Foto: Sérgio Manjate
A arrogância escorregou "depois dos 10 burros mortos"...
Ainda não... Mas já estamos a fazer as contas. Até agora dez mortos, cerca de cem feridos e incalculáveis danos materiais. Depois deste saldo, não definitivo, finalmente o presidente de Moçambique, Armando Guebuza, saiu do seu Palácio da Ponta Vermelha no final da tarde de ontem para falar ao seu povo, situação no minimo invulgar. Por isso se diz em Moçambique, em voz alta, que Armando Guebuza é arrogante. Mas os apelos a calma já vinham tarde...
Frelimo: Subestimando cérebros dos moçambicanos?
E o presidente do país pediu aos populares para que não se deixassem influenciar por aventureiros. Não será este apelo uma falta de consideração a inteligência dos moçambicanos? Será que os compatriotas de Armando Gubuza são incapazes de agir pelas suas próprias cabeças? Está claro, que houve oportunistas, mas que não se subestime o resto que está consciente do que vive e dos seus direitos.
Este discurso de Guebuza, considerado por muitos de vazio, foi antecedido, de outro mais oco ainda. O do ministro do Interior, António Pacheco...
Quem "desgoverna" os moçambicanos?
De acordo com relatos, o ministro do interior terá começado por falar do plano quinquenal do governo e combate a pobreza, quando os tumultos atingiam o ápice... E o inacreditável, ou "acreditável", é que ele apelava aos seus irmãos que voltassem as suas actividades... Só pode pedir isso alguém que não vive nos subúrbios de Maputo, que não anda de chapa... E que não tem noção exacta do que se passou no terreno! Senão, não abria a boca. Como se diz: em boca fechada não entra mosca, e eu acrescento: caso contrário sai cheiro de m...
Se o presidente e o seu ministro tivessem tido a humildade de descer até ao povo no devido momento esta situação não teria ficado apenas ao nível das intenções?
Foto: Sérgio Manjate
A Previsibilidade e a Intimidação
Era demasiado óbvia a efectivação de tumultos no país. Desta vez, não havia como as autoridades do país não estarem precavidas, diferentemente do 5 de Fevereiro de 2008. A estratégia, ao que tudo indica, terá sido a intimidação traduzida de duas maneiras: ameaça policial para a não concretização de manifestações e o forte aparato policial em Maputo.
Consequências?
Esses números todos que se são actualizados a todo instante. Mesmo que a manifestação tivesse sido pacifica, com a ausência de oportunistas, provavelmente os números não fossem menos gordos que os actuais. Motivo: intimidação a priori e a posterior. Ainda não é conclusivo, mas a polícia terá usado balas de fogo contra os manifestantes. As imagens, os mortos e os feridos são a prova disso.
Fraquezas da Polícia
Esta actuação deixa à mostra a fragilidade fossilizada da polícia da República de Moçambique. O nome "cinzentinho" resume o que é a polícia do país. Terá faltado comando? Acredito que se tivessem dado a esses homens uma bomba atómica não teriam hesitado em utilizá-la... Ou então as ordens eram mesmo essas...
Repressão dura pensada?
No caso de resistência dos manifestantes. Também acredito nisso depois do que se passou. Conversando com um amigo sobre a situação ele citou Maquiavel, algo como: o mal se faz de uma vez e o bem aos poucos. Mas também sabemos que o povo tem memória curta...
E amanhã?
Os que votam na Frelimo sempre nas eleições, na hora da verdade, este acontecimento não terá espaço nas suas memórias, dizem alguns moçambicanos e não discordo até certo ponto. Não vamos muito longe, o 5 de Fevereiro foi esquecido nas eleições de 2009 e a Frelimo continua no poder. E o mais caricato, é que este caos acontece sempre num dos bastiões fortes do partido no poder...
Foto: Sérgio Manjate
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