Saio de manhã para ir trabalhar, mas antes de por o pé na rua abro a minha caixa de correio. E como sempre “Viele Werbung”, ou seja, muita publicidade. Panfletos de supermercados e companhia a abarrotarem na minha caixa e vejo-os um por um. No do supermercado biológico estão em primeira página “Bio african cheese kick 2010” e os meus olhos continuam o seu caminho para encontrar não muito longe “Bio african choco kick 2010” e assim segue no resto das publicidades que não se limitam aos comestíveis. Este ritual de viagem pelo universo “sul africano”, ou africano…, já começou há algum tempo e bombardeios semelhantes chegam de quase todos os sectores de actividade. Imagens da savana com elefantes e receitas de culinária com “Erdnüsse”, que significa amendoim, são igualmente capitalizadas pelas empresas de media que não se esqueceram que as desgraças também se vendem muito bem… Os elevados índices de violência, xenofobia, possibilidade de actos de terrorismo, e as altas taxas de Sida são alguns dos temas constantemente abordados na Alemanha.
Realmente, se o Kruger Park e o Table Mountain já estão mais do que vendidos pelas agências de turismo, é preciso trazer o diferencial. Resta saber se para informar apenas, atrair ou, quem sabe, afastar os turistas…
Obviamente que é necessário informar para formar e prevenir, afinal tem por tarefa também fazer isso o chamado quarto poder. Mas quando a dose é em excesso corre-se o risco de se conseguir efeitos contrários. Quantos alemães não terão desistido de assistir ao mundial com medo da criminalidade? O governo sul-africano garantiu mais segurança nesta altura. E mais uma pergunta: merecerá o governo de Jacob Zuma um voto de confiança nessa matéria? Não sei…Entretanto, enquanto me debato com as minhas dúvidas os factos sucedem, no dia 9 de Junho dois jornalistas portugueses e um espanhol que acompanham a selecção portuguesa no mundial foi assaltada num hotel em Magaliesburgo na África do Sul…
E por ironia do destino a África do Sul, e o mundo em geral, principalmente moçambicanos e zimbabueanos, recordaram em Maio último os violentos ataques xenófobos de 2008 pouco antes do mundial de futebol… Mais um ponto negativo a associar a este país e o evento.
E porque o terrorismo é preocupação mundial, as grandes potências estão “antenados” para prováveis ataques. Moçambique por causa disso já recebeu uma chamada de atenção da administração norte-americana. Neste caso não acredito que seja apenas um exagero do governo de Obama…
Concluindo, uma quantidade de delicadas situações que uma pessoa que goste minimamente de si quer evitar.
Mas no meio deste antagonismo há quem tire vantagens. Por exemplo, a Alemanha consegue fazer muito bem a sua auto-promoção ao encaixar-se nos dois lados deste marketing alucinante… Por exemplo, no aspecto positivo desta exposição eles informaram através da media que o material do telhado do estádio, SoccerCity com 94 000 lugares, é made in Germany. Já no lado negativo o país lembra que um padre católico alemão, que vive há 13 anos nos bairros de lata dos arredores da cidade do Cabo, Stefan Hippler tem permanentemente nos bolsos preservativos negros e dourados para distribuir as populações pobres. Também considero aceitável esta autopromoção alemã... Não se pode vingar no mundo hoje se não desta forma, mas...
Acredito que este deve ser um momento de múltipla tensão para a África do Sul. Primeiro país africano a organizar um evento desta envergadura e as expectativas quanto às condições organizativas a pesarem nas suas costas...
Só lembrar que a Alemanha sabe perfeitamente que a última edição do evento que acolheu em 2006 foi muito bem organizado...
*Este artigo foi publicado pela revista Capital em Junho último
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