Uma crise militar agita São Tomé e Princípe. E para resolver isso sucessivos encontros entre o Presidente Manuel Pinto da Costa e o Conselho Superior de Defesa Nacional estão em curso. Recorde-se que a insubordinação dos militares, ao recusarem-se prestar as honras militares ao Presidente, foi a gota de água.  É que o exército queixa-se dos salários, más condições de vida e incumprimento de promessas. O facto acontece num altura em que o país vive ainda uma crise político-social e em ano de eleições. Entrevistei para a DW África o analista santomense Olivio Diogo sobre o impacto da crise militar no atual contexto. 
Nádia Issufo (NI): A insubordinação pode trazer consequências negativas para o poder político?
Olívio Diogo (OD): Qualquer tipo de insubordinação 
vindo das forças militares ou paramilitares traz consequencias 
gravíssimas para o Poder Executivo. Ao longo desta semana houve vários 
Conselhos de Estado, quando o Presidente da República reuniu-se com os 
mais altos dirigentes militares. O chefe das Forças Armadas anterior já 
havia perdido o controle da situação. É preciso dizer que, neste 
momento, há uma proposta de substituição do brigadeiro e de sua equipa. 
Daí que vamos ver como esta nova equipa se articula com os militares.
NI: Disse que não há controle sobre os 
militares. Face a esta situação é possível que o Exército seja 
manipulado por alguma força de oposição para um golpe de Estado?
OD: Não. No meu ponto de vista não há uma manipulação 
por parte dos partidos de oposição para que isto aconteça. A criação do 
brigadeiro, a promoção do conjunto de militares, a separação do Comando 
Geral das Forças Armadas do Quartel General para uma outra instância foi
 uma criação do partido do primeiro-ministro. Eu não perceberia como este partido que havia criado esta situação 
conspiraria contra a seu própria obra. Este bloco que foi criado é que 
está sendo posto em causa pelos militares. 
NI: Depois da Guiné-Bissau, São Tomé e Príncipe é o país 
africano de expressão portuguesa que mais tem golpes de Estado 
registados em sua história. Vê a possibilidade de uma volta a esta 
prática?
OD: Os golpes de Estado que acontecem em São Tomé e 
Príncipe são diferentes do que acontecem na Guiné-Bissau. Porque um 
golpe de Estado que um presidente é reconduzido ao poder é o que podemos
 chamar de insubordinação. Nesta altura, se me disser que há condições 
para que isto volte a acontecer, eu não acredito. Porque há uma parte 
dos militares que está descontente com a direção e esta direção está 
disposta a se afastar. Eu estou convencido que a situação se 
normalizará.
NI: Em que medida o apoio de Angola a Manuel Pinto da Costa pode intimidar possíveis ações contra ele?
OD: Pode se considerar de certa forma ingerência porque
 o Manuel Pinto da Costa tomou o poder ele já tinha convidadoo alguns 
militarse. No meu entender isto não vem a promover nada e contribue para
 criar mais desconfiança na população. Quando o presidente toma esta 
atitude com a intenção de intimidar os nossos militares, isto pode ter 
manifestações contrárias. Eu acho que seria um erro estratégico do 
Presidente Manuel Pinto da Costa recorrer aos militares estrangeiros.
NI: São Tomé e Príncipe vive uma certa tensão social político-social. Como interpreta esta situação em um ano de eleições?
OD: Os partidos políticos não estão a transmitir 
confiança a população. A cada dia que passa, entendem-se menos entre 
eles. A cada dia que passa, chama-se por uma posição mais ativa da 
sociedade civil porque os partidos estão perder a confiança.
Escute a entrevista em:  http://www.dw.de/militares-entregam-proposta-ao-governo-em-s%C3%A3o-tom%C3%A9-e-pr%C3%ADncipe/a-17441154
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