Tenho viajado todas as noites para o fantasiado e colorido sítio do pica pau amarelo do livro "Reinações de Narizinho" do brasileiro Monteiro Lobato. Confesso, tenho me divertido horrores com as suas pequenas histórias, tal como me tenho decepcionado horrores com as suas demonstrações "paternalistas" de racismo. A empregada da história é preta, o que não constitui novidade nas representações brasileiras e não só. Sendo isso um facto real, justo é que seja representado.
Agora ler frases como "a negra boa..." ou a "negra beiçuda..." "aquela diaba feia..."(em referência a emprega) é algo anormal, não? Em nenhum momento se diz no livro: "a branca dona Benta", ou seja, posso presumir que se ser branco é o "normal". E no país mais miscigenado do mundo, com forte base socio-cultural negra, chega a ser vergonhoso.
Preto é preto, branco é branco e rosa é rosa! Não me incomodo que as coisas sejam chamadas pelos nomes. Mas as pessoas não devem ser carecterizadas pelas construções sociais que de uma maneira geral só discriminam, e sim apresentadas pelo que são em determinado contexto.
Absurdo maior é que este livro, editado pela primeira vez em 1964, continue de forma intransigente a perpetuar o racismo. A edição mais recente, a que tenho em mãos, é de 2007. Sendo este um livro para crianças, que tipo de valores estarão a ser passados para os brasileiros de amanhã? Sim, porque quanto aos de hoje, nao sei o que dizer.
Entretanto, na versão televisiva desta história essas "negra" e "preta" foram "limpas" das bocas dos personagens. Isso demonstra que ainda existem pessoas sensatas.
Isso me faz lembrar relatos de um colega português, ele diz que em Portugal "os pretinhos" era a expressão racista paternalista da moda nos anos setenta e oitenta. Na sua infeliz ignorância alguns achavam que estavam a ser carinhosos com os "coitados" dos pretos, coitados...
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