O presidente de São Tomé e Príncipe, Manuel Pinto da Costa, visitou Luanda na última semana. Os assuntos abordados com o governo angolano foram mantidos no segredos dos deuses, embora os dois governos falem no reforço da cooperação e da amizade entre as duas partes. Entretanto, nos últimos tempos Angola aumenta os seus investimentos em STP e noutros países africanos. Ouvi, através da DW, o economista angolano Heitor Fernando sobre as relações entre os dois países:
Nádia Issufo: Qual é a importancia dos investimentos angolanos para STP?
Heitor Fernando: São Tomé e Príncipe é considerado mais uma província de Angola, com o devido respeito a soberania do país. O tratamento que tem sido dado a STP, sob o ponto de vista governamental, é privilegiado, quer seja no domínio económico, político-admnisitrativo e até no domínio militar. Lembro-me que houve problemas graves de golpes de Estado no arquipélago, em que Angola desempenhou um papel crucial. Há ligações fortes entre as classes dirigentes dos dois países, não vale a pena entrar em pormenores.
NI: Mas sob o ponto de vista económico?
HF: Angola tem uma presença marcante em STP, ele é o maior fornecedor de combustível, fez alguma incursão do ponto de vista industrial, está presente na construção civil, principalmente através da Sonangol e continua presente no domínio militar e da hotelaria.
NI: Sim, mas como o senhor avalia esta relação? Nós gostariamos de ouvir a sua análise...
HF: STP tendo Angola como um parceiro que está a registar um crescimento positivo, os dois países podem manter relações num patamar aceitável. Isso não é negativo, é preciso que um país como Angola procure manter boas relações com os parceiros da CPLP, e particularmente com os países africanos.
NI: Quais são os beneficios para STP?
HF: Em termos de benifícios imediatos é um pouco difícil, repare que STP tem muito pouco a dar Angola, diga-se de passagem...
NI: E o petróleo que existe em STP não é nada?
HF: O petróleo ainda não começou a ser explorado, ainda estão na fase de prospeção, isso será para um futuro próximo. Enquanto isso não acontece a relação económica é uma boa política...
NI: E não há interesse de Angola no petróleo de STP?
HF: Há e já houve antes, mas parece que Angola ficou um pouco para trás, beneficiou-se a Nigéria. Sabe que STP fica próximo da Nigéria e houve ai interesses no off-shore que apanha também a Nigéria e por isso STP achou melhor estabelecer relações com o vizinho. A Nigéria produz mais petróleo que Angola. Mas as relações entre os países não se devem limitar a um único produto de exportação. Veja que esse tipo de relações acontece agora também com a Guiné-Bissau e também com a Guiné Equatorial, soubemos que Angola mantém já há algum tempo uma presença policial na Guiné Equatorial, outro país que produz petróleo. O governo anda a diversificar as sua relações com o mundo...
NI: E isso é uma boa política?
HF: Acho que não. É preciso haver limites, você nã pode apoiar os pobres de outros países quando você tem milhares de pobres no seu próprio país. É verdade que tem de haver sentido de solidariedade, mas não se pode perdoar dívidas a outros países quando você tem dívidas com instituições financeiras e empresas no seu próprio país. É preciso sempre que haja equilibrio, é preciso fazer o trabalho de forma transversal e não porque fulano de tal é meu amigo e eu tiro dinheiro dos cofres de Estado em detrimento do meu país. É ai que manifesto a minha indignação...
NI: Mas esta não será uma tentativa do governo de Angola de se posicionar melhor a nível externo?
HF: Não, as relações entre países fazem-se mais por interesses económicos, porque as pessoas passam e os países continuam. Portanto, tem de haver contrapartidas, vantagens reciprocas. Equacionar as coisas em termos de simpatias pessoais não é boa e geralmente tem uma visão imediatista, nós temos de ver o país a longo prazo. Por exemplo, STP tem agora um presidente que é próximo ideologicamente do partido no poder em Angola e as coisas agora vão correr de uma forma, mas quando estiveram outros as coisas correram de outra maneira.
Diga-se de passagem que enquanto economista percebe pouco de Geo-política. As ligações históricas, no meu ponto de vista, servem para cada um tirar o melhor proveito do outro. Não esquecer que a localização geografica de STP é uma vantagem que muitos poucos países têm no mundo. Um local que pode ser determinante para o comercio na região... Angola enquanto parceiro histórico, tira naturalmente partido desta vantagem. A contrução do porto de águas profundas não é uma esmola de Angola a STP. Para além dos "benefícios" que dá a STP ajuda também Angola a consolidar a sua posição na região enquanto uma das maiores potências de Africa...amigos sim, mas cada um está a resolver a sua vida!!In Raul Jorge Bragança Neto
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