As ameaças de greves e manifestações dos desmobilizados de guerra em Moçambique mexem com o Governo. Este tem optado pelo uso da força, em jeito de intimidação e repressão, causando indignação no país. A DW, numa entrevista conduzuida por mim, ouviu o pesquisador do departamento de ciências políticas e admnistração pública da Universidade Eduado Mondlane, João Pereira, sobre o assunto.
Nadia Issufo: A revindicação por melhores condições de vida por via das greves, substituindo as manifestações sem cara, significam um amadurecimento da sociedade?
João Pereira: Sim, por um lado nota-se um certo grau de consciência que cada grupo de interesses em relação ao seu exercício de cidadania. E isso mostra a fragilidade que o próprio Estado tem de controlar esses movimentos. Em relação a greve dos médicos, se for a ver quem esteve a frente do processo eram jovens que não tem nenhuma relação com o passado histórico da FRELIMO. Não viveram o período colonial e estão mais predispostas a lutar pelos seus objetivos imediatos e a longo prazo. E muitas das vezes têm uma consciência política muito acima da media em relação a maioria da população que viveu no tempo colonial que tem um passado histórico idêntico ao do partido FRELIMO e que aceita muito dos sacrifícios que o partido adota. Os jovens estão mais predispostos a lutar por outro tipo de sociedade que não seja essa discursiva em relação ao passado.
Nadia Issufo: A revindicação por melhores condições de vida por via das greves, substituindo as manifestações sem cara, significam um amadurecimento da sociedade?
João Pereira: Sim, por um lado nota-se um certo grau de consciência que cada grupo de interesses em relação ao seu exercício de cidadania. E isso mostra a fragilidade que o próprio Estado tem de controlar esses movimentos. Em relação a greve dos médicos, se for a ver quem esteve a frente do processo eram jovens que não tem nenhuma relação com o passado histórico da FRELIMO. Não viveram o período colonial e estão mais predispostas a lutar pelos seus objetivos imediatos e a longo prazo. E muitas das vezes têm uma consciência política muito acima da media em relação a maioria da população que viveu no tempo colonial que tem um passado histórico idêntico ao do partido FRELIMO e que aceita muito dos sacrifícios que o partido adota. Os jovens estão mais predispostos a lutar por outro tipo de sociedade que não seja essa discursiva em relação ao passado.
Nádia Issufo: Entretanto, os desmobilizados de
guerra e os madjermanes são os únicos que tem feito manifestações. No caso dos
desmobilizados o Governo repremiu-os com violência na última semana, atingindo
até inocentes. Este uso excessivo de força será um sinal de que o Executivo de
Armando Guebuza se sente ameaçado?
JP: Não é uma questão de se sentir ameaçado, é a
natureza do Estado em muitos países africanos. Nós saímos de um regime autoritário
desde o período pré colonial e pós-colonial....
Nádia Issufo: Mas neste momento as ameaças de
greves são constantes...
JP: Estão a ser mais constantes porque as
dificuldades da vida estão a ser agravadas
pelas políticas que estão a ser adotada neste momento...
Nádia Issufo: É neste contexto que lhe pergunto:
sente-se o Governo acuado ou não por causa da pressão?
JP: No meu entender o Governo vai respondendo na
dimensão da complexidade das coisas. Por exemplo, no caso dos desmobilizados, é
verdade que a ação do Governo foi muito mais violento em relação aos
madjermanes...
Nádia Issufo: Constituirão os desmobilizados de
guerra uma ameaça ao Governo?
JP: Sim, sim, é uma ameaça, na percepção dos
governantes os desmobilizados de guerra tem uma tradição de luta, não luta
política, mas luta armada. Grande parte deles vem de um processo de utilização
de uso de armas para reivindicar os seus direitos, espaços ou territórios. Então,
quando muitos moçambicanos ouvem dizer que os desmobilizados querem manifestar-se pensam que a manifestação
será violenta, e o Governo prepara-se pata responder com essa mesma violência.
Nádia Issufo: Na sua opinião, a estratégia do
Governo é mais correta ou inteligente?
JP: Não é a mais inteligente nem correta porque não
representa o que devei ser um Estado de direito. Porque para a questão da greve
não é preciso ter uma autorização do Governo, é um direito consagrado na
Constituição, e o Governo diz que respeita a Constituição, então tem de
respeitar este principio básico de liberdade de expressão que grupos também têm
de se manifestarem. Então, quando vemos a atitude do Governo em relação aos desmobilizados
vemos a característica do Estado, que é anda de um Estado autoritário.
Nádia Issufo: Podemos dizer que a repressão e a intimidação entraram em Moçambique pelas mãos das autoridades?
JP: Essa é a tradição histórica deste país. O que
os moçambicanos vivem hoje não é nada mais nada menos do que um Forte do Zimbábue??
Praticamente torna-se mais visível hoje porque é debatido na televisão e é mais
reportado nas mídias sociais. Mas essa história de intimidação, marginalização
e controle é uma história que começa no período pré-colonial , colonial, pós-colonial,
mesmo com a entrada do sistema multipartidário a liberdade de expressão não é
um bem público adquirido, ele tem de ser conquistado até as últimas conseqüências.
A entrevista pode ser ouvida em: http://www.dw.de/greves-em-moçambique-um-sinal-de-mudança/a-16651640
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