Em Angola 2014 começa com as mesmas dificuldades sociais: difícil acesso a água potável, a energia eléctrica, aos serviços de saúde e educação. E as opiniões sobre a melhoria das condições de vida da população estão divididas, enquanto uns preferem dar o seu votos de confiança ao trabalho do Governo, outros não, por considerarem as suas políticas de desenvolvimento desfasadas. Entrevistei para a DW África o analista político e docente da Universidade católica de Angola, Nelson Pestana:
Nádia Issufo (NI): Espera alguma melhoria nas condições de vida das populações na área social?
Nelson Pestana (NP): Temos de reconhecer que haverá mais infraestruturas, no sentido de criar maiores capacidades de produção, quer de energia quer de água para as populações por isso haverá seguramente mais infraestruturas. Também haverá mais pessoas a acederem a água potável. Só que os ritmos demográficos desses sectores não acompanham os ritmos demográficos do país e por isso vai haver sempre um défice em relação ao acesso à água potável e em
relação ao acesso à energia eléctrica. Em relação a saúde a situação não melhorou na medida em que o plano de desenvolvimento do sector está ferido de dois problemas: o primeiro é
que diminuiu a parcela do Orçamento de Estado para a saúde, e o segundo é que o
dinheiro está destinado aos grandes hospitais, quando os problemas estão nas
pequenas unidades sanitárias. Na educação acontece um pouco a mesma coisa, reduziu-se a fatia para a educação e há uma inversão de investimento. O problema da educação está sobretudo na instrução primária de má qualidade, e principalmente no secundário, mas o Governo está a priorizar o ensino universitário.Agora, que tipo de quadros se vão formar? ninguém sabe dar a resposta. Antevemos que
serão quadros de má qualidade e que não estarão à altura de competir para os
empregos de qualidade que o crescimento económico vai criar.
NI: Então com base na sua explicação pode-se concluir que há uma desfasamento entre as políticas de desenvolvimento e as necessidades da população?
NP: Sem duvida nenhuma, porque as políticas de desenvolvimento são ditadas de cima para baixo segundo os interesses daqueles que têm o poder. Aliás, o grande objectivo estratégico definido pelo Presidente no discurso sobre
o Estado da Nação, e que tem repetido em outras intervenções, é dotar de uma
grande riqueza um grupo restrito que possa vir a ser a locomotiva do
desenvolvimento, e essa política já dura há 15 anos. E agora o Presidente da República diz que quer ser muito rico e é por isso que o país faça agora mais uma vez um esforço no sentido que ele chama de acumulação primitiva nesse pequeno grupo, que tem o próprio Presidente a cabeça, para que seja então a locomotiva do desenvolvimento. Ele chama a isso de um período de transição, só que estamos num período de transição há mais de 15 anos. E o que assistimos é que quanto mais ricos eles ficam, mais investem lá fora, não investem no país. Não temos uma classe uma classe industrial quando há muitos ricos.
NI: Então, no final podemos prever que a população vai continua a viver em más condições?
NP: Vai continua a viver nos musseques, ou nas casas de baixa qualidade que estão a construir, com baixas condições de vida, muitas delas sem saneamento, com falta de acesso a água potável, ou com acesso por chafariz, o que significa que a população tem de se deslocar kilometros ou mesmo metros para se abastecerem de água. Por isso terão um abastecimento de água muito limitado que vai condicionar a saúde pública, a libertação da mulher e das crianças para o desenvolvimento.
NI: Falar na continuidade das manifestações em 2014 contra o Governo é uma certeza?
NP: Com certeza. Está na linha directa disso. As lutas trabalhistas vão se agravar, porque os trabalhadores estão descontentes e vão retomar essa luta ao logo de 2014. Por outro lado, como as questões estão interligadas, a questão social não está separada da questão económica, a económica não está separada da política, continuamos a ter um sistema autoritário, que é unanimemente recusado por toda a nação, por isso as reivindicações de liberdade e bem estar e de uma nova estrutura de oportunidades vão continuar e vão tomar as mais diversas formas de luta.
Escute e leia mais sobre o assunto em: http://www.dw.de/população-angolana-continuará-com-os-mesmos-problemas-sociais-em-2014/a-17340434
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