terça-feira, 26 de junho de 2012

ONG Justiça Ambiental impedida de entrar no Brasil

Há cerca de duas semanas as autoridades brasileiras impediram a entrada do activista moçambicano Jeremias Vunhenje no país. As justificações para tal procedimento são descabidas, de acordo com o activista, e uma delas é a acusação de tráfico de drogas. O activista da ONG Justiça Ambiental ia participar nas Cimeiras dos Povos e Rio+20. Vunhenje, entretanto, chega na segunda-feira (18.06.12)ao Brasil depois de ter conseguido um novo visto. Mas a ONG moçambicana exige das autoridades brasileiras um pedido de desculpas e já garantiu que vai investigar o caso. A JA tem algumas suspeitas, mas Jeremias Vunhenje conta primeiro como tudo aconteceu:


Jeremeias Vunhenje: Embarquei no dia 12 para o Brasil, e nos serviços de migração do país a agente, sem falar comigo, gritou para o colega "impedido". Ela foi falar com o colega e mandaram-se aguardar. Passados cerca de 30 minutos o polícia disse-me que seria recambiado. Eles não me explicaram as razões, apenas disse que a polícia federal tinha competências para fazer o seu trabalho. Insiste, apresentei a minha carta convite, a reserva de hotel, mas eles não quiseram saber. Eles escoltaram-se até a sala de embarque, e insite mais uma vez, mas um dele disse-me: "O senhor vem cá faz confusões, esteve cá em maio e estás a ser procurado porque está envolvido no tráfico de drogas."

NI: A JA tem alguma suspeita para esta atitude?
JV: Temos sim, mas acima de tudo estamos indignados e perplexos com a decisão das autoridades brasileiras. Não nos foi dada uma explicação plausível para a proibição da entrada de um membro da sociedade civil num encontro das Nações Unidas.

NI:  E que nos falar das suspeitas da JA?
JV: Achamos que não é uma decisão tomada ao acaso, agora quem eventualmente está por trás disso nós não sabemos e não temos provas. Sabemos sim, que a JA está envolvida em campanhas de denúncias e de defesa dos interesses das comunidades e que isso muitas vezes, até dentro de Moçambique, tem sido alvo de críticas e até de ameaças. Percebemos que é mais um desses sinais de tentativa de nos calar.

NI: Associa isso a empresa Vale? Porque sabemos que a JA tem estado a trabalhar muito com o caso da Vale em Tete...
JV: A JA e eu próprio não associamos isso a alguma empresa, e muito menos a Vale. Agora é uma verdade que nos últimos seis meses nos batemos por todas as vias pelos interesses das famílias reassentadas pela Vale. Denunciamos por todos meios e com toda a contundência as péssimas condições que as famílas reassentadas enfrentam. Eu já fui levado para a esquadra em Cateme, onde sofremos intimidações. E é verdade que uma das actividades principais da JA no Rio de Janeiro era de fazer uma apresentação e expôr o caso da Vale, denunciando os maus procedimentos da empresa em Moçambique. E naturalmente a própria Vale, que por sinal financia a Rio+20, e o governo de Moçambique sabem que iamos expor o caso da Vale, todos estes estão interessados na forma como o projecto está a ser gerido, estão a acompanhar o nosso trabalho. Não temos provas disso, mas é uma hipótese eventualmente a admitir.

NI: O que a JA pretende fazer agora?
JV: No dia 14 tivemos um audiência com o Consul do Brasil em Maputo, e apresentamos as nossas exigências e uma delas é que o representante da JA voltasse o mais urgente para a conferência, e isso já foi possível. Deram-me um novo visto. A segunda exigência é a retirada do meu nome da lista do sistema nacional de procurados e impedidos do Brasil . A terceira é que façam um pedido de desculpas público e que assumam as consequências quer financeiras, quer morais da acusação contra mim,  puseram em causa a minha imagem e integridade.

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