A detenção do presidente da Associação Médica de Moçambique causou indignação e contestação no país. A Ordem dos Advogados considera a sua detenção ilegal. Já o analista e historiador Egídio Vaz está certo de que ela representa uma tentativa de intimidação a estes e outros profissionais que pretendam reivindicar melhores condições. E sobre uma solução para a greve dos médicos, o Ministério da Saúde garante que está aberto ao diálogo. Entrevistei-os para a DW:
Nádia Issufo: A detenção de Jorge Arroz foi uma forma de o intimidar, e também a outros prováveis descontentes que se queiram manifestar ou fazer uma greve?
Egídio Vaz: Sim. Trata-se de uma forma descoordenada de intimidação e desencorajamento, tanto do movimento solidário em torno dos médicos, como do próprio movimento associativo para o desintegrar. E, em última análise, para lançar sinais vibrantes da musculatura do Estado contra os prováveis movimentos reivindicativos que queiram surgir com vista a exigir os seus direitos, sejam eles cívicos ou laborais.
NI: E como avalia a actuação do Governo neste caso?
EV: O Governo foi a este nível um pouco mais esperto, e não inteligente, porque assim que percebeu a tamanha ilegalidade que cometeu distanciou-se do facto, e isolou-se de todo o esforço que tem sido feito pelo próprio Governo, e o partido que o sustenta, com vista a desencorajar qualquer greve. Na mesma noite a polícia deu uma entrevista algo curiosa justificando os motivos que levaram a detenção. A Polícia da República de Moçambique (PRM) diz que Jorge Arroz não foi detido, mas sim intimado para responder sobre as sua actividades que eram contrárias aos direitos humanos. Ou seja, deixa implicitamente a entender que a detenção foi ocasional e infeliz que resultou do excesso de zelo de quem não tinha poder para o deter.
NI: O que tem a dizer sobre a reacção da sociedade civil, os médicos e até da população que se aglomeraram e manifestaram solidariedade ao dr. Jorge Arroz?
EV: Não existe dúvidas, a população moçambicana está solidária com a causa dos médicos. E mais do que isso, a população exige que seja dada uma resposta satisfatória a eles. Estive lá, e acho que cerca de 2000 pessoas estiveram lá na esquadra. Não temos em Moçambique mais de 2000 médicos, a nível nacional são aproximadamente 1600. Todos os jornalistas, pelo menos dos principais órgãos, estavam lá presentes. políticos, a própria Ordem dos Advogados e todos os que amam a liberdade de imprensa estavam lá. Infelizmente quanto a comunicação social aliada ao Governo, esta tem mostrado alguma desinformação que nada abona para a verdade. Com esta detenção injusta, e um pouco atabalhoada, o Governo está muito mais sensibilizado com a causa dos médicos, porque o apoio popular que o Governo chamava para si foi totalmente manifestação aos médicos.
Também ouvi para a DW o Ministério da Saúde sobre a greve. Um dos seus porta-vozes, Francisco Cândido, respondeu as perguntas:
Francisco Cândido: Naturalmente que o Ministério da Saúde (MISAU) quer dialoga com os médicos, de tal forma que já tivemos dois encontros com eles, num primeiro a direcção da Associação Médica (AM)esteve presente, mas depois abandonou a sala porque punha como condição a presença de uma outra associação que não está legalizada. E a segunda vez, pura e simplesmente não apareceu. O MISAU está aberto ao diálogo, a AM sempre que achar que está em condições poderá fazê-lo com o MISAU.
NI: E como vão as unidades sanitárias do país agora com a greve?
FC: Elas estão a funcionar, naturalmente com pessoal reduzido, por causa da greve. Conseguimos mobilizar algum pessoal de apoio, médicos militares, estamos a chamar estudantes do curso de enfermagem para vir cobrir a lacuna deixada por alguns enfermeiros.
NI: E qual é o impacto da ausência dos médicos nos hospitais?
FC: Não está a perceber, é que obriga aos outros colegas a redobrarem os esforços, a trabalharem mais do que deviam.
Leia e escute sobre o assunto em: http://www.dw.de/detenção-do-presidente-da-associação-médica-de-moçambique-foi-ilegal/a-16839598
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