terça-feira, 7 de janeiro de 2014

"Monstro Sagrado" fala do "Pantera Negra"

E com a morte do futebolista  Eusébio Ferreira, os que conheceram bem o seu percurso lembram-se de Mário Coluna, outro grande futebolista moçambicano de renome internacional. Jogou igualmente no Benfica de Portugal e foi pela mão deste que o "Pantera Negra" se estabeleceu e integrou em Lisboa a quando da sua chegada. Entrevistei para a DW África Mário Coluna, agora com 80 anos, pedindo-lhe para nos falar sobre a obra de Eusébio e da relação entre eles:

Mário Coluna (MC): O trabalho que fez foi óptimo, portanto não poderia ter sido melhor, pelo que fez pelo Benfica e pela própria selecção portuguesa de futebol. Portanto, que Deus tenha a alma dele em paz.

Nádia Issufo (NI): E em termos de reconhecimento em relação ao trabalho que ele fez, no caso em particular de Moçambique, o que o senhor tem  a dizer?

MC: Ele foi reconhecido, fez-se aqui a homenagem dos silêncios, silêncios, silêncios. Portanto, Eusébio era moçambicano, faleceu moçambicano e o Governo reconhece isso.

NI: Acha que o Governo devia ter feito mais alguma coisa por ele?

MC: Eu acho que fez, se há mais alguém que tinha que fazer era precisamente o Governo português, porque foi ai que ele deu tudo por tudo pelo desporto português.

NI: Também sabe-se que Eusébio, tal como Mário Coluna, investiram as poupanças que foram colectando ao longo da vida em edifícios em Moçambique que depois foram nacionalizados pelo Governo da FRELIMO. A sociedade acha que o Governo vos devia ter devolvido. O que tem a dizer?

MC: A minha opinião é essa mesmo, porque foi um dinheiro que se ganhou fora para se valorizar o nosso país Moçambique. Entretanto, o Governo quis saber porque voltei a Moçambique e eu perguntei: afinal onde nasci? Eu nasci aqui. Pensei em voltar e valorizar o meu país e mais nada. Mas a opinião deles é de que na  política deles não há exploração de homem pelo homem, então contra isso não há argumentos.

NI: Então o Governo nunca manifestou interesse em devolver esses edifícios, ou substitui-los por outros?

MC: Até aqui não, eu vivo numa casa que tive de comprar ao próprio Estado.

NI: Senhor Mário Coluna, pode nos falar sobre a sua relação com Eusébio Ferreira?

MC: Era como se fosse meu filho. Quando ele vai para Portugal levava uma carta da mãe para mim a pedir que eu tomasse conta dele porque em Portugal não tinha conhecidos. E no aeroporto o Eusébio entregou-em a carta, eu abri e li e depois dei-lhe para ler e depois perguntei o que dizia, e ele disse que a mãe pede para o senhor Coluna tomar conta de mim porque aqui em Portugal não conhecemos ninguém. E pronto, eu orientei-o com o dinheiro no banco, para o alfaiate, tudo era comigo. O dinheiro do transporte, do lanche era tudo comigo. Portanto, houve sempre respeito para comigo. No casamento dele eu fui um dos padrinhos por parte da mulher, e da parte dele foi o presidente do Benfica na altura.

NI: E nos últimos tempos como era a vossa relação?

MC: Sim senhora. Todos os anos o Benfica convidava-me para o anivesrário do clube, e juntavámo-nos todos, portanto estava com ele e íamos a um restaurante chamado Tia Matilde, onde nós os benfiquistas íamos. Sempre houve boas relaçõe.

Escute aqui a entrevista: http://www.dw.de/7-de-janeiro-de-2014-manhã/a-17344729



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