, violou os ensinamentos e mandou a minha mãe dar uma curva. "O que vão dizer as pessoas quando me vierem com o gato na rua?? Vão se rir de mim!!!", justificou ela. A minha mãe não restou outra saída se não mandar a outra empregada que em meio a risada, embora contrariada, o fez. Cuidar de animais ou leva-los a passear é humilhante para muitos conterrâneos meus, afinal animal é animal e gente é gente, pensam muitos.

Na maioria das casas na terra da minha avó existem gatos, e lá eu nunca ouvi ninguém chama-los de "meu" gato. Porque será?

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